Ao contrário do que muitos pensam, hospícios não são completamente brancos, com grades de ferro e um perigo para sua vida a cada curva. Não, talvez fosse assim nos hospitais psiquiátricos, mas ali não.
Xue Yang sempre achou o local onde trabalhava bastante animado e alegre até, as cores claras da parede combinavam com seus pacientes, calmos e rasos.
Claro que se qualquer um de fora visse, não seria bem assim que descreveriam, talvez profundo e complicados seriam as palavras, alguns até instável.
Porém para quem os entendiam, eles eram tão transparente quanto os muitos vidros das janelas.
Era isso o que Xue Yang pensava, pelo menos até conhecer ele.
Xiao Xingchen.
Transferido de Sichuan há uma semana.
Desde que fizera a consulta particular semanal obrigatória, pensou no garoto mais do que deveria, ou do que seria recomendado para um doutor com seu paciente.
Claro que tinha recebido todo o histórico do paciente, e já estava acostumado o suficiente pra não se surpreender ao ver que o jovem problemático do papel era o mesmo com o sorriso doce e gentil a sua frente. Uma das primeiras coisas que Xue Yang aprendeu em sua profissão foi não julgar ninguém pela aparência.
Não tinha nada que diferenciava ele dos outros pacientes, só mais um caso comum de transtorno mental, mas por algum motivo o psiquiatra passou a semana inteira pensando no jovem pouco menor que si.
Ele respirou fundo antes de entrar pela porta, e como imaginou encontrou o paciente de frente para uma tela totalmente em branco, uma paleta ainda sem cores na mão, costas eretas o suficiente para um monge invejar.
A cabeça inclinada dava o ar de estar profundamente intrigado no que quer que ele estivesse vendo, e provavelmente estava, já que nem sequer ouviu o médico entrar.
-Com licença.
A voz suave do doutor despertou o outro que virou a cabeça lentamente, com os olhos vazios e desfocados, mas um sorriso gentil.
-Por favor.
Ele soltou a paleta vazia e se levantou, andou até a cama e se sentou, fez tudo com uma elegância que faria as pessoas perguntarem se ele não tinha alguma doença nos ossos. Delicado e suave.
-Dessa vez eu vim sozinho como você pediu, sem estagiários ou enfermeiros. Como você está?
Xue Yang lembrou o outro de seu próprio pedido na consulta passada, e com calma para não assusta-lo se aproximou e começou a examina-lo.
-Bem. Obrigado Doutor, não gosto de tumulto.
O psiquiatra sorriu compreensível para o outro e continuou com a consulta, apesar de não considerar 3 pessoas no mesmo local como tumulto ele sempre prezava e respeitava seus pacientes e suas exigências, desde que elas fossem cabíveis. Eles eram pessoas sensíveis e Xue Yang entendia isso.
-Você me disse que gostava de pintar, desde que chegou não pintou nenhum quadro. Está sem inspiração?
-Sim.
Depois de avaliar a pressão e fazer anotações na ficha médica em sua mão soltou um suspiro cansado.
-Me disseram que não está comendo direito, uma refeição por dia e o lanche da tarde apenas.
Ao ouvir o comentário do médico, Xiao Xingchen deslizou a mão e as apertou juntas em seu colo, apesar de seu rosto permanecer inalterado.
-Não tenho fome.
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Minhas cores, suas dores.
Hayran KurguNum manicômio onde almas se entrelaçam, memórias perdidas e lembranças despedaçam. No meio de confusão e de dor, quem é paciente, quem é o doutor? Quem é o insano quem é o são? Poucos saberão. Mas para quem pode enxergar, as cores contam tudo em um...