1.4; A bolada - Luke

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1.4

Enquanto caminho sozinho do vestiário para o ginásio, lamento o fato de hoje ser segunda-feira. Segundas-Feiras são aqueles dias que você tem que esquecer o fim de semana e se adaptar novamente a escola, sem contar que hoje é o dia das matérias que eu menos gosto.

Sem Michael.

Enquanto empurro as enormes portas do ginásio e coloco os pés na quadra, penso sobre o dia de ontem e como foi tudo muito estranho para mim. O lugar é barulhento e cheio de vida, com tênis guinchando, gritos e respirações ofegantes.

Fico tão distraído com tudo isso que nem percebo quando uma imensa bola de vôlei bate bem no meio de meu rosto, o que me faz ser jogado para o outro lado perdendo todo o meu equilíbrio. Tropeço nos meus próprios pés e caio sem a mínima elegância, chocando meus quadris no chão.

Meu ouvido esquerdo zombe, todo o meu rosto formiga e arde ao mesmo tempo, afasto o pouco cabelo que cai em minha testa e pisco para me livrar da água nos meus olhos. Com um ouvido bom e enxergando mais ou menos, percebo;

Todo mundo na aula de Educação Física está rindo de mim. Alguns tentam disfarçar e outros chegam a apontar o dedo na minha direção, fico com tanta raiva que no momento tento pensar o que Michael faria se tivesse no meu lugar, então na minha melhor ideia eu dou o dedo do meio para todos.

Esforço-me para me levantar, mas meus sentidos estão estranhos, e isso começa a ficar difícil. É como se eu estivesse bêbado! E, sim, eu conheço essa sensação; No Ano novo do ano retrasado tinha muita bebida e naquele dia eu estava muito mal com todo o tratamento, não esperava que fosse viver até a virada do ano, foi ai que resolvi que não poderia morrer antes de experimentar algumas bebidas e resolvi experimentar todas que tinham na casa do meu tio, foi um desastre!

Quando finalmente consigo ficar de pé e o pessoal começa a se dispensar voltando para o jogo, meu olhar se cruza com o de Liza. Há um sorriso malicioso em seu rosto e antes que eu possa pensar mais no assunto, Srta. Jackson dá suas ordens e me manda ir para o banco, que por sofrer de Leucemia aguda é onde costumo ficar todas as Segundas-Feiras no primeiro tempo e as Quartas-Feiras no terceiro tempo. Já devo ter mencionado... Benefícios do câncer!

Horas depois, durante uma explicação de Sr. Thomas sobre o sistema digestorio na aula de anatomia humana, percebo quando Ashton começa a me olhar, da outra fileira, com uma expressão idiota, e, apesar de meu rosto e meu ego ainda estarem doloridos pelo o que aconteceu mais cedo, eu não deixo de sorrir.

- Algo engraçado, Sr. Hemmings? – Pergunta Sr. Thomas se próprio interrompendo.

Ele segura no alto o marcador azul e parece furioso, mas no meio disso começo a me perguntar por que existe senhorita e não existe senhorito? E se existisse, o Sr. Thomas teria me chamado de "Srto. Hemmings" no lugar de "Sr. Hemmings"?

- Sr. Hemmings? – Ele novamente me chama a atenção e eu tento prender uma risada por ouvi-lo me chamar novamente de "senhor". – Alguma piada? – Ele pergunta de novo quando não respondo. Com sua mão, ele ajeita o topete em sua cabeça e fico imaginando se ele tem inveja do meu topete que não exige tanto gel quanto o dele.

- Não, Sr. Thomas. – respondo em voz baixa.

Tento pensar em alguma coisa triste, como o episódio da novela de ontem que assisti com minha mãe após chegar da casa do Michael, mas o sorriso persiste.

O Sr. Thomas me encara fixamente, sem piscar, pelo o que parece uma eternidade e aparentemente parece que ele se convence de que eu não tenho jeito ou sou um maluco, ele suspira e volta a escrever na lousa.

E antes que ele possa terminar a frase que a horas tenta escrever, o sinal toca e me sinto muito culpado por ter arruinado sua aula.

- Estão dispensados. – Ele diz, sem muita, talvez nenhuma, empolgação.

No corredor principal, reparo em uma pequena tatuagem temporária do mascote do Avestruz, bem em uma das perfeitas maçãs do rosto de Liza. Imagino-a se olhando no espelho hoje de manhã, tentando deixar o desenho exatamente desse jeito, o que me faz ri sozinho.

Eu tenho que parar com isso.

-Olá! – Diz Michael, andando ao meu lado.

- Olá.

No caminho, dou uma olhada nos cartazes salpicados pelo corredor, sobre o baile de inverno.

- Eu levei uma bolada hoje – Falo.

- Você ta bem?

- Acho que sim – respondo colocando a mão em meu rosto e checando se a enorme bola de borracha não me deixou alguma marca. – Você quer ir ao baile comigo?

- Como seu par?

- Touché

WANTED NOT TO LOVE [Muke]Onde histórias criam vida. Descubra agora