- Não preciso dele - Diarra anunciou do alto da mesinha de centro, erguendo seu martíni de chocolate. Aplausos por parte da Sina. - Não preciso mesmo!
- Isso mesmo, irmã. Amém.
- Na verdade, não preciso de homem nenhuma! Eu sou... sou... - Estalou os dedos com impaciência, o rosto demonstrando concentração. - Qual é a palavra que estou procurando?
- Você é uma mulher moderna e fodona.
- Isso! - minha irmã sibilou. - Obrigada. Sou uma mulher moderna e fodona.
Enfim chegamos ao apartamento da minha irmã no fim da tarde, devido às paradas solicitadas por Sabina.
Primeiro, paramos numa loja de bebidas. Em seguida, no lugar que vende rosquinhas. E por último, mas não menos importante, numa pizzaria em Pearl. O segurança sombrio e parrudo encarou tudo numa boa.
Carregou as inúmeras sacolas, caixas e garrafas escada acima até o pequeno apartamento de dois quartos da Diarra. Quando se fazia necessário improvisar uma festa do tipo "odiamos os homens", Sabina Hidalgo evidentemente sabia o que fazer.
Minha raiva em relação ao baterista, Lamar Morris, diminuía de fervente para quente. O modo precário como Diarra oscilava sobre seu poleiro me preocupava mais.
- Por favor, não caia daí e frature alguma coisa.
- Masqueporra. - O líquido escuro balançou dentro do copo e caiu no chão gasto de madeira, por pouco não acertando no rosto de Diarra. - Pare de se comportar como uma adulta, Any. Eu sou a irmã mais velha aqui. Você é a menina. Aja de acordo.
Abri a boca para lhe dizer o que achava dessa brilhante ideia, mas uma mão a cobriu rapidamente.
- Não caia nessa - Sabina sussurrou no meu ouvido, o braço ao redor dos meus ombros e a palma ainda me silenciando. - Ela está tão bêbada que você não vai conseguir nada argumentando.
A mão se afastou, apesar de o braço continuar.
- Era com isso que eu estava preocupada - disse.
Provavelmente devia parecer estranho ser tão amigável com ela naquele impressionante sofá novo de veludo da Diarra. Eu acabei de conhecer Sabina. Mas algo nela me chamou a atenção. Tanto em Sabina como em Sina - eu só havia visto Sina uma vez, de passagem. Era preciso apreciar mulheres que exalavam ares de praticidade.
O que quer que acontecesse com o idiota do Lamar, desejei que elas continuassem amigas de Diarra. Ela precisava de amigas de verdade, não as sanguessugas de dinheiro, tempo e energia que ela atraíu nos últimos anos com seus modos de mãe ursa.
- Me corrija se eu estiver errada, mas me parece que a sua irmã não costuma se soltar com muita frequência. Acho que ela está precisando disso.
Franzi a testa.
- Talvez.
Sobre a mesinha, Diarra cantarolava junto à música suave que tocava no aparelho de som. Perdida em seu mundo. Pelo menos o rosto triste tinha sumido.
Eu o vi tantas vezes que valia por uma vida inteira.
Mesmo assim, fiz uma anotação mental para socar Lamar Morris até ela sangrar se um dia eu voltasse a vê-lo. Mais ou menos o bilionésimo pensamento do tipo no dia.
- Gostou de vê-los ensaiar antes de tudo ir por água abaixo? - Sabina perguntou.
- Gostei. De verdade. - Olhei-a de esguelha disfarçadamente. - O baixista... Qual é mesmo o nome dele?
- Josh?
- Hum. - Assenti, tateando meu caminho pela conversa com muita cautela. - Ele pareceu interessante. Uma pena que não deu para sairmos para comer.
- Foi uma pena. Não deixei de notar como você olhou para ele durante o ensaio - comentou Sabina, pondo um fim à farsa da sutileza.
Maravilha.
- Relaxa. Não vou contar nada para a sua irmã. - A mulher suspirou. - Josh, Josh, Josh. Como descrevê-lo? Ele é um cara incrível, bem na dele.
Eu não me pronunciei.
- Mas, fique avisada, ele não é conhecido como um cara que namora.
Olhei de soslaio para ela. Ela me lançou um sorriso.
- Mas, claro, nem a Joalin era antes de nos casarmos. De toda forma...Josh. Acha que é sério?
- Está me perguntando sobre minhas intenções com ele?
Uma risada de divertimento escapou dela.
- Hum. Sim, acho que sim. Tô casada agora, portanto tenho que me meter e bancar a casamenteira. Ao que tudo leva a crer, é isso o que as mulheres fazem. Mas, sério, não estou necessariamente preocupada com a possibilidade de ele sair machucado.
- Vai me dizer que sou jovem demais para ele?
- Isso seria muita hipocrisia da minha parte, levando em consideração que me casei com vinte e um. E você, quantos anos tem?
- Tenho vinte e dois. - Mudei de posição no sofá.
- Bem, ele tem quase vinte e seis, se quiser saber.
Quatro anos. Não era tão ruim assim.
Fiquei olhando para as borras do meu segundo martíni como se em algum lugar dos sedimentos repousasse uma pista. Mas para predizer o futuro são necessárias folhas de chá. Vodca, creme de leite e licor de chocolate não serviam.
- De todo modo, vai ser muito difícil eu voltar a vê-lo, então...
- Você desiste fácil assim? - ela perguntou. - Do jeito que ficou olhando para ele, pensei que fosse mais determinada.
- Ele é um astro do rock. Está sugerindo que eu o persiga?
Ela deu de ombros.
- Astros do rock não deixam de ser pessoas. Mas não acho que seria muito divertido ficar na chuva do lado de fora do hotel dele.
- Não. Provavelmente não. - Mas sabe que eu conseguia me visualizar em uma cena assim?
Triste, porém verdade.
A ideia não era uma estupidez total.
Talvez funcionasse.
Ele definitivamente se mostrou interessado. Pelo menos tenho bastante certeza disso, por causa da maneira como ficou me encarando e do sorriso vago...
Ok, eu precisava descobrir.
- Qual hotel mesmo? Só por curiosidade...
Um brilho surgiu no olhar de Sabina.
- Ei - uma voz berrou. Demorou quase um ano, mas, com movimentos deliberadamente lentos e doloridos, Sina conseguiu se pôr de pé. - Deixa eu ir pegar mais uma bebida pra você.
- Estou b... - Meu copo foi arrancado da minha mão e a bartender autonomeada da noite cambaleou em direção à cozinha.
- É melhor eu ir ajudar, ou você vai receber somente um copo de vodca. - Sabina se sentou mais para a frente, tirando o celular do bolso. Os dedos dela deslizaram pela tela, depois ela o largou no lugar vago ao seu lado, lançando-me um olhar proposital. - Só vou deixá-lo aqui. Tenho certeza de que posso confiar em você para não procurar o número de um certo baixista enquanto estiver na cozinha, certo?
- Claro que pode. Não tenho intenção nenhuma de ir até a letra B de Beauchamp na lista dos seus contatos.
- Em vez disso, tente o J de Josh. - Ela piscou para mim.
- Obrigada - agradeci baixinho.
- De nada. Já vi esse olhar arregalado e apaixonado por um astro do rock antes. - Ela ficou de pé. - No meu próprio rosto, por acaso. Use esse número com sabedoria.
- Ah, pode confiar em mim.
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Let Me Know (Beauany)
RomanceCom aquelas duas linhas do teste de gravidez, tudo na vida de Any Gabrielly Soares, uma simples estudante de Psicologia, estava prestes a mudar para sempre. E tudo por causa de um grande erro em Las Vegas, cometido com Josh Beauchamp, o irresistível...