Prelúdio

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ALUADOS
Lua de Prata

Prelúdio

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|1998|

O clima estava anormalmente frio naquela noite de primavera, trazia um ar de terror pela imensidão da propriedade. Os raios rasgavam o céu negro, ventos sopravam forte agitando e rangendo uma janela propositalmente esquecida aberta em um dos quartos do segundo andar. Imperceptível se vista de longe, em uma casa tão grande. Foi por onde ela entrou. Esguia e sorrateiramente, passos estreitos e calculados, já sabia o caminho.

Havia planejado tudo ao longo do dia, e antes mesmo disso. Quando ela se candidatou a vaga de nova governanta, após a anterior misteriosamente desaparecer na calada da noite em uma viela escura próxima dali. Ou quando ela sorriu o sorriso mais largo e demorado quanto era possível, ao acenar ao lado de uma esposa que se despedia saudosa do marido se afastando em direção aos portões tão distantes pelos vastos jardins.

Um pai sorridente de olhos molhados e a pequena mala nas mãos, ele voltou repetidas vezes durante aquele por do sol ate a soleira da porta para beijar sua esposa nos lábios, e na testa de cada um dos bebês. Um deles se agitava e esbravejava nos braços da mãe, enquanto que o outro, mal os olhos abriram de seu sono profundo, no colo da nova empregada. Foi naquele momento que ela decidiu qual deles levaria mais tarde naquela noite.

O rapaz vislumbrou a casa, por alguns instantes relembrou da infância quando corria pelos jardins, avistou por cima do telhado torto do casebre afastado por onde levantou seu primeiro voo de vassoura, logo mais a frente em uma parte elevada dos terrenos, o velho carvalho onde no seu ultimo ano de escola havia tirado lascas pra escrever seu nome e de sua amada pouco antes de se ajoelhar e lhe pedir a mão. O mesmo carvalho que há uns anos atrás ele se sentou sozinho pra chorar a morte de seus pais, levados pela última guerra.

Admirou a bela esposa e os filhos que ali deixava. Uma sombra de medo lhe passou pelos olhos. Como todas as vezes em que era chamado. Mas ele no fundo sabia que desta vez, os tempos realmente haviam mudado. Já fora dos enormes portões de ferro onde os encantamentos não mais lhe impediam. Ele segurou com firmeza sua varinha na mão direita. Em um ultimo aceno, Aparatou.

A noite chegou com nuvens escuras e carregadas. A nova governanta era eficiente, preparou o jantar, tratou de ajudar a arrumar os bebês em seus berços, e assistiu a jovem mãe lhes abençoar com um doce beijo de boa noite na testa. Era um olhar de esposa preocupada, de mãe exausta, que ela carregava. Eficiente e prestativa com sua patroa a novata tratou logo então de lhe preparar um chá, talvez com uma dose extra de poção do sono, e se encarregou de fechar todas as janelas e portas como foi ordenada, antes de se retirar para o casebre a uma pequena distancia ali nos terrenos, onde ficavam os seus aposentos e também do velho guarda-caça da propriedade.

Ele vivia e trabalhava ali desde sempre, era um trabalho herdado desde os tempos de seus avós, que depois passou para seus pais que continuaram a servir então os pais do jovem e atual herdeiro e proprietário, o qual vivia ali na grande casa com a esposa e dois filhos. Não era muito habilidoso com a magia, mas se provava um exímio caçador.

Sempre sozinho pela vida, ao que parece a historia de sua família terminaria com ele e sem herdeiros, os cabelos brancos lhe surgiram sem perceber. Era facilmente encontrado nas suas folgas em um pequeno bar ali das redondezas soluçante pela bebida, nunca foi de criar confusão, o seu problema era que o álcool lhe fazia falar demais, carente de conversas, e tão cheio de histórias passadas por gerações, velhas lendas contadas por seus avós e segredos de uma família que serviam há tanto tempo.

Aluados - Lua de PrataOnde histórias criam vida. Descubra agora