Um Fio de Esperança • Nosh

Capítulo 10

Se a semana começa domingo, então por que chamamos esse dia, juntamente com sábado, de final de semana?

Por que as pessoas apertam o controle remoto com mais força quando a pilha está fraca?

Porque lojas abertas 24 horas possuem fechadura?

Para que serve o bolso de um pijama?

Essas e mais outras são perguntas que ninguém para pra pensar, afinal o que adiantaria saber a resposta? Não mudaria nada sabê-la, as pessoas não parariam de fazer e pensar desse modo, independente dela. Domingo continuaria sendo final de semana, as pessoas continuariam apertando mais forte o controle quando a pilha desse ficasse fraca, as lojas continuariam a possuir fechaduras e os pijamas não perderiam seus bolsos.

Entretanto, por outro lado, há questões que podem, sim, ser feitas e investigadas que irão chegar a uma resposta que irá mudar o modo de pensar e agir do ser humano. A maioria delas, senão todas, alcançadas pela ciência. Porém, ainda há várias perguntas por aí que nem esta área do conhecimento foi capaz de explicar. Você pode chamar de milagre se quiser, especialmente se for algo bom, ou pode chamar de um evento sobrenatural – possessão, fantasma, demônio, diabo – se for algo ruim.

Não acho que minha situação se encaixa em alguma dessas opções, apesar de ainda não existir uma real resposta para minha pergunta: por que as pessoas ficam tão obcecadas e dependentes de substâncias, se sabem, pois nunca há falta de aviso, que se continuarem da mesma forma apenas acabarão se prejudicando e prejudicando as pessoas que estão a sua volta, em especial as que amam?

Podem até já existir pesquisas e algumas respostas para isso em algum canto da internet que tanto amamos, mas ainda assim não consigo entender, ainda assim não está definitivamente explicado.

Essa ideia de que as pessoas, uma boa parte delas de bom coração que pode ter sido manipulada, influenciada ou ter apanhado muito da vida, se viciam em algo a ponto de depender disso e por causa desse algo começam a se perder em si mesmas, não sendo mais elas de verdade, não entra na minha cabeça. Assim como nunca entrou a ideia, ou melhor, o fato de que meu pai, que antes era um homem bom, carinhoso e que apenas queria proteger seu filho e sua esposa, se tornou esse homem ranzinza, zangado, preconceituoso, abusador e frio.

Sei que essa mudança não foi só por causa do álcool que ele é viciado, mas tenho a consciência que isso ajudou muito. Afinal, a maioria das vezes que ele me bateu, ele estava bêbado e sei que quanto mais ele bebe em uma noite, mais apanho.

Como na noite anterior, na qual Ron chegou bêbado e estava irado comigo por eu não estar em casa quando isso aconteceu. Olha que nem era tão tarde, havia acabado de escurecer quando cheguei e sabia que ele nem poderia reclamar em relação a comida, pois antes de sair já havia preparado seu jantar e deixado na geladeira, tudo o que ele precisava fazer era esquentar, algo não muito difícil convenhamos.

Então, imagina a minha surpresa ao ele começar a gritar comigo por estar saindo muito e chegando só ao anoitecer. Primeiro, me surpreende ele ter notado isso. Segundo, me surpreende ele ter ligado para isso. Assim, eu acabei com um corte no lábio e uns dois roxos no tronco. Pelo menos a pior parte foi em um lugar que consigo esconder facilmente com as roupas até sumir ou aparecerem outros.

Suspiro olhando para o teto do meu quarto, preguiça é o que me defini agora e sempre. Como puderam perceber, nunca quero levantar da cama, não importa que horas sejam. Por isso, decido ficar mais um pouco aqui até que não dê mais para permanecer sem que me atrase para chegar na casa de Noah.

Pois é, hoje é domingo. Hoje, eu e Noah vamos nos encontrar em sua casa para terminar o trabalho de biologia. Confesso que estou com um pouco de medo do que vai acontecer lá, porque sei que o moreno não vai nem ferrando só focar na pesquisa. E como eu sei? Simples, pelos nossos encontros.