Prólogo

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Eae gente, bom... antes de eu postar o último cap de ET&F, resolvi postar o prólogo desse história aqui e iniciar logo a jornada que vai ser Meu Vintage Amor, é só isso mesmo kdjkjk, espero que gostem, boa leitura.

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Quando eu era criança, não me lembrava de sentir dor física simplesmente por sentir. Sem nenhum fator - como um tombo ou um tapa da minha mãe -, eu não sentia dor. Não sabia o que era uma dor nas costas ou dor de cabeça, ou quando você começa a sentir dores em lugares do corpo que não faz ideia do porquê está sentindo. Foi assim que eu percebi que precisamos de um comparativo para entender as coisas. Se não viesse a sentir o que chamaremos aqui de "dor contínua e um mal estar sem nenhuma razão", eu jamais saberia que naquela época me sentia bem. Foi engraçado quando comecei a me perguntar se me sentir doente o tempo todo era normal, porém vim a descobrir mais tarde que estava apenas alarmado, que meu corpo estava crescendo e as coisas estavam mudando, só parecia algo grande demais para uma criança que outrora se sentia fisicamente bem o tempo todo.

Mas o que eu quero dizer com esse pequeno exemplo da minha infância é que precisamos sentir a tristeza para sabermos o que é felicidade e da valor à ela.

Eu era uma criança muito tímida e quieta quando não estava fazendo alguma peripécia, como por exemplo me pendurar em lugares altos e consequentemente deixar meus jovens pais desesperados. Mas essa timidez é um aspecto da minha personalidade que me fez manter aquela lembrança na memória consciente, e claro, o trauma também ajudou bastante.

Foi a primeira e única vez que o vi em minha infância.

Eu tinha quatro anos, era final de tarde e minha mãe com uma expressão que me lembrava não ser muito boa, cortava os legumes com força demais na bancada da cozinha. Meu pai se encontrava no quarto fazendo muito barulho para quem estava arrumando o guarda-roupa, pelo menos foi o que eu achei que ele estava fazendo.
Eu residia sentado no sofá com uma expressão assustada e alguns rastros das lágrimas que havia derramado à alguns momentos atrás quando meus pais gritavam um com o outro.

Diante da atual cena apocalíptica ao meu ver, a campainha tocou, vi meu pai andando a passos nervosos e tão pesados sobre o chão que senti um tremor perpassar pelo meu corpo pequeno. Quando ele passou pela sala pude finalmente me mexer, me ergui sobre o parapeito da janela atrás do sofá para vê-lo atender quem estava no portão e ao avistar um novo intruso em toda aquela confusão que minha cabeça e minha casa se encontravam, percebi que não era alguém que conhecia. Olhei para o rosto da minha mãe e ela parecia mais raivosa que antes, quase pude sentir em minha pele o último fio de paciência dela se esvair.

E eu não queria mais estar alí no meio daquilo tudo, me sentia com medo e desesperado, então corri o mais rápido que pude antes de meu pai chegar até a sala novamente, me enfiei no quarto mais próximo, sentindo meu coração bater contra o peito e os meus olhos arderem, me sentei no chão e me encolhi naquela escuridão esperando pelo pior.

E o pior veio.

Eu não sabia do que eles estavam falando, e eu não queria saber, estavam gritando tão alto e a cada palavra solta que meu cérebro captava, eu apertava mais minhas mãos contra minhas orelhas, e estava apertando tanto minha cabeça no processo, que ela começava a doer. Os sons de objetos sendo quebrados não eram capazes de ser abafados pelas minhas mãos e eu me encolhia mais a cada barulho.

Me sentia atordoado, o frio na barriga pela ansiedade me deixava apenas mais desesperado, pois minha imaginação não me deixava parar de pensar nas piores coisas que poderiam estar acontecendo fora daquele quarto. Estava com medo e achei que era impossível meu coração bater mais rápido quando ouvi a porta sendo aberta e a luz invadir o ambiente.

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