14

45 6 6
                                        

I'll carry you home
Till I'm old and gray

LIZZIE —

Chego no hotel tão rápido que estou sem fôlego, mesmo com a mãe de Matt dirigindo.

Desço correndo, sem nem esperar por ela.

Área de serviço. Área de serviço. Ele está na área de serviço. Onde fica essa porra?

Encontro um rapaz vestindo o uniforme do hotel.

Antes que ele possa processar o que está acontecendo, eu o agarro pelo colarinho da camisa branca.

— Onde fica a área de serviço? — eu praticamente solto um rosnado, e ele não responde nada. — Onde fica a porra da área de serviço? — repito.

— Segue o corredor até o final, desce a rampa à esquerda, segunda porta.

Eu o solto, e corro na direção indicada.

Meu nível de adrenalina está alto, e meu coração bate tão rápido que sinto que vou entrar em colapso logo. Que se dane.

Sigo o maldito corredor, desço a maldita rampa, abro a maldita segunda porta e...

Matt está sentado no chão, encolhido, abraçando as próprias pernas. Seu rosto está inchado, e sei que ele chorou muito. Matt sempre foi de chorar, mas, dessa vez, me dói um pouco mais que o normal.

Os cabelos dele estão grudados contra a testa, colados com suor.

— Matt. — eu digo, batendo a porta e sentando ao lado dele.

Ele encosta a cabeça em meu ombro, e a dor no meu peito evolui para raiva. Ódio. Quero matar Melanie Collins. Quero matar os amigos dela. Estou tão nervosa que começo a chorar também.

— Eu sinto muito. — digo, envolvendo-o em um abraço. — Sinto tanto, Matt...

— É culpa minha. — ele diz, com a voz embargada. — Eu sou tão burro, Lizzie... sou muito idiota... eu realmente acreditei... acreditei que ela podia gostar de mim e... — ele suspira, tentando se acalmar. — Por que eles fizeram isso comigo? — ele me olha nos olhos, e os seus estão marejados, vermelhos, inchados.

— Porque você é você. — respondo. — E eles são idiotas. Idiotas que não sabem lidar com a pessoa incrível que você é.

Ele fecha os olhos.

— Eu sou muito estúpido... muito estúpido... — ele continua repetindo. Eu seguro sua mão.

A porta se abre, e uma funcionária do hotel aparece. Ela olha para nós com compaixão, mas passa por nós rapidamente.

Com a porta aberta, consigo ouvir a música que toca no saguão.

— Matt. — eu chamo. — Matt, vem. Vamos lá. — ainda segurando a mão dele, uso toda a força que tenho para puxá-lo. Ele me olha com curiosidade. — Vem. Vamos fazer isso.

A música que toca é a mesma com a qual ensaiamos tantas vezes. Consigo identificar a melodia — e o compasso — mesmo de longe.

Matt permanece segurando a minha mão, com força.

— Matt Rowan. — eu digo. — Aceita ser meu par nessa dança? — faço um floreio exagerado e ele solta um risinho, ainda que triste, e assente.

— Vai ser uma honra.

'Cause lovers dance when they're feeling in love
Spotlight's shinning it's all about us
It's all about us
And every heart in the room will melt
This is a feeling I've never felt but
It's all about us

MATT —

Suddenly
I'm feeling brave
I don't know what's got into me
Why I feel this way
Can we dance
Real slow?
Can I hold you
Can I hold you close?

Lizzie e eu dançamos no saguão do hotel, mesmo sabendo que todo mundo olhava para nós. Fora dos parâmetros do ensaio, eu a fiz girar, puxando-a de volta para mim, fechando inúmeras vezes o quadrado ao nosso redor.

— Ei, vocês dois. — é minha mãe chamando, assim que a música acaba. — O que acham de ir para o baile? Ainda dá tempo.

Eu olho para Lizzie, e ela está olhando para mim.
Assentimos juntos, e corremos para o carro.

Descemos em frente à escola em menos de dez minutos.

Lizzie está linda, e eu estou vestido de garçom, com uma roupa com cheiro de mofo e naftalina, mas não estou nem aí. Posamos para fotos na entrada, cumprimentamos professores no corredor e corremos para a pista de dança.

Posso ver que estão olhando para nós. Um corredor se abre, e Melanie aparece no meio dele, olhando para nós dois, incrédula.

Lizzie faz menção de ir até ela, mas eu a seguro pela mão.

— Deixa para lá. — digo. — Não vale a pena.

Estou com raiva. Estou puto para cacete, mas não quero estragar a noite que Connor disse que seria a melhor da minha vida.

Eu não tenho nos braços a garota que se parece uma princesa da Disney, mas tenho a garota que esteve ao meu lado a vida inteira. Uma garota mimada, egoísta e fútil como Melanie nunca seria capaz de viver comigo a melhor noite da minha vida.

Pensando nisso, olho para Lizzie, tão perto de mim, o perfume Dolce & Gabbana suavemente dançando no pequeno espaço entre nós. Lizzie não se parece com uma supermodelo, mas ela é mais que isso. Ela é minha maior companheira, minha parceria, e meu porto seguro...

Imediatamente, é impossível acreditar — e aceitar — que joguei meu primeiro beijo fora.

— No que está pensando? — Lizzie pergunta, olhando para mim com curiosidade.

Eu balanço a cabeça. Nada.

— Fala. — ela diz, pisando no meu pé de propósito.

Eu rolo os olhos, envergonhado.

— Eu desperdicei meu primeiro beijo. — respondo. É tão ridículo que não consigo olhar para ela.

Ela começa a rir. Curioso, envergonhado, e agora um pouco irritado, eu olho para ela.

— Mas eu não. — ela diz, parando na ponta dos pés e selando nossos lábios.

Connor estava certo.

"Sempre há uma outra chance, uma outra amizade, um outro amor, uma nova força.
Para todo fim, um recomeço."

— Antoine de Saint-Exupéry
(O Pequeno Príncipe)

NOTA DA AUTORA: Gostou desse capítulo? Não esqueça de votar nele! Isso ajuda muito! (É só clicar na estrelinha ⭐️)

Till I'm Old and GrayOnde histórias criam vida. Descubra agora