#4

1.1K 57 32
                                    

Estava largado na cama do moreno, que agora eu sabia muito bem o nome. Shouta Aizawa. Como não sabia ainda muito bem nosso nível de intimidade, resolvi chamá-lo de Aizawa. Tragava um cigarro, enquanto ele me olhava, com um copo de Whisky na mão e um charuto em outra, sentado numa poltrona de frente para mim.

          -Não acha meio cedo para começar a beber? -Perguntei.

         -Hoje é meu dia de folga também. Procurava alguém que eu realmente curtisse a companhia para passar o dia comigo.

        -Você faz a linha do solitário né? -Perguntei a ele, enquanto amarrava meus cabelos ainda molhados com um coque.

        -Digamos que eu sou difícil de me interessar por algo. Acho a maioria das coisas extremamente entediantes, assim como as pessoas. Poucas são as coisas que me deixam, interessado. Bom... e quando eu me interesso, acabo ficando obcecado.

Seu olhar agora pesava sobre mim, de forma intimidadora e sensual. Só mesmo ele para me fazer ficar todo arrepiado com uma simples olhada.

          -Obcecado?- Olho para ele com um certo ar de surpresa. Não esperava o uso de uma palavra tão forte- e que tipo de pessoas te fazem ficar "obcecado"

Ele me olha por uns dois segundos, como se estivesse me analisando. Seu olhar é como se estivesse memorizando uma cena para fazer uma pintura depois.

        -Me diga você. O que você tem que me faz me sentir tão obcecado?

Dou uma risada com sua pergunta e respondo de forma bem humorada:

         -Deve ser meus olhos verdes, aposto!

        -Hahahaha talvez... mas tem muito mais do que isso. Você é livre. É ousado. Não tem medo do novo. Pelo contrário, você gosta do novo. Estou errado?

        -Não está. Mas como descobriu isso tudo?

      -Eu fui ao Midnight Club para conhecer alguém assim. Estava cansado das mesmas pessoas, com as mesmas idéias, os mesmos valores. Queria pessoas com outras experiências, outra forma de enxergar a vida.

         -Tipo uma pesquisa de campo? -Perguntei antes de dar outra tragada

         -Não. Eu estava cansado do tédio em que vivo.

Sua voz mudou de tom ao falar essa frase, e arrumei minha postura para ouví-lo melhor.

            -Eu venho de uma família de posses. Sempre tive de tudo, mas meu pai me ensinou que nada vem com facilidade. Mesmo assim minha vida já estava toda programada desde que eu era pequeno. Quase não fiz nada que estivesse com vontade de verdade, sem me importar se seria algo "produtivo". Nunca conheci pessoas diferentes das do meio em que vivo. Com isso eu me acomodei. Sinto que não sei nada da vida, nada do que acontece com o mundo fora da minha bolha. Não sei nem do que eu gosto ou não. Não se ofenda, por favor, mas com você, sinto que estou descobrindo muito sobre mim mesmo.

         -Nossa... eu nunca imaginei que meu trabalho ia ser visto dessa forma! Bom, pelo menos você sabe que gosta de homens, certo? Já sabia disso antes, ou descobriu comigo?

         - No fundo eu já sabia. Mas devido à minha família tradicional, acabei me renegando por muito tempo. Cheguei a ficar noivo.  Mas, ela não era a certa. Quando imaginava minha vida em 5 anos, não era ela que eu queria ver, entende? Chegou em um momento em que eu estava enjoado da vida de aparências que vivia, enjoado da pessoa que estava do meu lado... 

Aizawa dá uma breve suspirada, antes de continuar:

          -Desculpe a sinceridade, você deve estar me achando um babaca!

O garoto de programaOnde histórias criam vida. Descubra agora