40. Point Of View Mare Barrow

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Minhas vistas estavam embaçadas, encharcadas por lágrimas salgadas que ardiam meu olhos. Eu mantinha a cabeça baixa, me arriscando a esbarrar nos corpos do corredor cheio. Era melhor que ser flagrada por mais alguém, ninguém mais precisava me ver assim.

Eu mal conseguia respirar, e aquela colisão de corpos estava me irritando. Eu queria gritar, mas somente continuei andando pelo corredor extenso, sem saber exatamente onde iria parar, encarando meus pés tão ansiosos como o resto do meu corpo.

Toda minha estrutura parecia doer, o que era estranho, eu não havia feito muitos exercícios no dia. Porém, era como se meu coração transtornado quisesse dividir a dor entre meus membros. Eu havia assistido aulas de biologia o suficiente para saber que aquilo não era a possível, eu só estava fadigada, cansada de aguentar aquilo.

Doía por tudo que eu havia acabado de ouvir, doía pela recente desilusão que Maven não era a pessoa que eu imaginava... Não completamente. Qualquer pessoa poderia fazer aquilo comigo, Kilorn talvez, eu nunca duvidei. Maven sempre demonstrou ser diferente, e a pessoa que eu pensava conhecer, não era verdadeira.

Era difícil imaginar que ele seria capaz de fazer isso comigo, mas alí estava a prova. Meu coração totalmente em pedaços, meu olhos turvos de lágrimas.

E eu não estava chorando por conta dele, por perdê-lo, eu nunca o tive. Estava chorando por tudo que saiu da sua boca, como se eu não fosse nada, como se o que tivesse acontecido entre nós não fosse nada.

Ele era um belo de um mentiroso, fingia bem. Fingia não se importar, mas eu sabia que se importava.

Eu não conseguia raciocinar seu namoro com Iris. Em que momento aquilo havia acontecido? Eu não sabia nem se era verdade, ou apenas uma mentira repentina que ele havia inventado para nos tirar do foco principal que o  intimidava. E quer saber... Isso era o que menos me importava. Talvez eu pensasse naquilo só mais tarde.

Me sentia uma idiota, só isso. Eu não deveria ter ido atrás dele, deveria ter desistido no primeiro fora que ele me deu, após me foder na sua cama. Era só isso que ele queria, eu deveria ter entendido.

Me enganei quando naquele dia na minha casa, ao lado de Ann, eu realmente pensei que estivesse mal. A partir daquele momento seria muito, mas muito pior. Porque qualquer chance de solução e esperança que eu pudesse me agarrar havia evaporado.

Notei a porta do banheiro feminino segundos antes de passar direto por ela. Entrei, porque para chorar no colégio, aquele era o lugar mais seguro. Não prévia o chão molhado ou escorregadio, entrei com pressa, e na primeira chance eu escorreguei, deslizando pela chão em uma pancada suave, mas ainda destruidora.

Desisti, cobri o rosto e tive vontade de me entregar a morte alí mesmo.

Não reparei de imediato e mas logo precisei aguçar os ouvidos para perceber que tinha alguém no banheiro comigo. O passos secos e fortes denunciando que aquela unidade específica que eu havia escorregado tinha me escolhido.

— Ainda bem que o chão está limpo — não me importei em levantar o rosto pra quem conferir quem havia dito aquilo, mas agradeci, oferecendo meu corpo ao chão e a todas as profundezas da terra, ou pelo menos ao azulejo efeitado do banheiro feminino. — Alguém deve ter derrubado sabonete liquido no chão. Caramba, você está chorando? Não sabia que a pancada havia sido tão forte.

Tirei o braço da frente dos olhos e encarei bem a figura de Evangeline. Perfeita como sempre, e agora ela estava sobre mim, em pé, um perna de cada lado do meu corpo, mas não usava saia. Suas unhas grandes apontadas para mim, em uma oferta singela para me ajudar a levantar.

Seu rosto estava indecifrável, eu não sabia se ela se divertia com minha situação constrangedora — que eu não duvidava — ou queria mesmo me ajudar. Não pensado muito, agarrei sua mão, e precisando de toda sua força braçal, ela me arrancou do chão. E eu nem sabia se queria levantar.

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