Capitulo 23

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Acordei mais cedo que o normal e ao invés de me levantar logo, como era meu costume, fiquei deitada encarando o teto. Sayoran partiria esta tarde. Fiquei pensando em um monte de coisas nestes últimos dois dias e cheguei a uma conclusão de que não queria que ele fosse embora. Mas não podia simplesmente pedir para ele largar tudo em seu país. E eu não iria para lá de forma alguma. Talvez, se ele ficasse podíamos nos tornar grandes amigos e quem sabe até mesmo, com o tempo, algo a mais. Mas infelizmente não tínhamos tempo.

Me levantei da cama e organizei o quarto sem pressa. Eu esperava que quando saísse Sayoran já tivesse partido, pois não queria ter que me despedir dele. Acho que seria pior assim... Fiquei no quarto até as três da tarde. Adiantei meu trabalho, escrevi, li um pouco e passei boa parte do tempo suspirando pelos cantos. Que tipo furada eu tinha me metido e como sairia dessa?

Precisei mesmo sair do quarto para o escritório, pois precisava avisar algo urgente ao rei. No caminho, no mesmo lugar onde eu havia visto Sayoran pela primeira vez, parei diante do quadro que estava na parede. Era a mesma vista que eu tinha do meu quarto na minha antiga casa. Eu gostava tanto da visão das árvores, das casas... levei bastante tempo para fazer um réplica quase fiel, mas consegui o resultado esperado. Queria saber o que Sayoran pensava enquanto olhava para aquele quadro...

Virei a cabeça quando ouvi o barulho de muitos passos virando o corredor, para lado oposto ao que eu estava. Era o rei acompanhando o imperador até a saída do Palácio... devia ter um avião esperando-os no jardim, pronto para levá-los de volta a China. Os fiéis assistentes do imperador o seguiam como robôs e suspirei ao ver Sayoran no meio deles. Então, ele ainda estava no Palácio... ótimo. Torci para que ele não virasse a cabeça e notasse minha presença, mas era como se ele soubesse que eu estava ali. Ele falou com um colega e veio até mim, apressado.

— É sua última oportunidade de aceitar meu pedido de casamento. — Ele disse.

— Até na hora de ir? — Dei risada.

— Não posso desistir. — Ele deu um sorriso triste. — Queria mesmo que tivesse dado certo. Uma pena você não aceitar o meu amor.

— Você não me ama. O amor não é assim... acredito que é algo mais complexo. Quando entender de verdade, prometo te escrever contando o que aprendi. — Brinquei.

— Posso não saber tanto sobre isso, mas. Sei que o amor não é um lugar para onde escolhemos ir, mas é como uma casa que nos comprometemos a ficar quando a encontramos. Acha que escolhi me apaixonar por você? No entanto, me comprometo a permanecer neste amor até o final. Eu prometo.

— Você já se apaixonou antes? — Cruzei os braços sobre o peito.

— Nunca.

— Então, não pode ter certeza se está mesmo apaixonado por mim.

— Você é bem cabeça dura. Posso te pedir algo antes de ir embora? — Perguntou, receoso. — Pode ser a última vez que te vejo, então...

— Pode pedir.

— Posso te beijar?

Arregalei os olhos.

— O quê? Isso não é contra várias leis da China?

— É sim. Tecnicamente, só poderia te beijar depois de casados. Mas eu não ligo para as regras. Só quero ter certeza de uma coisa antes de ir... — E esperou minha resposta. No entanto, apenas apertei os lábios e olhei para o chão. — Tudo bem, eu entendo...

— Pode me beijar. — Dei os ombros e olhei para ele. — Não é nada demais... Eu acho.

Sayoran me olhou surpreso. Sorri para ele e dei um passo a frente, pegando seu rosto com as duas mãos e o trazendo para perto de mim. Acho que só naquele momento percebi que queria mesmo aquilo. Nem preciso dizer que senti como se estivesse quebrando centenas de regras... Mas queria tanto saber como era, que não me preocupei com estes detalhes.

Um beijo não faria mal...

— Obrigado. — Ele sorriu e colocou sua testa junto com a minha. O melhor beijo de todos... Era como eu escrevia em meus livros: quando o beijo era com realmente gostávamos, se tornava algo excepcional. — Se eu não tinha certeza, agora tenho. Estou mesmo apaixonado por você. — Olhei nos olhos dele. — Preciso ir. Adeus, Roberta.

Fiquei parada observando ele se afastar. Mas o que eu estava fazendo? Por que estava deixando ele ir embora? Mesmo com o coração gritando no peito para ir atrás dele me mantive no mesmo lugar, sem me mexer. Estava segurando as lágrimas e repetia para mim mesma que aquilo não tinha significado nada... Mas aquela frase se tornou tão sem sentido, que percebi que ela era mentira. E quando percebi, saí correndo pelo corredor. Não sei quanto tempo fiquei parada só pensando, mas estava torcendo para ele ainda estar no jardim ou simplesmente que o avião não houvesse decolado.

Quando estava no primeiro andar, parei de frente para uma janela e vi o avião decolar. Se pudesse voltar atrás, teria aceitado o pedido dele, mesmo que estivesse apavorada. Mesmo que fosse só pela emoção... a ideia do amor ainda me dava medo. Mas a ideia de que talvez nunca mais visse o Sayoran? Partia meu coração em centenas de pedaços.

Sayoran...

O que eu havia feito?

O comitê Onde histórias criam vida. Descubra agora