Capitulo 18

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A família real chinesa já havia chegado.

Como previsto, até o ar do Palácio estava carregado de tensão e os empregados trabalhavam três vezes mais que o normal. Tecnicamente, se tratava da nação mais poderosa do mundo e o simples fato deles estarem perto já bastava para assustar todo mundo. Com permissão do Rei, pulei a recepção que o Palácio fez e a primeira reunião que tivemos com eles; fiquei em meu quarto o tempo todo, aproveitando o tempo para escrever e relaxar. Meu plano era sair dali o mínimo de vezes possível e em casos de extrema precisão... Mas sendo assistente real, meu trabalho era basicamente seguir o Rei o dia todo. Assim, ficava mais difícil.

Eu havia terminado mais dois capítulos de uma obra que estava trabalhando há um tempo e que estava sendo complicada de fazer, graças a um bloqueio criativo. Precisava urgentemente de novas inspirações ou acontecimentos novos para me trazer as inspirações de volta ou aquele seria somente mais um livro que não teria fim. Apesar de nunca ter vivido um romance, eu gostava de escrever sobre e imaginar como era um. Mas somente isso mesmo, pois eu realmente não queria viver um. Aparentemente, era algo muito trabalhoso e que fugia do controle com facilidade... e eu gostava de poder ter controle das situações. Dos meus sentimentos, em especial.

Por isso, escrever era minha paixão.

Logo após terminar, aproveitei para concluir o meu trabalho. Fiz um relatório de seis páginas da última reunião com o representante da província do Paraná. Agora, só precisava deixar no escritório do rei e poderia voltar correndo para o meu quarto. Saí do quarto e subi até o terceiro andar o mais rápido que podia; aparentemente, a China também havia trazido metade da guarda real chinesa para Orlean e a seriedade deles me deixava nervosa. Os guardas de Orlean eram simpáticos e educados, totalmente diferentes.

A caminho do escritório, já de longe, avistei uma figura desconhecida parada no corredor. Pelas fotos, acabei o reconhecendo como um dos assistentes reais chineses. Ele era alto, magro, tinha cabelos pretos, vestia um terno e estava parado diante de um dos quadros que havia no corredor. Que, por acaso, eu havia feito. Fiz ele de presente para rainha, no último aniversário dela e ela o colocou ali, no corredor. O assistente olhava com atenção para ele... como se houvesse algo de interessante ali. Nem havia ficado tão bom, então não entendi o porquê do interesse.

Passei por ele e pretendia seguir sem chamar atenção, mas justamente nesse momento ele olhou para mim. Ele era sério e até pareceu surpreso ao me ver ali; somente fiz um aceno com a cabeça e continuei meu caminho. Meu coração parecia ter subido até a garganta e começou a bater bem mais rápido... talvez eu estivesse mesmo nervosa com a visita da China ali. Virei o corredor e parei por um momento... ok, eu estava curiosa.

Nunca tinha ido a China e nunca tinha visto alguém de lá. E eles eram importantes. Suspirei e dei meia volta. Uma olhadinha a mais não faria mau. Fui até ponta do corredor e, rente à parede, olhei para onde tinha visto o assistente... Só não esperava que ele estivesse tão perto de onde eu estava, encostado na parede, de braços cruzados e que eu acabasse dando de cara com ele. Ah, que ótimo! Meu plano de não passar vergonha não deu certo. Era como se ele estivesse me esperando ou sei lá, talvez estivéssemos indo para mesma direção e acabei nessa cena constrangedora, onde ficava claro que eu estava o espionando.

Excelente.

— Eu... Eu estava... olhando se deixei... cair algum papel no corredor... Eu — cocei a sobrancelha. Nem sabia se ele falava português. — Eu minto muito mau, não é?

Ele deu um sorriso mínimo.

— É sim.

Pelo menos ele falava português. Devia saber falar vários idiomas, na verdade. Agora eu podia explicar em meu idioma o que estava fazendo.

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