𝗣𝗿𝗼𝗹𝗼𝗴𝗼

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Positivo.

Reli as instruções, me esforçando para alisar as dobras do pedaço de papel com uma mão só. Duas linhas significavam "positivo".

Duas linhas apareciam no teste.

Não, não era possível.

Meu olhar ia e voltava entre os dois objetos, desejando que um deles se alterasse. Sacudi o teste e o virei para um lado, para o outro. Encarei, e encarei de novo, mas, assim como no primeiro que aguardava rejeitado ao lado da pia, a resposta deste permanecia a mesma.

Positivo.

Eu estava grávida.

- Caralho.

A palavra ecoou no banheiro pequeno, bateu nas paredes de azulejo branco e voltou para a minha cabeça. Aquela merda não podia estar acontecendo comigo. Eu não infringia leis nem me drogava. Não desde aquele episódio, quando papai foi embora.

Eu estudava com dedicação para conquistar o bacharelado em Psicologia e me comportava.

Na maior parte do tempo.

Mas aquelas linhazinhas cor-de-rosa definitivas saltavam com orgulho para fora da janelinha do teste de gravidez, zombando de mim, a prova irrefutável mesmo quando apertei os olhos ou quando cruzei o olhar.

- Porra.

Eu, mãe de alguém. Não.

Que diabos eu faria agora?

Fiquei sentada na beirada da banheira só com a minha calcinha simples preta, toda arrepiada. Do lado de fora, um galho sem folhas balançava, surgindo e desaparecendo de vista, sendo carregado pelo vento. Além dele havia o infinito céu cinzento de Portland em fevereiro. Ao inferno com tudo. Todos os meus planos e sonhos, minha vida toda, alterada pelo que um bastãozinho idiota afirmava.

Eu só tinha vinte e dois anos, pelo amor de Deus, e nem estava me relacionando com alguém.

Josh.

Ah, cara. Mal nos falávamos há meses, já que eu me esforçava para evitar qualquer situação em que ele estivesse presente. As coisas ficaram meio estranhas desde que o botei para fora do meu quarto do hotel em Vegas, sem calças.

Para mim, estava acabado com ele.

Terminado. Fim.

Ao que tudo levava a crer, o meu útero não concordava com isso.

Fizemos sexo uma vez. Uma única vez. Um segredo que há tempos eu decidi levar para o túmulo.

Era um fato que ele jamais contaria a ninguém.

Mas, mesmo assim, seu pênis entrou na minha vagina só uma vez, e eu o vi colocar o preservativo, maldição. Estive deitada, espalhada na cama king size grande como a Califórnia, trêmula de excitação, e ele meio que só sorriu. Houve um calor em seu olhar, uma gentileza.

Devido à tensão evidente que lhe percorria o corpo, aquilo pareceu estranho e ao mesmo tempo surpreendente. Ninguém nunca olhou para mim daquele jeito, como se eu fosse preciosa.

Um calor indesejável preencheu meu peito ante a lembrança. Fazia tanto tempo que eu não pensava nele com qualquer outro sentimento que não fosse um tremendo eca.

De todo modo, pelo visto alguém fez besteira em seu turno na empresa profilática e aqui estávamos nós.

Grávidos. Fitei sem ver meus jeans skinny, descartados no piso do banheiro. Claro, eles caberiam.

Let Me Know (Beauany)Onde histórias criam vida. Descubra agora