Honestamente, quando eu acordei de manhã achei que seria um bom dia. Porém, eu acabei de me lembrar que era o início de um novo semestre. Ou seja: calouros. Calouros por todas as partes. Calouros transferidos, calouros que tinham acabado de passar na prova, calouros que decidiram mudar de curso. Ou seja, a universidade está um inferno. Tem pessoas para todos os lados. A nossa cafeteria está lotada. E, pessoal, estamos no Rio de Janeiro, em pleno verão. Isso aqui está quente, e não é no bom sentido.
Ignorando tudo isso, resolvi simplesmente ir para a minha aula. A primeira ia, com certeza, ser a mais caótica. Os alunos iriam interromper, os professores estariam chateados... Mesmo que a minha matéria seja de um semestre mais antigo do que o dos calouros, sempre temos os transferidos. Ou seja, os calouros que se acham porque não são exatamente calouros. Bando de idiotas.
Eu sou uma pessoa legal, embora a fila de garotos dispensados por mim diga o contrário. Simplesmente tenho memória fotográfica, e não quero ter a imagem de um homem feio e nu na minha mente para o resto da minha vida. Pode parecer fútil, mas ok. Eu me dou esse luxo. Quando sentei na minha carteira, olhei ao redor, largando minha bolsa com pouco cuidado. Os meus antigos colegas já estavam lá, como Sandra e Marcelo. Dois idiotas, principalmente o Marcelo, que é um tarado.
- Linda Catarina. O que faz aqui hoje? É o primeiro dia. – ele me sorriu e veio me cumprimentar.
- Eu não falto, Marcelo. Não sou você. – revirei os olhos.
- Dá-lhe na cara dele, Catarina! – riu Sandra.
- Você sabe muito bem que só uma pessoa me dá na cara. – sorriu Marcelo.
E então, um estalo de tapa foi ouvido pela sala.
- Dá-lhe Sandra! – eu ri, erguendo a mão para que ela me cumprimentasse.
- Esse idiota não mudou nada. – ela simplesmente declarou.
Sandra é muito parecida comigo: ambas temos cabelos longos e pretos, mas o dela é liso, enquanto o meu é cacheado. Eu tenho olhos azuis, enquanto os dela são castanhos escuros. Marcelo é um moreno sensual, cheio de sorrisos e usa e abusa do par de olhos verdes que lhe foram concedidos por algum demônio. Deus não daria tanto poder a uma cobra como ele.
- Ei, Catarina, você espiou os calouros? – sorriu Sandra.
Eis o motivo pelo qual a Sandra namora um tarado: ela é outra. Comenta descaradamente sobre os homens, mesmo que o seu esteja perto. Não que eu desaprove, já que ele também faz o mesmo. Morra com essa, Marcelo.
- Não, Sandra. Como eles estão? – falei, enquanto prendia meu cabelo num coque.
- A maioria é horrível. – ela balançou a mão enquanto Marcelo resmungava – Mas rapaz, temos um loirinho... – ela passou a língua pelo lábio inferior – Delícia de pegar.
- Se você diz... – eu ri.
Realmente, Sandra é bem exigente nos seus padrões de beleza. Fiquei curiosa agora sobre esse tal loiro, embora cabelos pintados não seja exatamente uma coisa que eu possa dizer que me acende. Mas, se ele passou no teste da Sandra, deve passar no meu. O meu problema é que eu só quero os gatinhos. Mas, os gatinhos não são burros o suficiente para sair se rastejando por uma garota. E eu quero que eles rastejem.
- Aí, licença. – disse uma voz masculina – Aqui é a turma do Paulo?
Virei-me e respondi que sim automaticamente. Quando vi a expressão de Sandra, entendi. Esse era o garoto que ela tinha comentado. Como eu suspeitei, tinha mais do que passado no meu teste. Cabelos loiros, lisos e bagunçados. Olhos castanhos incrivelmente escuros. Rosto esculpido de deus grego. Corpo de um atleta. Postura de garoto mau, e o nariz empinado como um sério sintoma de arrogância. Eu deveria fazer sociologia, e não administração. Fazer o que se eu vou herdar uma empresa.
- Você poderia ser educado e perguntar se poderia sentar aí antes de sentar perto da gente. – falei, como quem brinca.
- Você poderia parar de ser otária e se mudar se estivesse incomodada. – ele me deu um sorriso de escárnio – Ambos sabemos que isso não vai acontecer.
- Sabe de uma, garoto? – dei meu melhor sorriso angelical – Vá se fuder.
- Se fosse você a me fuder, aceitaria. – ele rebateu, com seu sorriso idiota.
- É uma pena que seja tão babaca. – falei, virando para frente e ignorando o loiro sentado atrás de mim – Porque sim, Sandra. Ele é até gatinho.
Uma coisa sobre eu: tenho que aprender a filtrar as coisas antes de dizer. Mas por enquanto, estou com raiva demais para isso.
- Uma pena que seja tão exigente. Porque você é até gostosa. – ele rebateu.
Sorri para Sandra como quem diz “Eu agüento uma merda dessas?” e ignorei o garoto, começando a abrir o meu caderno de anotações e pegar meus materiais na bolsa. Sandra, entendendo o recado, riu alto e sentou do meu lado. Marcelo se apresentou para o garoto novo, ganhando uma séria patada em troca de sua gentileza, e desistiu de fazer amizade, sentando do lado do garoto e atrás de Sandra. Quando o professor Paulo entrou, eu resolvi esquecer o loiro atrás de mim. Simbolicamente, claro.
...
Quando a aula acabou, eu tinha vários desenhos no meu caderno (porque sim, ajuda a organizar minha mente) e um loiro estúpido discutindo com o professor. Sandra resolveu interferir, levando sérias patadas do garoto, enquanto eu revirava os olhos e encarava os dois com cara de tédio. Quando percebi que aquela briga ia demorar, olhei séria para o professor.
- Professor Paulo, se eu não me engano, a Coordenadora do Departamento tinha passado aqui mais cedo e tinha um recado para o senhor.
Ele me olhou, chocado, e arrumou suas coisas rapidamente. Ignorando os insultos do rebelde atrás de mim, saiu atrás da coordenadora. Eu suspirei para Sandra enquanto ela sorria para mim.
- Você não tinha nada que se meter, sua caretinha de merda. – praticamente rosnou o menino.
- E você deveria se acostumar, playboyzinho de merda. Os incomodados que se mudem, e você vai ver que a minha paciência é bem longa. – lhe lancei um sorriso calmo.
- É melhor que seja, porque eu estou determinado a tornar a sua vida um inferno. – ele se aproximou de mim, como se quisesse me botar medo.
- Ah, mas que meda. O playboyzinho tá irritado. – fiz um biquinho.
Pode ser loucura minha, mas eu acho que vi o loiro passando a língua nos lábios ao olhar para mim. Então, percebendo minha cara de confusa, ele riu alto, se jogando para trás.
- Realmente uma pena ser tão babaca. – ele piscou para mim.
É impressão minha, ou o playboyzinho de merda tá me chamando para uma briga? Filho de uma puta.
Capítulo pequeno, só para dar uma ideia do tipo de relacionamento que temos entre o Daniel e a Cat. O próximo será maior, por isso deixem uma estrelinha ou um comentário para saber se irão acompanhar ou não. Isso realmente me anima muito!

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Os Irmãos Becker e Eu
RomanceCatarina Cavalcanti tem algumas situações para resolver em sua vida. A garota tem sérios problemas para perceber quando os garotos gostam dela como algo mais. Memória fotográfica, o que a faz mais inteligente do que a maioria das pessoas. E ainda é...