❪003❫

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s i n e l

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s i n e l

     ─ Não precisava ficar chicoteando. ─ Mamãe disse ofegante, enquanto descia da égua branca.

─ Precisava sim. ─ Ele dá de ombros. ─ Okay, Sinel, sua vez. ─ Ele vai até o Sansão, e o puxa pela rédea de doma.

Olho para Flora, eu estava nervosa, com medo, aquele cavalo com certeza não é nada amigável. E se eu cair?

─ Vai. ─ Flora diz, tirando-me de meus devaneios.

Me levanto do degrau da escada onde estava sentada junto a Flora, e vou até o Miles, ele acariciava o animal e sorria para mim.

─ Acaricie-o. ─ Ele ordenou, e eu me aproximei do animal com cautela. Tento tocá-lo, mas ele relincha, esquivando a cabeça. ─ Está tudo bem, Sansão. ─ Ele murmura para o mesmo. ─ Tente novamente. ─ Respiro fundo, e fecho meus olhos enquanto levo a mão ao pescoço longo do animal, eu acariciei o local, e sorri com a minha pequena conquista. ─ Certo, agora suba nele. ─ Miles ordenou, e eu o olhei, confusa.

─ Tipo, agora? 

─ É, agora.

Coloco meu pé esquerdo no estribo, e salto na perna direita, assim me sentando na sela posicionada nas costas do animal. Agarro firme as rédeas, e olho para o Miles, a espera de algum comando dele, ou sei lá, mas o garoto apenas sorriu e chicoteou o animal que começou a andar em um solavanco, aquilo me fez perder o equilíbrio, mas eu rapidamente o recuperei.

Miles continuava chicoteando enquanto o cavalo galopava, ele era rude, chicoteava com força, e o som das chicoteadas eram extremamente alto. Aquilo me desconcentrava, principalmente por saber que o animal ainda não estava acostumado comigo.

Sansão relinchou alto, fazendo Miles dar um chicoteada violenta, eu me assustei e agarrei firmemente as rédeas.

─ Cabeça erguida, coxas contra o cavalo. ─Ele disse, assim que percebeu minha falta de foco, e chicoteou o animal. ─ Sente no centro da sela, melhora o equilíbrio. ─ Ele dá outra chicoteada, e o cavalo relincha. ─ Sente firme. Ponha o dedão sobre as rédeas e o mindinho embaixo. Não o deixe morder o freio. ─ Ele grita.

─ Não deixei.

Ele chicoteia o cavalo.

─ Puxe as rédeas, firme. ─ Ele manda e eu faço, fazendo o animal parar.

Tento conter a respiração por estar ofegante, enquanto Miles puxa o cavalo para a sua direção, pela sua rédea de doma.

─ Bom trabalho. ─ Ele diz.

─ Não tinha necessidade de maltratá-lo assim. ─ Reclamo.

─ Foi assim que o Quint me ensinou. Este animal é forte. Se você não mostrar quem manda, nunca estará no controle. ─ Ele sorrir, e eu apenas o encaro. ─ Você fica bem ai em cima.

─ Crianças, Flora está entediada. ─ Mamãe diz, fazendo-nos olhá-la.

─ O que quer fazer? ─ Miles pergunta.

─ Podemos mostrar o lago de carpas para elas?

─ Sua parte favorita do jardim. ─ Ele diz para mim. ─ Vamos lá ver. Agora deixa que eu comando. ─ Ele tira a rédea de doma do cavalo, e a joga no chão, antes de pisar no estribo.

─ O que está fazendo? ─ Pergunto.

─ Flora vai na Dalila, com a sua mãe, e você vem comigo. 

─ Não, obrigada. 

─ Está com medo, Sinel? ─ Ele abre um sorriso maquiavélico.

─ Nem um pouco, Miles.

─ Então não tem porque dizer não. Cuidado ai. ─ Ele sobe no cavalo, se sentando a minha frente, e segura as rédeas. ─ Acho bom você se segurar. ─ Ele recomenda, mas eu me recuso. ─ Pela sua segurança, mas se não quiser, eu não me importo. ─ Ele bate as rédeas, fazendo o cavalo andar, o que me deu um solavanco para trás, e isso me fez agarrar a cintura do Miles. Escuto sua risada anasalada, e reviro os olhos.

***

Miles, Flora e minha mãe observavam o lago, mamãe como sempre, muito fácil de ser encantada.

─ Que lindo! ─ Ela exclama.

Eu mantinha minhas mãos dentro dos bolsos do meu casaco, observando-os. Olho aos redores e acabo vendo algo indesejável, um corvo comendo um peixe, e o coitado ainda estava vivo.

─ Oh meu Deus! ─ Digo, horrorizada, fazendo-os olhar na mesma direção que eu.

─ Saia de cima dela! ─ Miles grita, correndo em direção a ave, e a mesma voa. Corremos atrás dele, e paramos próximo ao peixe. O estado do animal não estava nada agradável.

─ Oh, pobrezinha. ─ Flora lamenta.

Encaramos o pequeno por alguns segundos, antes do Miles pisar em sua cabeça com total força e nenhuma hesitação.

─ Miles! ─ Mamãe exclama, incrédula, porém Miles pisa mais algumas vezes na cabeça do animal. ─ O que está fazendo?

Ele olha para minha mãe e em seguida me encara.

Nada deveria ter que sofrer.

Minha mãe o olha, completamente incrédula, e horrorizada.

─ Era meu peixe favorito. ─ Flora choraminga.

─ Agora vocês já viram o lago. ─ Ele diz, inexpressivo, encarando-me, antes de ir atrás de Flora que havia saído entristecida.

Confesso que fiquei surpresa com a atitude do Miles, ele nem sequer parou quando a minha mãe chamou a sua atenção.

***

Mantinha meus olhos vidrados no corredor escuro que dá acesso a ala leste da casa, região onde Flora se recusou a me apresentar. Não faço a mínima ideia do que tem lá, e sei que a essa hora da noite, não seria bom tentar descobrir, mas eu estou sem sono, e estou curiosa.

Ando calmamente pelo corredor, sentindo o chão frio sob meus pés. A intensidade da temperatura gélida aumentou, fazendo eu me encolher dentro do meu robe de seda. Está chovendo muito, por isso não me surpreende o fato de estar tão frio.

Ouvi passos atrás de mim, e me virei bruscamente, não tinha ninguém, escuto vozes vindas do final do corredor, não sabia ao certo o que diziam, pois sussurravam. Talvez seja alguém no andar de baixo, a casa é muito silenciosa, por isso qualquer som fica mais estrépito.

Continuo andando, ouvindo os trovejos que vem do lado de fora da casa, até me aproximar de uma porta, toco a maçaneta, e sinto um frio na espinha, acompanhado por arrepios. Estava prestes a girar a maçaneta, quanto olhei para trás de mim e vi o Miles. Pulei de susto, e levei a mão ao peito.

Miles estava como sempre, sério, seus olhos vazios quase que perdidos na escuridão do corredor, e mesmo assim ele me encarava, inexpressivo, com as suas mãos dentro dos bolsos da sua calça.

 ─ Você não deveria estar aqui. ─ Ele diz.

─ Eu sei, eu só pensei ter ouvido algo.

Miles sorriu fechado, soltando um suspiro, um sorriso que durou menos de cinco segundos.

─ Vá dormir. ─ Ele diz, e anda de volta para a outra ala da casa, enquanto eu o observo.

Com certeza há algo nessa casa que uns querem esconder e outros temem.

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