Capítulo 9

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                       A conselheira

INGRID

— Qual foi o ano em que foi instituído a monarquia absolutista em Orlean? — Meu pai perguntou, sentado em sua cadeira enquanto eu andava de um lado para o outro no quarto.

— 2043. A China se manifestou e emprestou o dinheiro para o país se reerguer após ao ataque direto do Uruguai. — Falei, me esforçando para lembrar do que havia aprendido.

— Quantos anos tinha Felippe Orlean quando assumiu o trono?

— Quarenta e dois anos. Mesmo ano em que nasceu o capitão Erick. Seu reinado durou vinte e três anos, e ele faleceu aos sessenta e três anos. — A cada resposta eu olhava para o meu pai, buscando aprovação.

— Quem iniciou a quarta guerra mundial? E o motivo?

— Irã. O motivo é desconhecido, mas se pressupõe que pelo armamento pesado que mantinham naquela época achavam que podiam derrubar a China e seus aliados; a China negou ajuda pois as bases nucleares que eles construíram ao longo de três anos teriam um impacto muito grande no mundo se fossem realmente utilizadas e ninguém conhecia seus reais propósitos com tudo aquilo. Como negaram a desativação bases, a China negou ajudá-los. E depois disso vieram os ataques a China e ao seus aliados; Orlean, na época Brasil, foi atingida por três dos cinquenta e dois mísseis que eles dispararam.

— Muito bom. — Ele sorriu, satisfeito. — Qual foi primeiro país a se aliar a China?

— Gana, no continente afriacano. Pela família de Nijala... com isso o nome do país mudou para Terehasa.

— Muito bom. Realmente, muito bom.

Os estudos no Palácio real não eram tão rigorosos, mas meu pai sim. Desde o início do reinado de Felippe Orlean minha família trabalhava para o Palácio real, e comigo já iríamos para quarta geração ali. Meu pai era um dos conselheiros de confiança do rei e queria que eu estudasse para que um dia pudesse assumir o seu lugar. Por isso desde pequena ele me colocava para estudar horas e horas, e depois me chamava para explicar o que havia aprendido. Em alguns dias aleatórios, sem qualquer aviso prévio, ele me chamava e fazia suas perguntas para testar meus conhecimentos.

Apesar de amar o Palácio real, eu não gostaria de ser conselheira do rei. Era um trabalho de muito responsabilidade e que exigia muito da pessoa. E eu preferiria ter uma vida mais tranquila, onde pudesse viajar e não tivesse que entregar minha vida a um trabalho. Eu gostava da ideia de viver aventuras, de explorar novos lugares e sempre que podia saía do Palácio para viajar. Dentro do Palácio não dava para viver muitas coisas diferentes, e só fora conseguíamos ter um pouco de emoção. E os assistentes reais tinham suas folgas, mas mesmo nelas tinham que trabalhar.

Só de pensar já era nocauteada pelo estresse.

Mas meu pai ficava tão animado com essa ideia que era difícil para mim acabar com seus sonhos. Por isso, eu só assentia e sorria. Muito provavelmente me tornaria assistente real só para que ele ficasse feliz... O que um filho não faz para alegrar seu pai?

Nasci e cresci neste Palácio, e desde pequena fui acostumada e ensinada sobre monarquia. Sabia me portar diante dos monarcas e como desempenhar todas as funções dos assistentes reais, já que meu pai fazia questão de me levar para todas as reuniões com o rei. Sempre fiz milhares de aulas especiais e tive professores contratados só para ensinar a história do país. E olha que historiadores eram raríssimos nos dias atuais. Tudo para que eu fosse a melhor assistente real... e olha que com seis anos eu nem sabia o que queria comer no almoço. Mas já estava sendo preparada para meu futuro trabalho.

— Ingrid, a rainha me fez um pedido. — Meu pai sorriu, mas não muito satisfeito. Charlie Lima era um assistente e tanto! Era amigo pessoal do rei e um profissional incrível, apesar de ser meio rígido e pouco amigável. Eu tinha muito orgulho dele. — Fiquei de conversar com você antes de dar uma resposta.

— O que aconteceu? — Meu corpo gelou dos pés a cabeça. Não que tivesse feito algo... mas frases que eram iniciadas com "O rei ou a rainha" já bastavam para apavorar qualquer um.

— Ela disse que não gosta da ideia de vê-la como assistente do Rei. Mas que gostaria que fosse conselheira da própria rainha. — Ele falou, não pareceu gostar tanto da ideia. Mas se fosse um pedido rainha... — Ela a convidou para ser sua Conselheira pessoal.

Levantei as sobrancelhas. As conselheiras da rainha a seguiam por todos os lados e a ajudavam diretamente com seus afazeres. Analisavam projetos filantrópicos, analisavam suas possíveis decisões, seus discursos, roupas... a rainha era um símbolo para o seu país, e suas ações refletiam muito em sua imagem e também na imagem da nação. Por isso as conselheiras da rainha: eram pessoas preparadas para ajudá -la a manter a imagem intacta.

— A rainha pediu isso? — Perguntei. Não tive muitas oportunidades com ela, mas sempre a notei me olhando de canto.

— Ela gosta do jeito que você observa as coisas. Do jeito que as faz, de seus relatórios... disse que você se sairá melhor como conselheira do que como assistente.

— Bem, se ela está dizendo... — Dei os ombros.

— Logo vou me aposentar, Ingrid. Gostaria que ficasse com meu cargo, mas estamos aqui para servir a família real e peço que aceite este cargo com orgulho. Você fez por merecer ser reconhecida pela rainha. — Sorri enquanto ele falava. — Dê o seu melhor e faça tudo aquilo que te ensinei ao longo dos anos.

— Tudo bem. Eu vou tentar. — Respirei fundo. — O senhor não ficará chateado? Por não seguir os seus passos, digo.

— Não. Como já disse, estamos aqui para servir. Não sou eu quem decido seus passos afinal. — Ele se levantou e me abraçou. — Só me deixe orgulhoso, tudo bem? Vou me aposentar, mas vou continuar de olho.

— Tudo bem. — Ri. — Vou me esforçar muito para que o senhor e todos tenham orgulho de mim!

— Continue estudando muito e se aperfeiçoe para ser uma ótima conselheira. — Ele falou.

— Sim, senhor.

— E nada de se distrair no percurso! Seu trabalho é mais importante.

— Sim. — Concordei... mas não totalmente.

Havia muitas outras coisas importantes para mim naquele Palácio. Meu novo emprego era só uma delas...

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