Desde aquele dia no banheiro em que eu pedi a Noah que ele esquecesse o que aconteceu em sua casa, as coisas têm se acalmado eu diria.
Em casa, felizmente tenho conseguido manter as coisas em ordem e obedecer a tudo o que meu pai me manda. É claro que isso não significa que em nenhum momento ele não me bateu ou gritou comigo, porque sim aconteceu. Porém, nenhuma surra maior ou pior ocorreu, então consigo lidar com o resto.
Krystian e Any continuam sendo meus amigos. Um recorde pra mim que nunca tive amigos por mais de uma semana no máximo. Todos os dias passamos os intervalos juntos e depois da aula geralmente saímos para algum lugar. A dupla dinâmica também começou a se acalmar em relação ao Noah, não me enchendo de perguntas toda hora e em todo lugar.
Falando no Noah... As coisas estão estranhas ou, pelo menos, estavam. Depois daquele dia, ainda demorou mais alguns para voltarmos a nos encontrar. E quando finalmente fizemos, o clima estava estranho. Nós dois basicamente apenas nos encontrávamos, nos beijávamos e saíamos, o que com certeza não estava me fazendo bem.
Mas, felizmente, com o tempo, Noah parece ter esquecido daquele episódio e seguido o bonde, então esses encontros começaram a voltar a serem como eram antes. Fico feliz por isso, porque não sei quanto mais eu iria aguentar.
Como já admiti para mim mesmo algum tempo atrás, estou gostando bastante do moreno, mas sei que, apesar de não termos conversado de novo sobre isso, ele não quer nada mais sério ou público comigo. Então, a única possibilidade para mim de tê-lo de alguma forma são esses encontros, os quais estavam péssimos, mas melhoraram.
Agora, estou num parque de diversões com Krys. Toda a cidade está aqui, parece que é alguma celebração ou festival deles ou algo assim, não que eu me importe muito sinceramente.
- Vem, loirinho! – ouço o moreno me chamar para entrar na fila. Ele quer ir à montanha-russa, porém estou me cagando de medo. Nunca fui em uma montanha-russa antes e não tenho muita certeza se vai ser agora que vou.
- Não sei, cara. Acho que eu passo – digo tentando demonstrar o tamanho medo que estou.
- Ah não! Sério que você vai amarelar? – Krys me pergunta parecendo incrédulo.
- Óbvio que não, Krys. Eu só... só... – ele espera que eu termine enquanto tento pensar em uma desculpa boa o suficiente para não ele não achar que eu amarelei, sendo que isso é a mais pura verdade – Eu acabei de comer, entendeu? – mentira, eu não como nada desde de manhã – Então se eu for agora, vou passar mal.
- Comer? Você comeu quando? – Ele me pergunta com uma careta na cara, provavelmente tentando lembrar.
- Quando eu comi? É... – tento pensar rápido, droga, porque tenho que ser tão ruim em mentir – Eu comi quando você tava naquele brinquedo de só uma pessoa aí eu fui antes e você foi depois, então, enquanto eu tava te esperando, resolvi comprar um doce.
Invento essa desculpa horrível, mas tudo bem. Contanto que ele acredite, tudo bem para mim. Pelo menos eu falei uma situação verdadeira, então, além de ele lembrar disso, a maior parte do que eu disse é verdade, não apitando o sensor de mentiras dele.
- Sério? Você comeu por livre e espontânea vontade um doce? – Krystian indaga ainda desconfiado.
Nesse meio tempo que viramos amigos, tanto ele quanto Any perceberam que tenho problemas na questão de comida. Já tentaram me ajudar e falar comigo sobre isso, mas sempre desvio do assunto ou digo que estou bem. Por isso, já desistiram, apesar de ainda às vezes me darem uma bronca ou me incentivarem – obrigarem – a comer alguma coisa no intervalo.
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Um Fio de Esperança • Nosh
Fiksi PenggemarJosh é um garoto com uma vida complicada desde a morte de sua mãe. Por causa do trabalho de seu pai, os dois vivem mudando de cidade, impossibilitando que o adolescente estabeleça e mantenha qualquer relação. Entretanto, esse é um dos menores proble...