Capítulo 33

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Deitada em sua cama, enquanto tentava ler um livro, Helena não conseguia parar de pensar no que ouvira de Santana, atormentada pela culpa por ter magoado Marcinha. Sabia o quanto a garota era sensível e que fora fria e pelo retrovisor pode ver a expressão embasbacada de sua aluna.

Não tinha nem de longe a intensão de magoá-la, pelo contrário, tanto que reconhecia que dava a ela um tratamento especial em relação aos demais alunos, pois havia se afeiçoado muito a ela. No dia seguinte daria aulas para a turma de Marcinha e temia qual pudesse ser sua reação. Não saberia o que fazer ante ao seu olhar tão tristonho ou de raiva. Sentia em seu coração que deveriam conversar e serem claras uma com a outra para resolverem juntas todo qualquer mal-entendido, e em meio à seus pensamentos ouviu seu telefone tocar.

HELENA -Oi Luciana! Boa noite princesa. Que surpresa!

LUCIANA -Oi Lê, tudo bem com você e meu irmãozinho? – perguntou toda carinhosa.

HELENA -Estamos bem sim meu anjo, obrigada por perguntar e você? Está de folga essa noite?

LUCIANA -Estou cansada isso sim, a mais de 30 horas de plantão. Só sairei daqui no início da manhã. Hoje atendemos uma aluna do ERA. Fique calma que não aconteceu nada grave, ela está bem, ficou algumas horas em observação e já teve alta.

Na mesma hora Helena pensou em Marcinha e perguntou quem era a aluna, apenas para confirmar sua suspeita.

LUCIANA -É a Marcia Andrade de Melo, filha do doutor César. Uma graça de menina!

HELENA -E o que aconteceu com ela? – Quis saber toda preocupada.

LUCIANA -A menina desmaiou na praia e deu entrada no hospital com sinais de desidratação. Ficou vagando sem comer e beber por horas e pelo que entendi, foi caminhar para espairecer porque tirou a primeira nota baixa da vida dela. Sei exatamente o que ela sentiu e você também se lembra quando tirei nota baixa em Física e eu chorava desconsolada e vou te contar a menina não chorou pouco, mas me fez jurar que não contaria para o pai dela. Fiquei morrendo de pena, tadinha!

Helena sabia que era mentira, Marcinha só tinha notas altíssimas, e que era a responsável pela tristeza da menina, e diante do exposto, a culpa a consumiu ainda mais. Precisava falar com a aluna com urgência, pedir desculpas, se retratar de alguma forma.

Ficou pensando se deveria mandar uma mensagem ou não e logo depois se despedir da enteada, achou por bem mandar.


Percebeu que ela visualizou quase que instantaneamente sua mensagem, a qual não respondeu

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Percebeu que ela visualizou quase que instantaneamente sua mensagem, a qual não respondeu.

"Oh minha criança, juro que não queria te magoar!" – dizia para si mesma, tamborilando os dedos de uma mão no peito, angustiada e só fora abatida pelo sono, após tomar um analgésico para dor de cabeça.

Na escola, a ausência de Márcia não passara desapercebida, mesmo porque antes de entrar em sala de aula, Rosinha comunicara sua falta. Não foram poucas as vezes que olhou para a carteira vazia, de forma discreta para não chamar a atenção dos demais alunos.

Sua melhor aluna fazia falta em suas aulas, de todos era a mais participativa, sempre questionadora, acrescentando novas informações ao conteúdo ministrado, com empolgação. Lembrou de seus olhinhos que se fechavam e das covinhas fofas que se formavam todas as vezes que sorria quando recebia um elogio não somente dela, como os demais alunos também, sempre muito querida.

Sabia que não adiantava se lamentar e por isso focou ao máximo em seu trabalho, executando-o com muita competência. Além das aulas de histórias, suas quartas-feiras costumavam ser bastante atribuladas e não teve poucas tarefas, principalmente administrativas. Sentia-se aliviada por agora ter Santana para dividir algumas delas.

À noite seria realizada a primeira reunião de pais e mestres e reunidas aos outros professores redigiram a pauta da mesma. Lorena também participou ativamente com o corpo docente. Como proprietária fazia questão de estar presente.

No meio da tarde Helena e a ex-cunhada voltaram juntas para casa e então se prepararem para o compromisso da noite.

Em seu closet procurou por algo causal e optou por uma blusa de linha creme e uma calça de mesma cor. Após o banho, fez uma maquiagem básica, nada muito chamativo para a ocasião. Telefonou para o filho que dormiria com o pai e a irmã, na casa da médica, e logo depois mandou mensagem para Lorena, avisando que estava pronta e poderiam ir.

Revisou mais uma vez a pauta da reunião, se precavendo para que nada desse de errado. Chamou os professores para alguns apontamentos finais, os dispensando em seguida para que cada um fosse para suas respectivas salas. De repente se lembrou que precisava dar um recado à Santana e foi atrás dela em sua sala, mas deu meia volta ao reconhecer seu antigo amor do passado.

César estava de costas, falando ao celular e não percebeu sua presença. Seu coração parecia que iria sair boca a qualquer momento, estralando os dedos compulsivamente, encostada na porta querendo se proteger do que teria de enfrentar e fora pega de surpresa por Santana que ao abrir a porta abruptamente praticamente a arremessou para frente.

HELENA -Meu Deus Santana, você quer me matar de susto? – Esbravejou em voz baixa

SANTANA -Helena, o Dr. César está ai! – avisou com seu jeito todo espalhafatoso – E menina que homão é esse!

HELENA -E eu não sei? O encontrei no corredor, distraído no celular e então dei meia volta, antes que ele me visse.

SANTANA -Oi? Por um acaso a sua intenção é correr desse homem?

HELENA -Claro que é. Não estou preparada minha amiga, não mesmo. Não sei o que fazer, nem o que dizer.

SANTANA – Não vai bancar a adolescente, não é? Vai lá e enfrenta esse problema de uma vez! Você vai encontrar com esse homem pela vida afora um milhão de vezes e vai fazer o que? Vai fugir sempre que o encontrar? Se esconder embaixo de mesa, se jogar pela janela, se rastejando no meio da sala?

HELENA -Mas assim sem preparação, de repente? O que eu vou dizer? – Perguntou, desesperada

SANTANA – O que se diz quando encontra um ex namorado uai! – Respondeu em tom de brincadeira – Oi, tudo bem? E aí, como é que vai? – disse imitando a amiga, que mesmo nervosa não resistia as gozações da outra.

HELENA -E se ele fingir que não me conhece, ou me tratar mal? Não podemos nos esquecer de que o César me odeia!

SANTANA – Pare de ser exagerada. Um homem fino e educado como ele não seria capaz de tamanha grosseria e depois se ele fizer isso mesmo, empine ainda mais esse seu narizinho arrebitado, arqueie a sobrancelha e diga; o homem que pensei que fosse o senhor é bem mais educado.

HELENA -Você hein! Consegue tirar até leite de pedra! – comentou animada – Vou lá enfrentar esse homem de uma vez por todas e seja o que Deus quiser minha miga.

SANTANA -Vai dar tudo certo e essa é a melhor hora para encará-lo de frente, enquanto está rodeado de mães. Vou avisar para Lorena começar a reunião e que você irá em seguida. Respira e boa sorte minha linda. – E a abraçou.

Santana havia deixado a porta aberta e no exato momento em que estava saindo seu olhar cruzou com o de César que entrava na sala para continuar a falar no celular e fugir do barulho.

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