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And I will take you as my wife
You take my soul, take my life

MATT —

Na hora do jantar, não consigo pensar em qualquer coisa que não seja o baile.

Quanto mais tempo esperar, menos chances terei, então decido que, logo após o jantar, vou mandar uma mensagem para Melanie e convidá-la para qualquer coisa em que eu possa olhar para ela e fazer o convite pessoalmente.

Só de pensar nisso já estou suando, e parece que meus pais podem ler minha mente e subtrair de lá todo tipo de informação constrangedora sobre isso e usá-las para me julgar em silêncio.

Enxugo as mãos suadas na perna da calça, e olho para os meus pais, um de cada lado da mesa.
Uma pontada de tristeza cresce em mim.

Seu casamento está morto há séculos e, como as estrelas, só vemos o que restou depois de muito tempo. Os dois são infelizes, mas não há realmente nada que eu possa fazer para mudar a situação.

Não trocamos uma palavra durante o jantar, e a primeira interação humana é só quando Bernice, a mãe de Lizzie, chega para recolher os pratos e eu agradeço quando ela recolhe o meu.

Minha casa, em momentos como esse, é mais silêncios que um templo. Eu costumava me incomodar com isso, mas agora já sei que isso é um dos fatores que me moldaram como sou. Uma casa enorme e silenciosa, com pais infelizes vivendo de aparências... isso molda muitas pessoas por aí.

Em situações assim, não consigo evitar sentir inveja de Lizzie e sua família, sempre tão íntimos, conectados, falantes. A esposa do meu tio uma vez disse que pobres são barulhentos. Sempre tive raiva dela por falas como essa, até que respondi a esta mesma fala com "Talvez a gente se parecesse uma família se fôssemos pobres" quando eu tinha doze anos.

Meu pai bebe um gole de suco antes de fazer a pergunta diária.

— Como foi seu dia?

Acho que isso o faz sentir-se bem, um bom pai, presente e atencioso. Eu não o culpo, mas seu interesse nada genuíno às vezes consegue me deixar furioso.

— Ótimo. — é minha resposta diária, seguida por algum comentário vazio sobre qualquer acontecimento irrelevante na escola. Ele suspira aliviado. Com certeza tudo que ele menos deseja é se envolver em drama adolescente e, de qualquer forma, ele vai se esquecer em segundos, quando tirar o celular do bolso, olhar o horário e deixar a mesa de jantar. Ele então irá para a sala, onde ligará o laptop e trabalhará mais um pouco, com a desculpa de que precisa zelar pelo meu futuro, quando, na verdade, ele é simplesmente incapaz de sequer ser qualquer coisa além do próprio trabalho.

— O baile está chegando, não é? — minha mãe pergunta, esforçando-se para parecer animada e casual ao mesmo tempo.

Eu assinto, mas ela continua me encarando.

Minha mãe é uma mulher muito bonita.

Mesmo com todas as coisas pelas quais passou nos últimos anos, que lhe renderam algumas rugas ao redor dos olhos, ela ainda é bonita como nas fotos de seus bons momentos na escola.

Ela fora líder de torcida durante todo o ensino médio e capitã da equipe nos dois anos finais. Ela é esse tipo de pessoa, que faz tudo perfeito.

— Vai levar a Lizzie? — minha mãe pergunta, mantendo-se no controle de seu tom de voz, especialmente para não me assustar. Ela sabe que tenho tendências a me fechar no meu próprio casulo emocional.

Não respondo a pergunta dela. Já faz dois anos desde que ela cismou que Lizzie e eu somos um casal, e nada nesse mundo é capaz de faze-la acreditar que não somos nada além de amigos.

— Estou planejando levar a Melanie. — respondo, já que ela continua a me encarar. Alguma louça bate com força na cozinha.

— Melanie...?

— Collins. Melanie Collins. — digo. A expressão de alívio e o sorriso em seu rosto só reforçam o que eu já sei. Apesar de acreditar em mim e Lizzie como um casal, ainda é óbvio que ela prefere me ver circulando com uma garota que se encaixe no padrão das festas idiotas que ocasionalmente frequentamos só pelas aparências.

— Posso ajudar vocês com o traje, se quiserem. — ela diz, desistindo de conter a animação.

Assinto outra vez. Até que não é má ideia.


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Till I'm Old and GrayOnde histórias criam vida. Descubra agora