CAPÍTULO 6

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Durante a madrugada quando acordei Hayden estava comigo, deitado de barriga para cima com uma expressão serena. Me perguntei no mesmo momento como tive coragem para pedir algo do tipo para meu chefe e depois das coisas que falei duvido que ainda tenha um emprego.

Passei o resto da madrugada o observando, o cabelo negro completamente bagunçado, a boca semi aberta e um leve ronco escapando por seus lábios. Seus olhos tremeram e ele os abriu e me encarou com aquele azul intenso e sonolento.

_ Como se sente?_ perguntou se apoiando nos cotovelos.

_ Você pergunta como se tivéssemos transado._ me sento e por um segundo vejo seus olhos brilhando._ Vou ficar bem, nada que eu fizer vai trazer ela de volta.

Hayden volta a se deitar e seu olhar perde o foco.

_ Quando Angela morreu, não me conformava com aquilo, mas com o tempo ficou uma saudade intensa _ ele me olha _ eu me tornei outra pessoa por ela.

_ E acha justo com você mesmo?

_ Na verdade, sinto falta do que eu era antes e com ela, não gosto do que sou depois dela.

_ Não deixe de ser o que é, mesmo que vá contra os outros _ não consigo reprimir minhas lágrimas _ Minha mãe dizia isso todos os dias.

Me levanto e suspiro derrotada ao ver o sol nascer. Não há mais para onde correr, eu preciso encarar a realidade de frente, beber ontem foi um ato de fraqueza da qual não me orgulho e aquele show ridículo que dei na frente de Hayden não podia me deixar mais envergonhada.

Falei sobre uma parte de mim que tento esconder todos os dias, a parte que não dava orgulho a ninguém e que já havia causado estrago  por meus atos imprudentes.

_ Vou tomar um banho._ pego minha roupa e sigo para o banheiro.

Ao me olhar no espelho vejo em meus olhos o cansaço e a tristeza, porém vou mudar isso pois sei que minha mãe odiaria ver isso. Ela sempre disse que não devemos chorar quando alguém morre, sim dói, mas se não fosse a hora ela não teria morrido.

A morte às vezes vem para nos tirar de um sofrimento ainda pior.

Embora a água me ajude a aliviar  minha tensão ela não é suficiente para apagar minhas lembranças mais doces com minha mãe.

Depois do banho visto minha lingerie branca, uma calça preta, e uma blusa da mesma cor, mas não me sinto satisfeita, minha mãe nunca gostou muito de preto, por isso saio e pegou uma calça branca e uma blusa azul, que era a favorita dela. Hayden não está mais no quarto então me troco e desço o encontrando sentado em meu sofá que parece pequeno demais para ele.

Meu tênis all star branco está perto dele então me sento ao seu lado para calça-los.

_ Não parece que está indo a um velório._ ele me analisa e sorrio.

_ Minha mãe odiaria nos ver de preto._ ele me entrega meu outro par do tênis.

Após alguns minutos ele me levou até o lugar onde será velado o corpo da minha mãe. Meu estava com seu terno branco, e minha irmã com um vestido azul céu dando contraste com seu cabelo rosa.

Quando a vi, fiz o que prometi, não chorei apenas me despedi de forma calma e terna.

Hayden

Ela tinha razão, eu não sou feliz assim. Me escondo atrás de uma fachada da qual não me faz bem, me sinto em queda livre sempre quando acordo.

Hoje pela manhã quando a vi, um pouco mais disposta, com um olhar triste mas muito mais calma, me perguntei como ela pode estar daquele jeito. A mãe dela está morta, é seu enterro e mesmo assim ela não estava chorando.

Eu queria ter sido tão forte quanto ela na morte de Angela.

Pego meu copo de Uísque e subo para o único lugar onde posso ter paz, o único cômodo dessa casa enorme onde consigo ser eu mesmo. Pego a chave que somente eu tenho e entro no meu espaço. Há um saco de pancada, luvas, pesos e um ringue pequeno para que eu possa aliviar minha raiva.

eu não finjo estar bem para manter as aparências”

A frase de Abby retorna a minha mente de novo e de novo. Pego uma faixa e enrolo no pulso, retiro minha camiseta e começo a socar aquele saco como se eu estivesse ali.

Eu odeio esse Hayden que me tornei.

Eu irei volta e serei eu novamente, Angela não se orgulharia mas eu não aguento mais carregar o peso de ser infeliz sozinho. Quero minha antiga vida de volta e não me arrependerei de forma alguma disso, mesmo sabendo que Angela ficaria infeliz.

_ Ela se foi Hayden, é você por você.

Depois de horas treinando, me sentei no chão e sorri aliviado. Eu estava novamente em mim, o choque da perda e o meu modus operante havia resetado.

Hayden Blacker estava de volta ao jogo.

Algumas horas depois recebi uma coisa inesperada, a carta de demissão de Abby. Fiquei em choque por talvez ter feito algo que a fizesse pedir sua demissão, mas sua carta escrita a mão me fez entender.

“ Senhor Blacker,

Eu sei que foi repentino e se exigir que eu cumpra o aviso prévio o farei. Infelizmente meu pai voltará para o Brasil, e minha irmã e eu resolvemos cuidar do House até que ele se sinta bem novamente para assumir suas responsabilidades.

O período em que trabalhei para o senhor foi maravilhoso, já que você é um chefe incrível, educado e gentil. Sua próxima secretária vai ser muito sortuda.

Caso precise de alguma coisa deixarei meu número pessoal aqui a baixo, me ligue ou mande mensagem.

Um abraço, Abby García.”

Bom, não nego que ela foi a primeira secretária que me tratou de forma profissional e se o que vai ser difícil encontrar alguém como ela. Eu poderia sim exigir seu aviso prévio, mas não o farei por consideração a ela e sua perda.

Pego meu celular e salvo seu número, porém não sei ainda o que dizer.

Vou para meu quarto e retiro minha calça, sigo para o banheiro e ligo o chuveiro no frio clareando minhas idéias a muito tempo adormecidas.

Obrigada Abby, por me mostrar que eu não deveria ser o que os outros queriam e sim eu mesmo.

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Os próximos capítulos serão um pouco mais longo a partir de agora, muita coisa boa vai começar a acontecer.
C

omeçaremos a segunda fase da história com muitas emoções fortes.

(Im)perfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora