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When you grow older
I'll be your shoulder still

LIZZIE —

Quando eu tinha cinco anos, me dei conta de que Matt e eu éramos diferentes. Acho que, até então, eu acreditava que tudo era igual para nós dois. Parecia fazer sentido, já que morávamos na mesma casa, brincávamos no mesmo quintal, nos divertíamos juntos.

Mas Matt era o centro das atenções, até mesmo para os meus pais. Eu vivia à sombra.

Uma vez Matt se machucou com uma tesoura de jardinagem no quintal. Tanto meu pai — o jardineiro — quanto minha mãe — a empregada —correram a seu resgate. Era meu aniversário. Eles me deixaram sozinha na imensa casa que não era minha, para leva-lo ao hospital.

Sozinha em casa, eu chorei. Achei que meus pais o amavam mais do que a mim. Mas, quando eles chegaram, com Matt costurado com seis pontos na perna, minha mãe chorava copiosamente. Meu pai derramou uma lágrima, que ele nunca soube que eu vi.

Eles tinham certeza de que iam ser demitidos. A tesoura não devia estar onde estava. Estava ali por um descuido do jardineiro, o meu pai.
Foi aí que eu entendi que eles me amavam demais, e era por isso que estavam desesperados com o acidente de Matt. Sem o emprego, como fariam para cuidar de mim?

Quando os pais dele chegaram em casa, me trazendo de presente um par de sapatilhas de balé, meus pais encararam com coragem a possibilidade da demissão. Felizmente, isso não aconteceu.

Os pais de Matt quiseram saber se ele estava bem de verdade, e isso foi tudo. A mãe dele abraçou a minha, e o pai dele deu um tapinha no ombro do meu.

Acho que esse foi o momento em que eu soube que Matt e eu não éramos iguais.

Teríamos sempre a mesma idade, compartilharíamos o dia do aniversário e um monte de gostos peculiares e lembranças de todos os tipos, mas nunca seríamos iguais.

Mesmo assim, eu nunca tive raiva dele. Muito pelo contrário. Éramos amigos desde sempre, nos divertíamos juntos e compartilhávamos piadas e segredos desde sempre. Quando ele tinha medo do monstro embaixo da cama, corria para dormir no meu quarto ou me chamava para acampar na sala dele, com uma barraca de verdade e lanternas.

Não é possível — ou sequer justo — que as classes sociais sejam mais forte que isso, certo?

Errado. Enquanto deixo o quarto dele e vou para o meu, com a promessa de ajuda-lo diariamente nas semanas seguintes a aprender a dançar, só consigo pensar que toda nossa proximidade emocional foi para o ralo com a simples menção de Melanie Collins, a garota alta, magra, loira e rica por quem Matt se apaixonou.

Bato a porta atrás de mim, assustando a minha mãe, que está em frente à pia, lavando nossa louça.

— O que aconteceu? — ela pergunta, olhando pela janela como se esperasse encontrar a resposta exatamente do outro lado.

— Desculpa. Não sabia que você estava aqui.

Ela tira o pano de prato do ombro e seca as mãos, andando até mim e sentando-se do outro lado do balcão.

— Onde você estava? — de início, ela sequer olha para mim. Não é uma pergunta difícil de se responder. — O que estavam fazendo dessa vez?

— Ele precisa de ajuda com... um problema. Coisa da escola.

Minha mãe assente, movendo algumas coisas em cima do balcão enquanto espera que eu fale mais.

— O baile é daqui algumas semanas. A formatura. — pego o molho de chaves da mão dela, girando-o entre meus dedos. — Ele está planejando chamar a Melanie.

Ela assente outra vez.

— Certo. E você vai com quem? — pergunta, finalmente me encarando.

Dou de ombros.

— Eu não vou a bailes. — é uma resposta óbvia. Cheguei até aqui sem participar desse show de horrores, e não pretendo ceder agora.

— Não é só sobre o baile que estou falando, sabe? — minha mãe diz. Ela sustenta o olhar sobre mim.

Como é possível que pareça que ela vai ler toda a verdade de dentro de mim?

— Tem um monte de garotos por aí, não é? Não é como se não houvesse opção.

Minha mãe está certa, mas não gosto do rumo que as coisas estão tomando.

— Precisa de ajuda? — pergunto, apontando o restante de louça sobre a pia.

Minha mãe rola os olhos. Ela me conhece, sabe que estou desviando do assunto.

Mas eu a conheço, sei que não vai insistir nele.
E é por isso que nos damos tão bem.


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Till I'm Old and GrayOnde histórias criam vida. Descubra agora