EXTRA

11 2 2
                                    




Durante o período no colégio interno, Baekhyun descobriu seus piores pesadelos. Desprezo e humilhação. Com dois rapazes impedindo os movimentos dos braços, o terceiro despejava socos em direção ao estômago do frágil rapaz. E dentre as várias formas de tratamento homofóbicas que poderia receber, os socos e xingamentos estavam em último lugar. Afinal, um ataque de violência dizia muito mais sobre os agressores do que sobre ele. No entanto, a ausência de um amigo a quem pudesse confiar, a inexistência de um almoço descontraído com qualquer colega de classe, a falta de ouvir uma risada sincera gerada por uma piada sua... Esses vazios que perduravam na sua imaginação eram perturbadores. Era por ser homossexual. E ainda que nem todos fossem contra sua sexualidade, aqueles que poderiam o apoiar viviam sob a sombra covarde da adolescência, na qual a ânsia para ser descolado falava um pouco mais alto que a empatia. E como se estivesse em uma selva sendo guiado pela seleção natural, optou por uma estratégia de defesa: indiferença. Sendo assim, pôde entender que nada podia atingi-lo se estivesse blindado por um quadro impermeável. Ele apenas assistiria os tolos se gladiarem entre si na tentativa de magoá-lo, e todavia, falhavam. Por outro lado, aquele que se dispusesse a escalar a torre e alcançar o coração de Baekhyun, estava fadado a cair quando chegasse no último andar. Não que fosse impossível receber afeto do rapaz, mas seu verdadeiro eu se resguardou de tal forma que nem por decisão do dono poderia se devotar totalmente a um sentimento romântico genuíno. O fato é que, não existia alguém que pudesse amá-lo. Porque todos amam querendo ser correspondidos. E ele sabia que nunca poderia corresponder alguém, não do jeito que gostaria. Aceitou o amor superficial. E embora não fosse suficiente, era divertido ir a um clube com centenas de pessoas aleatórias carentes por instantes eufóricos. De início, foi para experimentar, conheceu uma modelo que era amiga de um colega. Um pouco mais velha, a moça tinha experiência em conduzir um jogo sexual divertido e despretensioso. E Baekhyun podia ser o quão frio que quisesse, ela não se importava. Na verdade, até descobriu que essa característica quase sempre enfeitiçava as moças. A vantagem de experimentar? Questionava sua identidade ao tempo em que ganhava créditos com o pai ausente. Para um filho que foi abandonado pela mãe, morar na mesma casa que uma madrasta e um meio-irmão causava aquela sensação de que seu pai possuía uma nova família a quem se dedicar e ser fiel. Não ser esquecido. Ser lembrado. Mentia para si dizendo que fazia o que fazia sem querer chamar a atenção do progenitor. Mentira. No cubo impermeável que construiu havia uma rachadura. E dessa forma, inconscientemente agia de acordo as vontades do pai que repugnava.

Faculdade. Casa. Confiança. O mundo era seu e ele sabia. Teve que abrir mão de uma parte de si, mas não importava. A vida já estava programada, assim como seus trabalhos acadêmicos do curso de computação. Bastava conquistar o dobro do que tinha a cada ano. Estudar. Trabalhar. Curtir a vida. Não tinha ambição em sair de casa, afinal, sua vida estava entrelaçada com a de seu pai até que ele partisse. A multinacional era o alicerce que selava todos ali. E Baekhyun estava a par disto. Dinheiro e poder. Objetivos que agora ganham mais vida, desde que é isto que o horizonte mais longe o permite. E nesse sentido, o rapaz estava confiante em conquistar. O vazio dentro de si preenchido pela indiferença dos sentimentos alheios somado ao desejo de conquistar o máximo de poder possível criou o monstro Byun. Era assim que pensava e gostava de pensar. Tolo, de monstro não tinha nada.

Seguidores. Reputação. Estética. Era divertido no início e Baekhyun reconhecia o quanto priorizava esses itens. No entanto, quando observava o jardim da grande janela de vidro da sala, um leve questionamento flechava sua mente. E se sua mãe o conhecesse? O que acharia daquele rapaz fútil e superficial? Nessas horas, seu coração ansiava por algo verdadeiro e significativo. Algo que não pudesse ser gravado em um vídeo no storie, somente vivido e sentido. Se lembrava de que não possuía esses privilégios. Portanto, cabia a ele aproveitar apenas aqueles que estava ao seu alcance, como sempre.

Renascença (chanbaek)Onde histórias criam vida. Descubra agora