022 | A garota à prova de lerdeza

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- Do jeito que você me contou, parece até que está apaixonada por esse menino. - Uma menina que eu nunca vi na vida comentou enquanto beliscava uma torta de morango.

- Não, eu não. - neguei sem pestanejar.

Foi minha intuição.

Deixando o olhar provocativo da garota a minha frente de lado, resolvi olhar em volta e constatei que eu estava em um café pequeno com paredes de madeira polida e quadros coloridos de um grupo chamado XTX.

- Pois parece. - A jovem voltou a falar e eu a ignorei.

Tomei um gole do chocolate quente que estava na minha frente e queimei a língua.

- Pouxa. - resmunguei com língua para fora.

- Aqui. - A menina me passou um guardanapo e eu limpei minha boca com ele. - Por que não o chama para sair? Talvez por ser um rapaz novo, ele possa dar um jeito em você.

- Entendi... Não, não entendi. Como assim rapaz novo? Ele é mais novo que eu?

- Você não disse que ele estuda com o seu irmão? Então ele deve ser seis anos mais novo que você.

- Seis?! - berrei. - Quantos anos eu tenho? Vinte e dois?

- Não, vinte e quatro. Você esqueceu que reprovou dois anos no colégio, é? - Ela riu.

Olha só... minha personagem tem a minha capacidade intelectual.

- Uma pena, porque se você tivesse se formado com a turma, provavelmente teria concluído seu curso mais cedo e pegado uma editora melhor.

- Que nada, menina. - Balancei a mão. - Acho que para mim não existe editora melhor. Ver aquele monte de homem de zorba fazendo poses sexys o dia todo é tudo o que uma jovem solteirona deseja para a vida.

- Sim, sim. Isso e um namorado.

Suspirei.

- Claro, um namorado. - revirei os olhos e ao fazer isso notei que um grupo de quatro rapazes entrava no café. - Socorro, é ele.

Tapei meu rosto com a toalha da mesa.

- Qual?

- O loiro. - respondi, espiando por detrás do pano.

- É bem bonito mesmo. Por que não vai lá falar com ele?

- Eu não. Vou envergonhar o menino na frente dos amiguinhos dele.

- Que nada, Miyou. - Minha amiga negou, gentil. - Você nunca envergonharia ninguém.

- Tá bem. - Larguei a toalha da mesa e me levantei.

Peguei o meu chocolate quente e fui caminhando até a mesa onde o meu parceiro romântico de fanfic e os amigos dele decidiam o que iam pedir.

- Oi J- Não consegui terminar de falar, porque esbarrei em uma garçonete.

Joguei o copo para cima e caí no chão. Assisti o líquido ser derramado em câmera lenta na cabeça do loiro até que o copo caiu perfeitamente nele como se fosse um chapéu.

Isso nunca aconteceria na vida real!

Me levantei em um pulo e vi os outros rapazes gargalharem do menino tímido.

- Ai desculpa, menino. - falei tirando o copo da cabeça dele.

Ele se levantou fazendo bico e me olhou. Vi o exato momento em que seu rosto perfeito assumiu uma expressão de puro horror ao me reconhecer.

Eu pisquei uma vez e tudo que vi em seguida foi um rastro de fumaça, deixado pelo loiro que estava fugindo de mim.

- Paga a minha conta, amiga! - berrei antes de ir atrás dele.

- Que?! - A menina de quem eu não sabia o nome berrou de volta. - Mas você disse que ia pagar hoje! Eu não trouxe dinheiro!

Corri café afora em uma perseguição ao meu futuro namorado.

- Senhor! Senhor! Onde você está indo?! - berrei.

- Por favor, pare de me seguir! - Ele gritou de volta.

- Você pode ter pernas longas, mas eu tenho um histórico de atleta e por isso te alcançarei.

Usei a habilidade "histórico de atleta" e com ela ativei as turbinas nos meus tênis, que me impulsionaram para cima do garoto.

- Te peguei, John.

- Socorro... - Ele sussurrou e depois desmaiou.

- Ah não! Nessa fic também não!

. . .

Saí apressada pelas calçadas, levando o corpo do loiro em um carrinho de mão.

- Meu Deus! O que você fez, Miyou? - Jisung perguntou assim que cheguei na frente do apartamento.

- Nada. Eu sou inocente.

- Coitado. Você é uma sem coração mesmo.

- Para de falar mal de mim e me ajuda a levar ele para dentro.

- Tá bom. - Ele se aproximou do corpo desmaiado do menino. - Mas onde você conseguiu esse carrinho de mão?

- Não sei. - falei a verdade. - Eu só apareci aqui carregando ele nele.

- Ah entendi.

Entendeu? Eu heim.

Carregamos o corpo para o elevador e subimos até o nosso andar.

Me segurei para não cantar Fever porque seria errado com Jisung, meu irmão, presente no local.

Entramos no apartamento e eu me lembrei do carrinho de mão parado na calçada.

Ah deixa, com certeza ele vai sumir do roteiro.

O sr. Han apareceu na entrada do apartamento e ficou nos encarando.

- Eu não aguento mais! - reclamou. - Todo dia vocês dois aprontam uma nova! Vou degradar os dois!

Depois de dizer isso ele saiu de casa. Nós largamos o corpo no sofá da sala e Jisung começou a sacudir ele.

- Acorda, Jin.

Tinha esquecido que era Jin.

- Anda! Acorda Seokjin!

É Jin Seokjin?

- Não me deixa na mão, Kim!

Mas que nome grande... Kim Jin Seokjohn.

Não, Miyou! Não é isso!

O correto é Jin Kim Seokjohn.

- Ele não acorda. Geralmente é bem rápido.

- Ele desmaia tanto assim é? - perguntei.

- Sim.

- Por que?!

- Acho que fica nervoso com garotas. - Jisung olhou para o amigo com pena.

- Nossa, até parece que nunca viu uma ppk.

O Han me olhou e eu levantei uma sobrancelha.

- O que foi? Vai me dizer que ele não sabe o que é uma ppk?

- Você pode parar de falar de ppks comigo? É meio estranho.

- Vamos falar de jirombas então.

- Miyou!

Ri da indignação dele e encarei Jin.

- Acho que ele está acordando. - avisei, me aproximando do sofá.

O Kim apertou levemente seus belos olhos antes de abri-los. Nos encaramos por dois segundos e aí ele revirou os olhos e apagou de novo.

- Você assustou ele com a sua cara. - Jisung reclamou.

- Agora sim. - admiti. - Não tenho como negar dessa vez.

a GAROTA à prova de ClichêsOnde histórias criam vida. Descubra agora