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Soneto de despedida.
Este não é o primeiro texto
que escrevo
para você, mas
talvez seja
o último.Digo isto com
lágrimas nos meus
olhos
e uma adaga inconstante
atravessada
no meu peito.Por mim eu te escreveria
o dia inteiro,
para sempre, mas
a vida não quer que seja
desse jeito.Nossos caminhos são
distintos,
não se cruzam e,
se um dia eu voltar
a escrever sobre você
provavelmente vai ser
sobre a história de como
você descobriu o amor
nos braços de outro alguém.- 2 -
Você esperou durante horas, ao longo de meses e, depois de muitas lágrimas, percebeu que ele não vem.
Provavelmente, agora, ele está junto a outro abraço e quando você pensa nisso seu peito dói.
Não que isso seja uma surpresa, mas existia uma parte dentro de você que acreditava que vocês teriam um final feliz.
Você achou que podia mudá-lo, ou ao menos, ele se daria conta que você podia ser o que ele queria, mas as coisas não funcionam assim.
Suspeito que todos passem, em algum momento da vida, por isso. A crença de que você pode mudar uma pessoa que você sabe que é a errada. É instigante, mas incrivelmente torturador.
Nem todas as pessoas podem ser mudadas, nem todas querem ser mudadas, às vezes, o melhor que fazemos é desistir.
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Quem sabe,
se eu ficar em silêncio,
eu fique famoso,
mas e daí?Quando penso nisso,
meu olho não brilha.O que adianta ficar famoso
em um país que está
quase em ruínas?Que o presidente
promove chacina,
que a milícia manda
em famílias
e a polícia
entra na favela
e tira
mais uma vida?Do que adianta?
Nem a Ágatha,
nem a Jenifer,
nem o Kauã
e nem o João Pedro
vão estar lá
para me assistir.Eu não vou ficar feliz
se eu entrar pra história
de um país
que concebeu sua raiz
em cima do sangue
de vidas inocentes.Olhem para si,
olhem para frente,
não aplaudam o ódio
e a ignorância dessa gente.A cada alma que se vai,
por maldade ou negligência,
todos nós morremos
um pouco mais.Nossas estrelas estão perdendo o brilho, não as deixe apagar.
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Na segunda-feira, o garoto João Pedro, 14, foi assassinado, dentro de sua casa, pela Polícia do Estado do Rio de Janeiro. Ontem, o número de óbitos pelo coronavirus chegou a 1.179 em um único dia, enquanto o presidente segue negligenciado o isolamento. Isso não é normal. Isso não é sobre política. Hoje não precisa ser pior.
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ONE VERSE
PoetryTodos os textos publicados na @02h32am, desde 9 de maio de 2019, até hoje.