Capítulo 22

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Encontrei Sayoran no jardim como havia sido combinado. Apesar de tudo, da estranheza da situação principalmente, eu gostava da companhia dele. Tivemos poucas oportunidades juntos, mas elas me mostraram o quão fofo, engraçado e doce ele conseguia ser. O jeito perdido dele nas coisas de Orlean me faziam rir muito. Além do que consegui perceber o quão competente ele era em seu trabalho e o quanto era determinado em seus planos. Se não fosse pelas circunstâncias, acho que poderíamos ser bons amigos.

— Poderia me explicar uma coisa, senhorita? — Ele perguntou enquanto andávamos pelo jardim. A noite estava linda e um pouco fria, perfeita para um passeio.

— Claro. — Eu disse, mas com medo. Só Deus sabe o que se passava na cabeça dele.

— Por que tem tanto receio de se apaixonar? — Ele disse e riu ao me ver revirar os olhos. — Não adianta negar: seus olhos contam seus reais sentimentos. Foi amor à primeira vista, queira aceitar ou não.

— Sayoran, pare. — Suspirei. — Escuta, acho que tenho mais medo de dar errado do que esperança de dar certo, entende? Sei lá. Enquanto há probabilidades de dar errado, prefiro não me arriscar.

— Percebi isso. Mas se nunca se arriscar pode se privar de viver algo lindo. Sabe disso, não é mesmo?

— Sim, eu sei. Mas aquilo que os olhos não vêem o coração não sente. Por isso tomo cuidado com meus sentimentos, em relação a me apaixonar e tudo mais. — Dei os ombros. — Agora, me permite fazer uma pergunta?

— Claro.

— Como pode ter tanta certeza que o "destino nos uniu"? Gostaria de entender isso.

— Simplesmente, eu sei. Lembro que minha mãe sempre me dizia que saberia no momento que olhasse para garota certa, que ela era o meu grande amor. Nunca tinha entendido isso... Mas quando te vi, entendi finalmente. — Ele sorriu.

Meu coração se aquecia a cada sorriso dele...

— Não está apaixonado por mim, Sayoran. Ainda mais que você vai embora em dois dias, não é mesmo? Como vai ser?

— Acredito que daremos um jeito.

— Como?

— Posso lhe contar uma coisa? Uma lenda chinesa muito conhecida. — Apesar de não entender, concordei para que ele começasse. — Nos tempos antigos, em um vilarejo distante, havia uma garota doce e muito sonhadora. Seu maior sonho era encontrar o amor. Nesse mesmo vilarejo, todos os dias, o exército do imperador passava para seguir o caminho até o Palácio real e ela acabou se apaixonando pelo general desse exército. Todos os dias, durante três anos e no mesmo horário, ela saía de casa e o esperava passar. Na saída do vilarejo havia uma cerejeira, que nunca havia desabrochado, onde ela se sentava e o esperava... dizem que essa cerejeira era testemunha do amor dos dois.

"Apesar de nunca terem trocado uma palavra sequer, ambos estavam apaixonados. Mas apesar de saberem disso, nenhum dos dois nunca fez nada; a cada olhar, o amor crescia entre os dois. Até o dia em que houve uma guerra e ele precisou partir para lutar. Quando saía do vilarejo, ele olhou para sua amada e fez a ela uma promessa: que quando voltasse, eles finalmente se casariam e viveriam para sempre juntos. Que independente do que acontecesse, nada nunca iria o fazer parar de amá-la, pois eles estavam destinados a ficar juntos. Foi a primeira vez que eles se falaram.

"Ela o esperou ansiosamente, indo todos os dias ao mesmo lugar. Ele nunca retornou. Mas mesmo assim, durante toda sua vida, ela voltava para debaixo da cerejeira e o esperava... mesmo sabendo que ele nunca voltaria. E assim permaneceu até o final de sua vida. A lenda diz que depois de uma vida inteira esperando o seu amor, quando ela finalmente partiu, a cerejeira desabrochou de uma forma linda. Era como se a única testemunha daquela amor chorasse de alegria por finalmente ver o desfecho daquela história. Por presenciar aquela história de amor e vê-la dando certo, pois sabia que ali aquela história ganhava o seu final feliz."

— Mas ela não deu certo. — Falei, sem entender e ele riu.

— Só porque eles não ficaram juntos? Não, Roberta. Essa história deu certo, pelo simples fato de ter havido amor entre os dois. Uma história de amor não precisa de um final feliz para ser uma história de amor. O ponto principal desta história é: nem o tempo, o desconhecido, o medo ou até mesmo a morte, pode apagar o verdadeiro amor.

— Acho que entendi. Porque nada a fez esquecê-lo... Mas se eles tivessem tido uma atitude antes, podiam ter ficado juntos! — Falei.

— Exato. Por muitas vezes perdemos as oportunidades de amar por causa do nosso medo, Roberta. Eles poderiam ter vivido uma linda história de amor. Mas não viveram. O que não significa que não se amavam de verdade; significa somente que não tiveram coragem para vivê-lo.

— Mas por quê?

— Quem sabe? Muitas pessoas dão desculpas para não viver o agora... Não consegue se ver como exemplo?

— O que você quer que eu faça? Largue tudo aqui e vá com você para China? Assim, do nada? — Dei uma risada cética.

— Se soubesse que sou realmente o amor de sua vida, faria isso? — Ele parou na minha frente e me olhou nos olhos.

— Não. — Desviei o olhar. — As coisas não funcionam assim.

— Gostaria de entender porque...

— Sayoran, nos conhecemos há onze dias! Isso não é tempo suficiente para que haja amor entre duas pessoas!

Ele virou o meu rosto para que eu pudesse olhá-lo. Um sorriso lindo surgiu em seus lábios.

— Tem razão. No meu caso, levou somente um instante para que eu me apaixonasse por você.

— Por favor, não fale isso. — Suspirei. — Daqui dois dias você voltará para China e daqui dois meses nem lembrará mais da minha existência.

Sayoran também suspirou.

— Lembre-se: nem o tempo, nem o desconhecido, nem o medo ou a morte podem apagar o verdadeiro amor.

— Eu vou entrar. Eu nem devia ter concordado em vir. — Balancei a cabeça para os lados.

Corri o mais rápido que pude para o meu quarto. Eu não tinha ideia do que podia acontecer em duas semanas... Mas realmente não esperava conhecer alguém como o Sayoran. Ele parecia falar aquelas coisas com tanta segurança e certeza, que por várias vezes cheguei a acreditar que estava mesmo apaixonado por mim. Porém, como isso podia ser possível?

Ouvi muitas vezes que para cada pessoa o amor trabalhava de uma forma diferente. Que uma história nunca era igual a outra. Por esse motivo nunca devíamos esperar que o mesmo acontecesse na vida de todos: para cada pessoa, havia uma história diferente a ser escrita.

Eu realmente não sabia nem o que pensar. Era algo tão inusitado, e os sentimentos pareciam tão novos que eu estava mais apavorada do que qualquer outra coisa. Só conseguia pensar na distância entre a China e Orlean, que não nos conhecíamos a tempo suficiente para houvesse sentimentos verdadeiros entre nós... Mas só de pensar que ele logo iria embora e eu nunca mais o veria... será que eu devia fazer alguma coisa? Será que eu realmente estava perdendo uma oportunidade incrível?

Minha única explicação para esses pensamentos era a emoção. Não havia a menor possibilidade de eu estar apaixonada pelo senhor Chen. Não havia. Sempre cuidei para que nada entrasse em meu coração e em momento nenhum cedi espaço para que ele entrasse ali. Aquilo não podia ser outra coisa... Não podia.

Eu definitivamente não podia estar apaixonada por ele!

O comitê Onde histórias criam vida. Descubra agora