REYNE- Reyne, e suas dores

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Sua vida desmoronou pouco depois que seu irmão foi embora para a Muralha

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Sua vida desmoronou pouco depois que seu irmão foi embora para a Muralha.

Ela e Tyanna estavam conversando sobre a sua mãe.
–Como ela era?
–Sua mãe era uma mulher muito boa, até mesmo gentil. Era e ainda é algo difícil de se ter em um bordel.
–Como ela foi parar lá?
–Do mesmo jeito que eu. Nascendo lá. Sua avó também era prostituta. É uma sina da qual mulheres que nascem em tais lugares não consigam escapar da posição de sua mãe. Ela era muito nova, muito mesmo, quando vocês dois nasceram. Mas por incrível que pareça ela sabia quem era seu pai, por que ele pagava caro para ter exclusividade dela.
–Então ele sabe quem somos? Quer nos matar por que temos o sangue dele?
–Não, ele quer te matar por ter o sangue de sua mãe. Ela tinha um sangue especial e raro. Ele não quer deixar pontas soltas por aí sendo tão ridiculamente importante e rico.
Tyanna ficou com os olhos tristes.
–Eu me lembro do saque de Porto Real. Sua mãe disse para eu correr com vocês dois, ela se fez de isca para atrair os soldados para outro lugar enquanto eu corria com os bebês. Eu vi ela sendo cercada, sabendo que não tinha como fugir. Então eu consegui passar pela confusão, ouvindo pessoas morrendo, meninas sendo violadas, os soldados rindo da dor que estavam causando. Não sei que milagre me fez passar despercebida, mas atravessei a cidade e consegui sair. Eu fui trabalhando de bordel em bordel até chegar aqui. 
Tyanna a puxou para si e lhe deu um abraço.
–Tarbeck um dia vai sair de lá, deixei um bilhete para ele com instruções sobre onde nos encontrar com o homem que o levou. Creio que se ele não fizer seus votos poderemos o encontrar em Porto Real, que a essa altura não vai desconfiar das suas identidades.
–Nós vamos ver ele de novo?
–Sim, eu garanto.
De repente alguém bateu na porta com extrema força, assustando as duas.
Tyanna, prevenida, tinha um buraco bem disfarçado na parede, atrás de uma mesa onde Reyne podia facilmente se agachar.
Por causa da mesa ninguém via a pequena passagem.
–Vá!
Quando Reyne estava segura, a porta foi arrombada e soldados entraram, gritando com Tyanna e ordenando que ela dissesse onde os bastardos estavam.
Tyanna debochou e disse que não tinha filhos para ter bastardos.
Reyne ouviu o som de pancadas. Muitas delas.
Chutes, socos, tapas...
Quando tudo ficou em silêncio, ela saiu.
Ficou assustada ao ver Tyanna jogada no chão, completamente deformada.
Havia dentes quebrados espalhados ao redor, uma poça de sangue que vazava sem parar.
–Tyanna!
Em desespero, a sacudiu, mas não teve resposta.
–Tyanna acorda! Tyanna você precisa acordar!
Ela tentava a levantar de todo jeito, mas depois de tanto chamar e remexer no corpo, teve que constatar que não tinha mais volta, ela havia morrido.
–Tyanna, não me deixa!
Reyne chorou como nunca tinha chorado antes.
Como ela vai fazer sem seu irmão e sem a mulher que amava como mãe?
Pegou o pouco que tinha e foi embora do bordel, com medo que os soldados voltassem ao saber que havia sim uma criança ali.
Durante dois anos, viveu nas ruas.
Era bem rápida e habilidosa, roubava com velocidade e conseguia correr bastante para escapar de guardas ou pessoas enfurecidas que ela afanou.
Ela passava frio e fome, mas sobreviveu como dava.
Mas as coisas pioraram quando uma vez, mesmo dormindo bem escondida, um guarda da cidade encontrou seu esconderijo e a tirou de lá a arrastando pelos cabelos, e a vendeu para um dono de bordel.
Esse dono tinha uma clientela muito seletiva e específica. Homens que gostavam de meninas e meninos bem jovens.
E esse homem a entregou para um velho gordo e fedorento, com quem Reyne teve a sua primeira vez, aos nove anos.
Ela nunca sentiu tanta dor no corpo como naqueles instantes.
Ela passou dois anos e meio ali, até seu "dono" achar que ela estava muito velha para os seus negócios, afinal começou a crescer seios nela.
Então ela foi parar em outro bordel, que era um pouco menos pior.
Lá havia uma prostituta com origens no Império de Yi-Ti, com cabelos lisos e negros, olhos puxados e pele amarelada.
Essa mulher devia ter uns trinta anos, era a mais bonita e desejada do lugar e por algum motivo gostava de Reyne e parecia sentir carinho por ela.
Seu nome era Amaterasu, como a deusa sol de seu povo.
Foi com ela que aprendeu a cantar, dançar e tocar um alaúde.
Reyne começou a ser bem rentável para o estabelecimento com seu talento.
Um dia, Amaterasu a chamou em seu quarto e lhe deu um alaúde novinho em folha.
–Eu consegui juntar bastante dinheiro para comprar essa coisa cara. Ele vai durar muito feito com essa qualidade. Vê se cuida bem dele, menina!
Reyne olhou o instrumento com surpresa.
E olhou para ela desconfiada.
–Por que você está sendo tão boa comigo?
Amaterasu riu.
–Tão nova e tão sem fé nas pessoas.
Ela balançou o cabelo de Reyne com a mão.
–Nós somos mulheres, e quengas. Para o mundo lá fora somos a escória do mundo, que só serve para ser usada. Eles não ligam se nós queremos, se está doendo, se precisamos que pare, se não aguentamos mais. Se nós não formos boas entre nós e tratarmos umas as outras bem, ninguém mais o fará. Temos que nos unir. Essa é a única maneira de resistir, não há outra. Se formos más entre nós, não terá salvação para ninguém.
Ela pegou o alaúde e sorriu.
–Obrigada, Amaterasu.
–De nada querida. E trate bem esse objeto viu? Ele custou muito.
–Eu vou tratar! -ela prometeu.
Dias depois, um cliente bêbado causou uma grande confusão e acabou derrubando uma tocha.
Uma briga começou e outras tochas foram atingidas, começando um grande fogo.
Reyne, que estava cantando no dia, só conseguiu correr saindo com a roupa do corpo e o alaúde pendurado no seu ombro.
Poucas prostitutas conseguiram sair.
Ela viu depois o cadáver de Amaterasu, com queimaduras espalhadas pelo corpo inteiro.
–Mais uma vez eu perco tudo! Mais uma vez perdi alguém!
Ela chorou, e gritou de frustração.
Então enxugou suas lágrimas e tentando não lembrar do passado, se tornou uma barda e foi cantando de cidade em cidade.
Os anos se passaram.
Um dia se lembrou das palavras de Tyanna, sobre Porto Real e resolveu ir para lá investigar uma maneira de encontrar seu irmão.
Mas em vez disso Tywin Lannister foi quem a encontrou.
E por consequência Cersei, que entregou Reyne para o Montanha.
Foi horrível.
Doeu ainda mais que sua primeira vez tão pavorosa.
Ódio por Cersei correu entre suas veias.
Como uma mulher pode fazer isso com outra, sabendo o quanto isso dói? Ainda mais uma irmã?
Tudo bem que nunca tinham convivido mas ela jamais faria isso com ninguém, jamais entregaria uma mulher para um destino tão lamentável. Como alguém pode fazer isso, e justamente por ser irmã dela? Como se ela quisesse ter algo com a família Lannister!
Ela ainda teria vingança! 
Era uma promessa!
–Reyne? Outra crise de choro? - disse Tyrion, interrompendo seus pensamentos.
–Não se preocupe. Não é nada demais.
Tyrion não concordava. O pouco tempo ao lado dela já tinha reparado que Reyne tinha crises histéricas de choro muito fortes. E depois dessas crises, ficava apática, olhando para o nada com desânimo, e ele precisava ser muito insistente para que comesse algo.
Esse tipo de comportamento o deixava assustado. 
Ele achava que Reyne podia ter até algum problema nos nervos ou na cabeça para dar essas crises.
Ele genuinamente se preocupava, e se estranhava por isso.
Nunca pensou em sentir preocupação pelo bem estar de uma irmã.
–Reyne estamos chegando em Essos.
–Que bom.
Ela olhava o continente se aproximando e estava decidida a fazer algo que sabia que podia dar terrivelmente errado.
–Para onde você vai?
–Para Daenerys Targaryen.
–Quer mesmo se vingar, hein?
–E você não quer?
–Sim, mas o que tem a oferecer?
–Meu ódio. -ele disse, em tom decidido.
–Eu também tenho ódio, mas só isso não basta. Eu preciso de treinamento, de poder me defender e só há um lugar que eu posso ir.
–Você vai para...
–A Casa De Preto E Branco.

A Leoa RenegadaOnde histórias criam vida. Descubra agora