Capítulo 49 - A Forma da Água

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ALUADOS
Lua de Prata

Parte XXXXIX

|A Forma da Água|
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Anya abriu os olhos lentamente. Sua vista foi preenchida por uma sensação gélida porém confortável. A luminosidade era estranha, deixava a visão turva. Um esverdeado predominante no ambiente vinha de toda parte e ao mesmo tempo de lugar nenhum. O cheiro era inexistente, como se de fato não respirasse mais. O ar não era mais necessário. Seu corpo parecia suspenso, mas não tinha cordas nem nada lhe prendendo, os pés não tocavam o chão. Se é que havia chão ali. Ou céu. Ou a existência de qualquer coisa. Então isso era morrer?

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Milla Dixon estava sentado no chão de cascalhos na beira do lago negro. Seu olhar mirava distante no horizonte. O vento inconstante mudava de direção e curvava a superfície do lago com sutileza. Os olhos da garota se perdiam na forma da agua. Uma neblina fraca se formava por conta do clima matinal. Fazia Milla se lembrar da maldita fumaça que cobria o rosto daquela mulher a quem os Morgues se dirigiam como Madame.

Apertou os punhos cravando as unhas na palma da mão. Alguns cascalhos próximos a ela ficaram suspensos, ela então os fez cortar o ar com velocidade e os arremessou distantes até cravarem na superfície espelhada do lago e se afundarem.

- É estranho não é? Uma superfície tão delicada. E suas profundezas tão traiçoeiras. – Zacky havia surgido dentre as arvores mais próximas, estava a poucos passos dela. – Mas não é o lago o culpado afinal. Nós sabemos exatamente quem são os responsáveis pela morte de Anya, certo Milla? Sabemos quem merecem ser punidos.

- Parece que alguém virou a noite acordado... – Milla encarava o amigo do chão. Zacky tinha profundas olheiras, mais destacadas do que nunca em seu rosto pálido.

- Talvez eu precise repor meu estoque de poção revigorante.

- Pelo menos sinto que não sou a única que parece realmente sentir pelo que aconteceu. Todos os outros estão muito ocupados para isso. – Milla tornou a olhar para o lago.

- Não os culpe por isso. – Zacky se sentou a poucos metros ao lado da amiga. – Cada um de nós tem uma forma diferente de viver o luto...
 
- Desde quando você passou a ser compreensivo com qualquer coisa?

- Desde quando perdi uma das melhores pessoas que já conheci, sem ao menos ter dito a ela o quanto a amizade dela era importante pra mim. – A seriedade da voz de Zacky fraquejava na rouquidão engasgada. Tal o como nó em sua garganta quando engoliu em seco e tornou a falar. – Não posso deixar isso acontecer de novo... Perder mais um de vocês.

Quando Zacky ergueu o rosto para a amiga, seus olhos estavam marejados. Milla lhe estendeu a mão e ele se aproximou em um abraço acolhedor.

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A gravidade estava agindo diferente sob seu corpo. Os cabelos da metamorfa já não estavam mais o costumeiro azul escarlate de que ela tanto gostava. Seus fios mais longos dançavam, às vezes passando por sua vista e então Anya conseguia ver aquele cinza brilhante, platinado. Seu pensamento era vago e inconsistente. Como se nem existisse mais. Então assim era morrer?

Aluados - Lua de PrataOnde histórias criam vida. Descubra agora