The end

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Esse capítulo tem algumas cenas sensíveis e que possam ser consideradas desconfortáveis para alguns, caso se sintam incomodados  recomendo que pulem algumas partes. Boa leitura!

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YOUNGJAE

Eu nunca fui capaz de carregar um sentimento tão horrível por alguém em toda a minha vida, nunca me submeti a odiar uma pessoa, mas nesse momento eu me sinto incapaz de negar tal sentimento. O ódio tem melhor memória do que o amor. Nada generoso passava pela minha cabeça, eu não conseguia pensar em algum lado bom, não conseguia imaginar um cenário onde tudo estava bem. 

Minha mente estava num looping doloroso. "Para você aprender a virar homem". A fala de meu pai carregada de socos onde eu tentava inutilmente me defender enquanto minha mãe berrava para que ele parasse estava ecoando na minha cabeça, sentado no chão e meu olhar fixo na porta onde o homem que me repugnava havia saído há alguns minutos enquanto todo meu corpo doía e as lágrimas desciam sem eu ao menos perceber. Minha mãe sentada no sofá em um choro farto e silencioso após eu negar que se aproximasse. Eu estava em choque. Ninguém falava nada. Talvez estávamos chocados demais para isso ou já esperávamos que tal ato iria acontecer um dia e não estávamos preparados. 

Fechei os olhos ao sentir uma brisa fria entrar pela janela do cômodo e consequentemente fazer arder a ferida recém feita no meu lábio inferior. 

Me perguntei internamente por que aquilo estava acontecendo. Minha noite estava perfeita e minhas expectativas estavam altas por achar que meu pai não estava em casa, mas ele estava. Ele estava lá, acordado, esperando por mim que nunca cheguei àquela hora em casa, esperando por algum ato meu que lhe fizesse sentir raiva. Ele esperava por tudo, menos me ver aos beijos com alguém que não era do sexo oposto ao meu. Ter a visão de meu progenitor descontando toda sua fúria e decepção em mim era cruciante. O mesmo homem que estava nas fotos do dia do meu nascimento, com um sorriso no rosto transparecendo a imagem de um pai orgulhoso, esse que havia me segurado quando dei meus primeiros passos, agora se encontrava em um cenário totalmente diferente, totalmente cruel. Um pai marcando o corpo do próprio filho com roxos como forma de educá-lo, de fazê-lo aprender que amor só funcionava da forma que ele admitia. 

Apesar de todo padecimento, o que mais doía não era meu corpo. Meu coração doía por ver minha mãe que com certeza estava com os pensamentos inundados de culpa, doía não conseguir me mover para confortá-la por ainda estar transtornado. Mesmo que não tenha sido atingida, eu sei que nela doía como se tivesse sido contra si própria. Doía nos ver naquela situação. Era uma dor interna, psicológica, tão forte quanto uma batida de um caminhão de toneladas.

A sala foi vagamente iluminada. O barulho longe de um carro se fez presente, acabando com o silêncio longo que estávamos. Passos foram ouvidos e mesmo com a hipótese de ser aquele que não deveria ser citado, eu não tinha medo. Minha respiração parou por segundos quando a porta se abriu abruptamente e revelou quem eu não esperava. Jaebeom parou com a cara em sinal de preocupação e nossa atenção foi para si. Ele parecia extasiado e olhava de mim para minha mãe. Sem perceber e sem ao menos querer, meu peito doeu e eu me vi chorando desesperadamente. Meus soluços eram altos e meu desespero era nítido. Em instantes eu senti braços me rodeando e não liguei para a dor. De joelhos, Jaebeom afagava meu cabelo na tentativa de me acalmar enquanto eu apenas chorava como nunca chorei. 

Pensar que o garoto que eu amava estava me olhando daquela maneira me deixava com vergonha, vergonha de tudo, da forma que eu me encontrava e de não poder lhe dar um relacionamento tranquilo. Depois de alguns segundos com Jaebeom ao meu redor, o vi levantar e caminhar até minha mãe, sussurrou algo como "Você está bem?" e a mesma apenas balançou a cabeça afirmando que sim, depois ele se voltou à mim.

MORPHEUS: between life and dream farawayOnde histórias criam vida. Descubra agora