Capítulo 5

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Finalmente o final de semana chega. Sem escola e sem nada pra fazer, exceto, é claro, ir à casa do garoto que aparentemente estou começando a gostar ou já gosto, ainda não sei direito. Nem acredito que vou mesmo na casa do Noah, mas sei que não posso me animar nem nada do tipo porque primeiro: ele é hétero, segundo: de qualquer forma, eu provavelmente vou embora daqui algum tempo por causa do meu pai, assim não adiantaria em nada começar uma relação agora com ele.

Então, é por isso que eu decidi comigo mesmo que caso, repito, caso, o que significa, muito improvável, impossível, inesperado, utópico, difícil, irrealizável, aconteça algo entre nós dois, que acabe por nos levar a um clima mais romântico, eu vou me afastar e deixar bem claro a minha intenção de não querer ter nada desse tipo no momento e até quem sabe dizer toda aquela baboseira e clichê de: o problema não é você, sou eu. Porque dessa forma é melhor para nós dois, não é?

Bom, pelo menos eu acho que sim.

Assim, com essa decisão tomada, começo meu sábado. Levanto, vou ao banheiro, tomo um banho para relaxar, tentando não pensar em nada, escovo os dentes e arrumo meu cabelo, ao menos tento, né. Em meu reflexo no espelho, observo os machucados no meu rosto, o corte já quase se cicatrizou por completo e o hematoma já está bem fraco, nem dá mais para perceber que em algum dia meu pai me bateu.

Falando no velho, minha relação com ele continuou a mesma desde aquele dia. Ele me bate, eu cuido dos meus machucados e da bagunça, que geralmente é criada depois dele me surrar, e no dia seguinte continuamos a conviver como se nada tivesse acontecido. Bom, mais pela parte dele pra ser honesto, porque sério eu o odeio cada dia mais pela forma que ele me trata, mas o que posso fazer né, ele é meu pai.

Terminando de verificar os machucados, dou uma rápida olhada nos cortes em meus pulsos e, como nas outras vezes, eles já estão sarando rapidamente. Não fico muito tempo neles, não quero que minha mente volte nas lembranças. Então, sigo meus afazeres, saio do banheiro me dirigindo ao armário e pego uma blusa verde de manga cumprida, uma calça jeans azul e o meu all star de sempre.

Desço as escadas, vendo surpreendentemente meu pai já acordado na cozinha tomando uma cerveja, o mesmo bêbado de sempre, reviro os olhos. Geralmente, ele não acorda tão cedo nos fins de semana e se acorda, ele logo sai para algum lugar. Vou até a geladeira e pego o suco que fiz há um tempo, encho um copo e pego-o, me virando em direção ao meu pai, já sentado na cadeira de frente para mim, e encostando-me na bancada do cômodo.

- À tarde vou sair, ok? – aviso, meio que pedindo permissão, meio que não, afinal não é como se ele fosse me impedir de sair, pelo menos ele nunca fez isso, tirando quando estava bravo, porque aí sim eu viro um prisioneiro.

- Vai fazer o que? – ele pergunta em resposta com cara de desinteressado, reviro os olhos, sério que mesmo sem nenhum interesse nisso ele vai manter a conversa.

- Vou na casa de um colega da sala fazer um trabalho em dupla – respondo.

- Vai voltar tarde? – surpreendentemente Ron me pergunta, até parece um pai de verdade genuinamente preocupado, mas sei que isso não tem nada a ver comigo, ele deve estar pensando na janta dele que eu que tenho que fazer ou qualquer coisa assim – É melhor que não, garoto, porque quando voltar a noite espero um prato cheio e pronto na mesa, ouviu?

Bingo. Eu sabia, como sempre preocupado com o próprio umbigo. Reviro os olhos em resposta, o que não é uma das minhas decisões mais inteligentes já que, logo que acabo o movimento, ele levanta rapidamente da cadeira e começa a falar apontando o dedo para mim:

- E é melhor você não revirar seus olhos para mim, moleque, entendeu?

Fico em silêncio já começando a ficar tenso, Ron às vezes tem acessos de raiva por simples ações minhas que em sua concepção o desrespeitam.

Um Fio de Esperança • NoshOnde histórias criam vida. Descubra agora