O frio na barriga de entrar no palco, acaba sempre sendo um problema, não importa quantos anos de espetáculo você tenha, no final isso sempre te atinge uma certa forma. Entretanto imagine você, prestes a entrar no palco, com o medo e a vontade, com vários sentimentos, porém um deles é gritante: a angústia. A angústiade quem recebeu uma notícia nem um pouco boa e agora só consegue pensar nisso...
Se apresentar como artista significa mais do que cumprir seu papel; significa se desligar de sua vida e focar naquilo que se propôs. Logo, Daniel não mostraria seu descontentamento com seu dia naquele momento. Ele só parecia estar mais preguiçoso. Se olhasse para ele durante jogos como "frases" e "título no meio", perceberia que ele parecia teimar em participar o mínimo possível e se contentava em ficar somente assistindo de longe.
De fato Daniel estava cabisbaixo, sua personalidade naquele dia parecia combinar com sua blusa – azul.
Finalizado o espetáculo, após os breves agradecimentos, todos foram para o camarim, e lá puderam finalmente perceber algo de errado. O rosto do mais velho se desmanchou em uma careta pensativa e melancólica. Os outros amigos pensaram em perguntar, mas o silêncio pesado de Daniel chegava a ser assustador.
Anderson cochichava com Andrei, Pimenta fingia não estar desconfortável com o quase silêncio, Elídio ficava alternando em olhar para o amuado rosto do amigo e o chão. Pra melhorar a situação, eles mal conseguiam manter uma distância decente um do outro no pequeno camarim.
E por incrível que pareça, assim continuaram, até terem que se mexer e ir para a sessão de fotos. Lá somente os quatro sabiam sobre o possível estado do de óculos, diferente dos fãs que riam e tiravam fotos divertidas.
E talvez ignorância fosse realmente uma benção pois, se os fãs não conseguiam perceber o tique nervoso de mexer nas cutículas e nos suspiros de Daniel, os outros dois de barbicha junto aos convidados da noite percebiam e aquilo batia em suas entranhas como a culpa de não conseguir encarar o amigo e perguntar "você está bem?"
Finalmente a hora de ir embora, todos os cinco estavam prestes a sair do teatro. Na parte de fora do Tuca a noite não parecia entregar um frio cortante, mas sim um clima abafado de uma noite de calor e um frescor de uma leve brisa. Brisa essa que não causaria frio algum para ninguém. Bem, exceto para Daniel que estava bem agasalhado e chegava ser engraçado naquela situação – realmente tinha algo de estranho.
O convidado e o mestre de cerimônia da noite foram os primeiros a saírem – se o momento acabar e for esquecido, é como se nada tivesse acontecido, certo? Mas isso ainda não tinha acabado, ainda dava tempo de fazer algo, então num movimento quase brusco, Elídio engancha o braço no de Anderson, o puxando pro lado de Daniel que andava calmamente em direção a grande porta de vidro fumê. A verdade é que, para alguém que aparentava ter tanta atitude, Lico nem sabia o que ia falar – muito menos o mais alto. Eles ficaram em silêncio por alguns segundos, somente perseguindo o amigo que já quase saia do teatro. Daniel, que ainda não tinha visto os amigos, olhou para trás como uma despedida silenciosa ao lugar e se deparou duas figuras conhecidas logo atrás dele. Os dois mais altos param mais ou menos com meio metro de distância do amigo e olharam um para o outro – um desordenado e o outro com vergonha – e depois voltaram a olhar para Daniel.
Como nenhum dos dois conseguiu iniciar um diálogo, foi o próprio que teve de tomar uma iniciativa:
– Querem algo? – Questionou enquanto arrumava os cabelos bagunçados.
– Nós... – Anderson começou, porém, ao lembrar que quem havia metido ele naquela situação era Elídio, cutucou o outro como forma de protesto, que logo continuou:
– O que o nosso amigo que dizer... – apontou para o mais alto. Seu tom era obviamente irritado com a atitude do outro, mas ele sabia que não podia reclamar, afinal foi ele que puxou Andy pra isso – ...é que você não parecia muito bem no camarim hoje. Aconteceu algo? – Ao perceber que sua resposta foi o silêncio, o mais novo continuou – Nós estávamos preocupados porém não tivemos coragem de perguntar nada, pra... não sei. Talvez não queríamos mexer na ferida, mas por favor responda a minha pergunta...
O questionado suspirou, baixou os olhos pros all star azuis e voltou a olhar para Elídio como se pensasse em uma resposta para aquela situação:
– Eu na verdade estou só muito cansado.
– Sério? – Anderson perguntou normalmente, mas mentalmente duvidava da resposta.
– Sim – Respondeu desviando o olhar o amplo local. Limpou a garganta e continuou – Bora fazer um churrasco lá em casa? Nesse final de semana.
Agora os dois amigos pareciam incrédulos e meio envergonhados. O cara que parecia estar mal estava agora chamando-os para um churrasco? Isso parecia uma grande virada de jogo.
– É – o mais novo coçou a nuca dando um sorriso franco –, pode ser...
– Não vejo porque não – Completou Anderson.
Daniel puxa a porta de vidro e joga:
– Ótimo – Olhou para os dois enquanto sorria francamente – Então está combinado.
Elídio acenou, ele e Anderson ficaram parados vendo o carro de Dani sumir de suas vistas. Eles se entreolharam e resolveram fazer o mesmo: ir embora – porra, esse era o objetivo todo esse tempo!
Foram andando lado a lado, porém antes de se separarem e irem para seus respectivos carros resolveram comentar sobre a situação.
– Será que ele está bem mesmo? – Começou o mais alto
– Acho que sim, e se não estiver, – o tom de voz do outro parecia convencido do que ia falar (ou melhor: afirmar) – deve ser algo não relevante.
– Se você diz...
Era isso. A conclusão da noite era que Daniel Nascimento não tinha nenhum problema realmente grande que necessitava de muitos abraços e copos de cerveja para ser superado. Ele deveria estar bem, os dois outros Barbixas já não estavam mais preocupados com o amigo – mas, sabemos que a mentira reconfortante é mais cabível que a dor verdade.
[...]
Ao chegar em casa, Daniel só queria ir para cama e dormir, dormir e nunca mais acordar. Ou de fato acordar, acordar e perceber que era um sonho.
Ele encarou o envelope em cima da mesa e chacoalhou a cabeça desviando o olhar – pare de pensar nisso. Não o abra agora.
Ele tinha um grande problema – ou dilema – naquele momento: abrir aquele envelope, ler o que está escrito e encarar a realidade ou fingir "que nada aconteceu". Se bem que... talvez dois? Um churrasco no final de semana? Merda.
Notas do autor:
Capítulos novos: segundas ou quartas.
Talvez eu seja surtada. Lide com isso.
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❛𝐬𝐚𝐧𝐠𝐮𝐞 𝐟𝐫𝐢𝐨 _ 𝐝𝐚𝐧𝐢𝐝𝐢𝐨❜
General Fiction« Mas todos temos que enfrentar os problemas alguma hora - ou dormir pra sempre, quem sabe. » ❆ O frio. O sangue. A mente. Amor é como uma doença e, nesse caso, o doe...