Capítulo 11

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INGRID

Encontrei Cristopher perto do lago que ficava na parte de trás do Palácio. Ele havia estendido uma toalha sobre a grama e colocado algumas coisas sobre ela. Enquanto me esperava, admirava o céu estrelado e a luz perfeita que a lua nos proporcionava. As vezes ele olhava tão profundamente para as coisas, que era impossível não notar a intensidade nele; eu sabia que sempre que olhava para algo, imaginava a história por detrás daquilo. Não se contentava em só ver... precisava saber da origem também.

Cristopher era assim. Intenso, observador, muito bem humorado... cheio de mistérios. Parecia que todas vezes que conversávamos eu acabava descobrindo algo novo sobre ele, mesmo o conhecendo há 18 anos. Mas esse era um lado que nem todos conheciam, e que ele pouco mostrava. Todos só viam a parte carismática dele e eu me sentia privilegiada por conhecê-lo por completo.

Ele sorriu ao me ver chegar. Me sentei de frente para ele e admirei o pequeno piquenique que ele havia feito para nós dois. Realmente, os sanduíches dele pareciam ser feito pelos anjos de bons que eram. Ele sempre os preparava para mim e eu amava esse tipo de mimo. Na verdade, todos. Cristopher era o melhor amigo que eu poderia querer para vida. Não via me longe dele de jeito nenhum... quando ele contou que seu pai queria sair do Palácio, fiquei arrasada. Podia não gostar tanto da ideia de ficar aqui para sempre, mas ficar sem ele seria ainda pior.

Como seria ficar um dia sem olhar para o seu sorriso que tanto aquecia meu coração?

Estávamos planejando uma viagem para os próximos dias. Eu tinha acumulado quatro dias de folga para poder viajar com ele. Iríamos para o interior, para uma casa de campo perto de algumas montanhas. Um chalé. Sempre viajávamos juntos e meus pais confiavam cem por cento nele e em mim. Por isso, me deixavam ir. Sabiam que não iríamos aprontar nada. Além do que, era muito melhor avisar do que sair sem permissão; por causa disso, Cristopher e eu já havíamos nos perdido na Itália uma vez. E desde então sempre tínhamos de avisar para onde íamos. Sair do Palácio de vez em quando era muito bom para espairecer. Ficar no mesmo lugar o tempo todo é realmente algo bem chato.

— Trabalhou muito hoje? — Ele perguntou e me serviu alguns de seus sanduíches fantásticos.

— Hoje foi até que tranquilo. Conseguiu descansar? — Perguntei e dei a primeira mordida. — Cobrir duas rondas não é fácil.

— Tirei um cochilo de duas horas. Estou mais para lá do que para cá. — Cristopher riu. — Não ache estranho se eu não falar coisa com coisa.

— Deveria estar descansando agora.

— E perder a oportunidade de estar aqui, com você? Dá para encarar o sono.

Sorri. É claro que Cristopher sabia falar as coisas certas, nos momentos certos.

— E além das rondas, o que mais fez?

— Olha... — Ele pensou um pouco. — Ficamos um tempo conversando com a Vick no refeitório. — Ele suspirou. — Não precisa fazer essa cara.

Foi minha vez de suspirar. Nem eu havia percebido que tinha mudado de expressão. Se eu tinha ciúmes de Vick? Talvez. Ela era uma professora do Palácio que era muito gentil, muito linda... muito adorada. Todos que a conheciam ficavam falando dela o dia todo, em especial os homens. Cristopher não ficava de fora dos fãs de Vick, talvez fosse até o número um deles. Ok, eu provavelmente tinha ciúmes dela...

— Não fiz cara nenhuma. — Dei outra mordida em meu sanduíche para disfarçar. — Impressão sua.

— Você sabe que meu coração é só seu. — Ele riu. Quando ele dizia essas coisas eu nunca sabia se eram ou não sérias.

As vezes eu achava que ele gostava de mim, outras vezes não. Isso acabava comigo. Eu queria muito entender o que sentia por ele, mas sem ter certeza do que ele sentia primeiro ficava meio complicado. Não queria que nossa amizade acabasse assim, do nada, pelo constrangimento de sentimentos não correspondidos. Eu nem sabia ao certo se gostava ou não dele. Eu tinha carinho tão grande por ele... Não sei se estava confundindo as coisas. Ter ciúmes de amigos é normal, não é mesmo?

Era tão mais fácil quando éramos crianças.

— Você está com ciúmes da Vick que eu sei. — Cristopher fez uma expressão de deboche.

— Não estou, não!

— Está sim. — Ele se aproximou de mim. — Se fôssemos menores eu faria cosquinhas em você até assumir.

— Saí de perto de mim, Cristopher Davies! — O ameacei, recuando um pouco. — Já estamos quase na casa dos 20, não temos mais idade para isso.

— Sinto falta de como as coisas eram antes. Aprontávamos tanto, ríamos mais... ser adulto é cheio de responsabilidades. Só de pensar que queria tanto crescer logo. — Ele revisou os olhos.

— Pelo menos podemos viajar sozinhos agora. — Relaxei o corpo. — Mas a responsabilidade da vida adulta é... Realmente, bem chato.

— Gostava quando só tínhamos de pensar de quem seria a próxima sobrancelha a ser raspada, e não em nossas preocupações atuais. — Ele riu e eu também. — A pessoa cresce e é só trabalho, estudo, casamento...

— Você pensa em casar? — Essa pergunta saiu mais rápido do que gostaria. Nunca conversávamos sobre... esse tipo de coisa.

— Claro que eu penso. Viver para sempre sozinho deve ser muito chato e sem graça. Agora, imagina que emociante ter versões pequenas de você pulando na cama para te acordar logo pela manhã? Ou acabar a noite sabendo que tem um abraço para te receber quando chegar? Quero muito isso. — Cristopher falou isso olhando para mim, mas no final baixou a cabeça. — E você?

— Penso nisso também. Às vezes. Acho que quero dois filhos...

— Angel e Calebe. — Ele falou e acertou. Eram meus nomes prediletos.

— Exato. E não penso em muita coisa. Gosto de deixar tudo acontecer naturalmente. As vezes planejar demais pode acabar sendo ruim. Planejamos muito e quando as coisas não saem do jeito que queremos acabamos chateados. Por isso prefiro deixar vida me surpreender. — Dei os ombros. — Vamos ver o que a vida nos reserva.

— Para nós dois?

— Para cada um de nós.

— Porque não para nós dois juntos?

— Como assim?

— Como nos imagina daqui dez anos? — Ele olhou novamente para o céu. — Me diga que estou em seus planos...

— Você está em todos os meus planos.

— Todos? — Ele me olhou com um sorriso enorme. — Você também está em todos os meus.

— Como me encaixo em seu futuro? Poderia me contar?

Ele continuou me olhando. Mas só isso. Não disse nada e nem esboçou alguma reação... anda, Cris... se você disser tudo ficará mais claro.

— Isso é assunto para outra ocasião. — Disse finalmente.

— Cristopher...

— Sabe o que a Vick me contou? — Disse, empolgado.

— Ah, não! — Coloquei as mãos nas orelhas.

— Mas olha só... — Ele se aproximou mais. — Você está merecendo.

E ele começou a fazer cócegas em mim. Não tínhamos mais idade para isso, mas era igualmente engraçado como na época de nossa infância. Ele me fazia rir até que eu implorasse por misericórdia. E todas essas boas memórias ele nunca me permitiria esquecer... e sempre estávamos juntos para criar novas. Nossos momentos juntos eram impagáveis e insubstituíveis.

Como me imaginar em qualquer fase da minha vida sem tê-lo ao meu lado?

O comitê Onde histórias criam vida. Descubra agora