Capítulo II

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    Keith levou aquela versão pequenina de Lance até a cozinha do castelo. O garoto estava encantado com tudo, todos os cantos tinha algo que lhe chamava atenção.

P.O.V Keith

    Ele até que é fofo fazendo isso de se encantar com tudo, mas eu espero que achem logo como reverter essa merda.

    — Ei Lance, me diga: o que você gosta de comer?

    — Eu gosto de sorvete, biscoitos, bolo com sorvete — ele contava os dedos enquanto dizia e eu tive que aceitar que isso era extremamente fofo.

    Nota mental: gravar essa cena para zoar com Lance de 18 anos.

    Para sorte do garotinho a minha frente, Hunk tinha feito biscoitos de chocolate essa manhã.

    — Você gosta de suco? Temos um suco azul que acho que é seu preferido. — eu não lembro do que é o suco, mas Lance sempre tomava durante as refeições.

    — Suco azul? Não tem laranja? Limão? Eu gosto de limão, tem um pé de limão no quintal de casa.

    — Não tem limão, Lance. Essa é uma fruta tropical, e bem... — como dizer isso sem assustar uma criança? — estamos um pouco longe dos trópicos.

    — Quando meus pais vão vir me buscar? — ele perguntou e logo mordeu um biscoito, acho que murmurou que estava gostoso, mas eu só conseguia pensar na pergunta dele.

    Passei anos da minha vida me perguntando quando minha mãe voltaria, se ela voltaria, eu sei que não é a mesma coisa, mas é quase. Se eu disser a Lance que eles não vão voltar ele vai se sentir abandonado, se eu disser que eles vão voltar estarei mentindo.

    — Você não se lembra, Lance? — vou tentar apelar pro orgulho Lance McClain — Você quis vir passar as férias com a gente, conhecer lugares novos, já quer desistir e voltar pra casa?

    — Hmm... — ele arregalou os olhos e tentou parecer confiante, aquilo era realmente fofo — não! Claro que eu não esqueci.

    — Que bom, pois a viagem acabou de começar.

    Ele sorriu para mim e pude perceber coisas bem intrigantes. Esses sorrisos eram verdadeiros, carregados de uma animação surreal. O Lance adolescente que eu convivo desde que saímos da Terra não sorri assim, não é como se eu reparasse, talvez só um pouquinho.

    Ei, por que eu to brigando comigo mesmo?

    Ok. Esse Lance sorri de verdade, provavelmente porque não passou metade do que sua versão quase adulta já passou. Eu gostaria de ver esse sorriso sincero no meu Lance.

    — Ei, qual seu nome mesmo? — ele me perguntou com a cara toda cheia de farelos de biscoitos.

    — Keith. — com um pano comecei a limpar seu rosto — a partir de agora tudo que precisar pode contar comigo, ok?

    — Ok, Keith. Você é muito legal. — aquele sorriso sincero novamente, sua versão adulta discorda totalmente.

    Depois de um bom tempo na cozinha seguimos pro quarto do Lance. Queria achar algo que ele goste em todas as suas versões e assim distrair sua forma pequena. Ele se encantou com alguns gibis e pelúcias, eu disse que aquele era o quarto dele e que ele podia brincar com qualquer coisa. Nunca vi olhos tão animados e apaixonados pela ideia de todas aquelas coisas serem só dele.

    — O meu quarto é o da frente, se precisar de mim estarei lá.

    — Ok. — respondeu sem dar atenção para mim, estava entretido com algo, agradeci por isso.

    Passadas algumas horas, eu estava me preparando para dormir, não costumava jantar, pegava algo rápido na cozinha e era suficiente. Ouvi batidas na porta, abri e dei de cara com um Lance miniatura, por alguns segundo esqueci o que aconteceu no início dessa tarde.

    — Aconteceu alguma coisa?

    — Posso dormir com você? — ele olhou com aquela carinha de cachorro pidão — Eu divido quarto com meus irmãos, não consigo dormir sozinho.

    — Claro, pode entrar — eu nunca tive irmão, mas percebi pela cara de aliviado que ele fez que deveria ser péssimo dormir sozinho.

    Arrumei para ele dormir no chão confortavelmente em um canto do quarto, mas tive que trazer para perto da minha cama depois que ele começou a reclamar. Lance criança reclama tanto quanto o adolescente. Ele disse que se alguém tentasse fazer mal para ele, até eu chegar onde ele estava, ele teria morrido.

    — Boa noite, Lance. — disse apagando as luzes.

    — Boa noite, Keith. — ele respondeu.

    Passados alguns minutos, ele novamente voltou a falar.

    — Posso dormir com você?

    — O que?

    — Eu estou com saudade de casa, me sentiria mais confortável se eu pudesse dormir com você e fingir que você é minha irmã. — estava escuro de mais pra ver a cara que ele fez, mas provavelmente era a de cachorrinho de novo.

    — Ok, pode subir — senti ele deitando ao meu lado e eu acho que esse é o momento mais estranho da minha vida. — Você do futuro vai querer me matar por isso.

    — O que? — ele estava tenso, respondi um nada e ele ficou mais calmo — boa noite, Keith!

    Se eu achava que estava estranho antes, piorou quando ele me deu um beijo na testa e murmurou que eu eu era um amigo muito legal. Eu não tive irmãos nem amigos quando era criança, os Paladinos são o máximo de fraternidade que eu tenho e esse com toda certeza parece um surto coletivo.

    Nunca esperei que o Lance que deixa claro que me odeia me daria um beijo de boa noite e diria que somos amigos. Lance e eu amigos? Eu estou aqui rindo da ideia, pois ela é incrivelmente absurda. Vai ser divertido passar tempo com essa versão que não me odeia, terei muitos recursos para zoar quando ele voltar ao normal.

    — Boa noite, Lance McClain.

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