Capitulo 3

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— E o que mais? Não ouse parar pela metade, Mallyn! — Ameaçou Paulo, fingindo estar bravo comigo.

Os guardas do Palácio realmente gostavam de fofoca. Mais que as criadas eu diria. Já fazia uns dias desde que assumi minha posição oficial e o Palácio de Orlean já havia se tornado meu lar. Eu realmente me sentia em casa. Consegui fazer amizades bem rápido com os empregados e guardas... Foi bem mais simples do que imaginei. Achei que uma vez no Palácio não conseguiria me adaptar ao monte de pessoas que trabalhavam lá, na correria do dia a dia; porém, bastava eu colocar meus pés no corredor que eu fazia uma amizade diferente. Já conhecia praticamente todo mundo ali.

O pessoal de lá estava mais animado do que nunca já que a família real havia viajado. Todos, exceto Logan, estavam na França. Era a oportunidade perfeita para que os criados bagunçassem no Palácio sem levar bronca. O único que não estava muito animado era o Logan, talvez porque ele não tivesse ido com a família. Ficava com coração apertado sempre que o via triste. Já tinha me acostumado com Logan bagunceiro e animado de todos os dias, era estranho vê-lo de outra forma que fosse com um sorriso no rosto.

Acho que era isso que mais gostava nele: o sorriso.

Desde que cheguei ele me tratou muito bem; com cavalheirismo e educação, além de muitas piadas sem graça que aprendi amar nele também. Sou uma pessoa observadora e acabei pegando alguns traços das características dele só por olhá-lo: ele era respeitoso, bem humorado, carismático, independente, solidário, sincero, um bom ouvinte... dentre tantas outras que notei. Talvez eu passasse tempo demais observando ele, mas não fazia por querer, é como se ele tivesse um imã que atraísse minha atenção toda para ele.

Outra coisa que notei foi a proximidade que havia entre Larissa e ele. Ambos pareciam aqueles casais de livros que sempre brigavam entre si para disfarçar os sentimentos que tinham um pelo outro. Eles tinham piadas internas que só os dois entendiam, e viviam falando de suas lembranças da infância. As provocações me lembravam muito filmes clichês de romance antigos, e as conversas deles eram sempre animadas. Nunca ouvi nada a respeito dos dois estarem juntos e eu não ia perguntar de jeito nenhum. Até porquê... Não era da minha conta o que havia entre os dois.

— Já disse tudo que sabia, Paulo. — Voltei para realidade e para minha conversa com Paulo. — Eles foram embora do Palácio pelo motivo que te contei. Não sei se é ou não por ciúmes que ele tinha de alguém com ela.

— Para uma jornalista você sabe muito pouco!

— Paulo, não vou ficar buscando fofocas para satisfazer esse monstro que há dentro de você. — Tomei um gole de café. Por uma boa fofoca eles se transformavam...

— Não fale assim. Não sou um cara... tão ruim. É que tem tanta gente aqui e parece que nada nunca acontece. — Ele suspirou. — Cristopher. — Paulo sorriu quando seu grande amigo entrou na sala de descanso dos criados. — Tudo certo para festa do Logan?

— Não. Ele disse que não vai. — Cristopher se sentou na mesa. — Está parecendo uma mulher, todo sentimental. Acho que se eu der um soco nele, ele chora.

— Festa para o Logan? — Perguntei.

— É aniversário dele hoje.

Aniversário do Logan.

Como eu não sabia disso? Em pleno aniversário dele a família real decidiu viajar para França... será que é por esse motivo que ele andava tão chateado? Eu sabia que sua mãe havia morrido servindo na guerra e que seu pai era um homem extremamente ocupado, então ele não tinha tanta atenção assim. Não sei dizer o que é isso, pois minha família sempre foi muito unida, mas tenho certeza que não devia ser bom. Creio que seja uma situação que magoe qualquer pessoa.

— Vocês ainda vão fazer a festa para ele? — Perguntei. Se podíamos fazer algo para animá-lo precisávamos começar logo: já eram 16h38!

— Vamos fazer sim. O que eu quero é comer. Mesmo que ele não venha. — Paulo riu.

— Vou convencê -lo a vir. — Me levantei. —Vamos nos apressar.

— Mas eu parei agora — Cristopher resmungou.

— Agora!

— Sim, senhora. — Ele levantou, desanimado.

Descemos para cozinha e movemos boa parte do Palácio para preparar algo as pressas para Logan. Uma parte foi para sala de festas e outra para cozinha. Thomas estava comandando a cozinha naquele dia, e quando chegamos pedindo um monte de coisas ele agilizou tudo para que terminássemos a tempo. Pretendia ir até Logan para conversar e convencê -lo a vir, mas não queria ir de mãos abanando. Por isso preparei uma cestinha de pequinique com algumas guloseimas e sanduíches. Também separei uma velinha pequena e uma caixinha de fósforos para levar. Thomas havia dito que não daria tempo de fazer bolos mais elaborados, então optamos por uma festa sem bolo. Mas ainda sim, pedi ao cozinheiro que me ensinasse a fazer cupcakes para incrementar a festa.

Esperava que Logan gostasse. Podia ter incentivado, mas todo planejamento era de Paulo e Cristopher... que bom que haviam amigos tão queridos neste lugar.

— Agora, é só decorar. — Thomas tirou a forma quente do forno. — Deixei tudo pronto para você. Só não vou te ajudar nessa parte porquê... — E houve um barulho de vidro se quebrando. — Estão quebrando minha cozinha! — Thomas gritou. — Quem foi o bobalhão?

— O bobalhão é você que nos deixa ficar na sua cozinha. — Cristopher falou.

— Vou fazer você limpar isso com a língua! — E Thomas saiu, bravo. Céus, como eu amava a equipe do Palácio.

Peguei o primeiro cupcake e o decorei com carinho de forma bem fofa... claro que não se comparavam aos que os cozinheiros reais faziam, mas ficou até que bonito. Larissa se aproximou de mim e perguntou se eu queria ajuda. Não pude negar. Ela era uma garota incrível e muito legal, além de gentil. Não que eu tivesse raiva dela nem nada, mas... peguei meu cupcake e o afastei dela quando a vi colocar alguma coisa no chantilly que usei para decorar.

— Não coma isso. — Ela sorriu e me olhou de forma cúmplice.

Ela podia ser legal... Mas dava medo.

Fui até Logan e passei algum tempo conversando com ele em seu quarto. Ele estava chateado pela família não estar ali, pela mãe e pela briga que teve com Joshua... falei da festa e ao que tudo indicava ele ia aparecer. Comemos algumas coisinhas, alertei ele sobre Larissa e ficamos só conversando sobre coisas aleatórias. Foi um bom tempo que passei com ele... com certeza, ele era um cara incrível e um amigo maravilhoso.

Depois, desci para o salão e o vi decorado lindamente. Não sabia como em tão pouco tempo o pessoal havia feito aquele lugar ficar tão maravilhoso, decorado no tema de "Orlean". Terminamos os últimos detalhes e esperamos Paulo buscar Logan em seu quarto. Apagamos as luzes, ficamos em silêncio... claro que manter uma sala com mais ou menos 150 pessoas em silêncio não era fácil.

— Pessoal! — Cristopher gritou e acendeu as luzes. — Isso é para ser uma surpresa, mas se ninguém ficar quieto não vai dar! — Nesse momento Logan entrou com Paulo. — Todo mundo fique quieto para não estragar a surpresa! — Logan bateu de leve no ombro do Cris. Ele suspirou. — Surpresa.

— Meu Deus... que surpresa. — Logan colocou a mão sobre o peito. — Se tivesse problemas cardíacos morria neste momento. Obrigado. — Logan pulou em cima de Cristopher.

Todos correram para abraçar ele ao mesmo tempo. Logan sumiu no meio da montanha de carinho que estava recebendo. Aquele lugar não era somente um lugar qualquer; não era só o emprego dos meus sonhos. Era o lugar dos sonhos. Além de tudo, eu havia conseguido também bons amigos.

O comitê Onde histórias criam vida. Descubra agora