O Projeto Wattpad's Bakery - Prática de escrita criativa

Desafio das palavras proibidas

Olááá, como vão? O desafio de hoje consiste em escrever um texto comum, de tema livre, porém com algumas palavras bloqueadas 🚫

Lista das palavras proibidas:

🚫 Os pronomes ele/ela, eles/elas
🚫 O verbo andar
🚫 Maçã
🚫 Quarto
🚫 Celular
🚫 Feliz
🚫 Triste
🚫 O verbo comer
🚫 Calor
🚫 Higiene
🚫 O verbo sentir
🚫 Tênis

E então vamos lá!

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Sorvetes 🍨 – 🏅SuelenForbes🏆

Conchas

Olhei para a água do mar molhando meus pés, aquelas ondas
que iam e vinham, apreciei o vento no meu rosto, suspirei fundo
e sentei na areia, a nostalgia daquele momento me fazia ter
vontade de chorar e rir ao mesmo tempo, lembranças da minha
infância pipocavam na minha cabeça, lembranças vividas ali
naquela praia.
**
-Papa, uma concha!- exclamei, com um sorriso enorme no rosto.
-Outra meu amor?- papai falou retribuindo meu sorriso. -Você já
pegou umas dez.
-Esta é diferente, olha.- aproximei a concha do seu rosto. -Tem
algo de especial nela.- papai soltou uma gargalhada.
- Você sempre fala isso. Deixe a aí, já está tarde, temos que voltar.
**
Toquei o colar no meu pescoço, uma pequena concha pendurada no fio, papai fazia um para cada vez que vínhamos aqui, todo ano, tenho 6, esse ano estou aqui sozinha, papai se foi à três meses, o câncer o levou.
Não queria fazer esta viagem, não até uma semana atrás quando descobri através de uma carta que papai já tinha deixado tudo pago, não para duas pessoas, somente para mim. Era seu último desejo, e aqui estava eu. Cumprindo-o, por mim e por ele, estiquei meu braço e peguei uma concha que estava aos meus pés.
***
Querida Ma, quando você ler esta carta provavelmente terei
partido ou estarei incapacitado, qualquer uma das duas hipóteses quero que você vá à praia, que se divirta e junte quinhentas conchas exatamente iguais, mas que sempre são diferentes pra vc, quero que lave os seus pés água e aproveite o vento balançar os seus cabelos, quero que você dê todos aqueles sorrisos brilhantes que competem com os raios do sol, exatamente como fazemos todos os anos. Aproveite por mim, Ma, por nós, você foi o amor da minha vida desde o dia em que
nasceu e vai ser até o meu último suspiro. Aproveite a vida
minha menina. Eu a aproveitei bem.
Te amo minha pequena mulher.
- Papa.

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Pudins 🍮 – 🏅DChristinne🏆

Reflexo

O vapor tomava conta do ambiente, eu podia ter a sensação de quentura deixando meu corpo ao mesmo
tempo que tentava entrar, ouvi meu respirar exausto antes de deixar que meu pé direito fosse a primeira parte de mim a sair do box, o piso abaixo de mim se encharcava a cada passo que eu dava e a neblina tampava a visão de mim mesma refletida no espelho, em um gesto automático passei a mão limpando o embaçado que a água
quente causou e suspirei mais uma vez.
Algo estava diferente, aquela era a minha imagem, mas não era, ou era, quer dizer... eu reconhecia aquela mulher refletida, mas eu não reconhecia quem a refletia.
Abaixei a cabeça sentindo o ardor pós banho, apoiei minhas mãos sobre a pia antes de ligar a torneira e
passar a água gelada no rosto esperando mais do que refrescar, me despertar dessa sensação de estranheza dentro de mim, voltei meu olhar ao espelho e a encarei, nos olhos, pude ver, pude lembrar do que os tornaram tão vazios, as coisas que perdeu, as humilhações que passou, os momentos que ignorou, tudo pelo que lutou para conquistar e no final nem podia dizer que era contente pelas conquistas.
Eu olhei ao redor do banheiro tão espaçoso, a banheira mais cara que tinha na loja, a pia do mármore
mais caro, a torneira..., mais um suspiro, desta vez descrente, toda a casa era cara, era isso o que queria... não, era isso o que a mulher refletida queria, luxo ou conforto, seja lá como as pessoas gostem de chamar, não era uma casa, era um monte de tijolo e gesso empilhado formando uma arquitetura muito bonita e vazia, assim como os olhos a minha frente.
Eu deixei que as lágrimas caíssem sobre a pia se misturando a água da torneira e senti minhas pernas
fraquejarem quando o primeiro soluço choroso pode ser ouvido, o tempo passou e sem saber como, estava sentada no chão com minhas lágrimas já escassas e por isso respirei fundo e me ergui, olhei mais uma vez para aquele reflexo de uma imagem vazia, limpei meu rosto, fiz um coque no meu cabelo molhado e sai do banheiro ignorando tudo a minha volta, colocando qualquer coisa do closet, pegando a mala que comprei quando pude fazer minha primeira viagem internacional, ela fazia par com a mala da melhor companheira de viagem que alguém pode ter, minha melhor amiga, peguei meu suéter horroroso bege, a única coisa que por muito tempo eu tive para me aquecer nas noite frias na faculdade e a poucos passos para o próximo cômodo eu voltei e peguei
todas aquelas pedras caras que ele usou para comprar minha autoanulação e então segui quebrando toda e qualquer foto daquela vida vazia e fria demais para ter se quer um sentimento de melancolia.
Já pronta para sair eu peguei a chave do carro e por alguns segundos eu as encarei antes de devolve-las ao pote na mesinha ao lado da porta, sai olhando para o belo carro, a enorme casa, a boa vizinhança e concordei
com a cabeça, ele pode ficar com tudo isso, nada nunca foi meu, nem mesmo essa vida conquistada era minha.
Eu sorri olhando para meu reflexo no vidro da janela da casa, eu não conheço a mulher que a reflete,
mas sei que em poucos meses ela foi muito mais do que em longos anos o reflexo foi.