Alguns segundos após ouvirem a arma a disparar que fez com que as cinco amigas ficassem completamente congeladas, ouve-se duas pessoas a correr. Seriam, naturalmente, as outras duas pessoas que estavam presentes a fugir do crime que acabaram de cometer. À medida que o barulho das folhas secas e molhadas no chão por onde fugiam parecia mais distante, resolveram que era a hora certa para deixarem o esconderijo improvisado e ajudar seja quem for que estivesse ali em sofrimento. Ou até mesmo, morta.
Encaminham-se ao sítio onde tudo ocorreu e veem a rapariga no chão. Não é preciso puxar muito pelo cérebro para perceber que foi atingida com gravidade. Aproximam-se, lentamente, do seu corpo e ainda com medo que as pessoas que lhe fizeram mal voltassem. Hanna e Aria são, indiscutivelmente, as que se encontram num estado de maior choque e não se aproximam sequer. Emily permanece para trás para apoiar as duas amigas, mesmo estando, também com medo. Com mais coragem que as restantes, Spencer e Alison chegam ao pé do corpo e, de um modo automático e inconsciente, saltam para trás ao mesmo tempo que se agarram uma à outra.
- Emily, liga para a polícia! Já! - Grita Alison com a voz a tremer.
Imediatamente, Emily pega no telemóvel para ligar para a polícia mas verifica que não tem rede naquela zona mais escondida do parque. Portanto, dirige-se a correr até um ponto que lhe permita efetuar a tão importante chamada. Enquanto já estava a marcar o número ouve uma sério de sons que lhe despertam a atenção. São pessoas a falar. Três pessoas para ser exata. Precipitadamente, Emily pensa dirigir-se às mesmas e pedir-lhes ajuda mas, em milésimos de segundo percebe que são precisamente as mesmas pessoas que fizeram mal aquela pobre rapariga. O seu instinto natural começara a correr como se tratasse de uma fuga a um animal selvagem. Chega ao pé das amigas ofegante e quase sem conseguir pronunciar uma única palavra.
- Temos que ir! Eles estão a voltar! - grita à medida que se aproxima do resto do grupo - Rápido!
Sem a oportunidade de pensarem noutra reação, começaram a correr como nunca acontecera antes. Hanna, nada preparada para qualquer atividade envolva esforço físico vai sendo puxada por Spencer e com incentivos das restantes. Após uns longos minutos de corrida, param quando se encontram longe o suficiente da Mina para se sentirem um pouco mais seguras. Ofegantes e ainda a tremer não sabem o que dizer umas às outras.
- Meninas, o que foi isto? - pergunta de forma retórica Alison.
- Emily, tens a certeza que eram eles? - questionou Aria.
- Juro que sim. Eu tive que ir até aquela zona porque não tinha rede para ligar à polícia e, de repente, ouvi vozes e passos acelerados e até pensei ir pedir ajuda. Mas, depois, logo vi que eram eles. Era um rapaz e uma rapariga, aqueles que já tínhamos visto com a arma, e mais um homem que aparentava ser mais velho que eles. - explicou Emily ofegante.
As raparigas ficam incrédulas com o que Emily acaba de contar enquanto se recompõe do esforço físico.
- Devem ter voltado para esconder o corpo. - deduziu Spencer.
- Ou para o transportar para outro lugar. - atirou Hanna.
- O que fazemos agora? - perguntou Aria.
Um silêncio estranho nasce no seio desta amizade e nenhuma delas consegue responder à pertinente pergunta de Aria. Olham umas para as outras à procura de respostas que não surgem porque o medo e o choque se sobrepõe a qualquer outra coisa.
- Vamos para casa. Amanhã vamos à polícia. Precisamos de descansar. - aconselhou Alison e todas concordaram.
Individualmente, encaminharam-se as cinco para as suas casas à medida que a lua era substituída pelo sol. Emily fez o seu caminho a correr e chega a casa com a respiração ofegante. Encontra a mãe na cozinha que fica surpreendida e preocupada pelo seu estado.
- Está tudo bem? - questiona a mãe de Emily com surpresa - Estiveste a correr?
- Sim... ah... estou tão cansada que quis chegar o mais rápido possível a casa. - justificou-se Emily com a primeira mentira que lhe passou pela cabeça.
Quando já todas se encontram na cama a recuperar do filme de terror que viveram esta noite, o grupo de mensagens das cinco recebe uma mensagem de Spencer.
"Amanhã, às 10 horas em minha casa. Precisamos de falar e depois logo de seguida vamos à polícia."
Todas concordam. Ou então não têm forças para pensar em algo mais que não seja o barulho da arma a disparar contra aquela pessoa indefesa. Não houve coragem suficiente para chegar perto do corpo de maneira a tentar identificar quem seria. A curiosidade era desmedida, mas o medo de ser alguém que conhecessem era ainda maior.
Às 10 horas em ponto, lá estão as cinco em casa de Spencer sem sinais de grande felicidade e com caras de quem nem sequer conseguiu fechar os olhos para descansar durante dois minutos. Reunidas no quarto de Spencer, o silêncio torna-se barulhento por ter tanto significado.
- Vamos à polícia e contamos tudo o que vimos. - Emily rasgou o silêncio.
- Exato. Certamente vão perguntar-nos porque não fomos lá no momento que aconteceu, mas explicamos que estávamos com medo e sem saber o que fazer. - completou Spencer.
Enquanto se preparavam para sair, o pai de Spencer bate à porta com um ar de quem trazia más notícias.
- Bom dia, meninas. Já souberam o que aconteceu? - questionou rapidamente e todas acenaram negativamente com a cabeça - Encontraram um corpo na berma da estrada à beira da Mina. A cidade está toda em alvoroço.
Hanna ia começar a falar, provavelmente a explicar tudo o que sabiam daquela noite mas, depressa foi interrompida por Spencer.
- Obrigada por avisares, pai. - começou Spencer - Ainda bem que nos disseste porque pensamos em ir à Mina à tarde e, sendo assim, é melhor nem nos aproximarmos daquele lugar.
- Realmente, deve estar uma grande confusão. - completou Aria.
Quando o pai da Spencer se retirou do quarto todas olharam incrédulas para Spencer, sem perceberem o porquê de ter dito aquilo.
- Antes que me ataquem deixem-me explicar. - disse Spencer.
- Sim, por favor explica-te porque eu nem sei porquê que dei força ao que disseste. - atirou Aria.
- Acho melhor não irmos à polícia. - começou Spencer para espanto das demais - Pensem bem, nós não vimos com clareza quem eram as pessoas e o facto de não termos ido à polícia assim que aconteceu pode fazer com que o caso vire contra nós.
- Eu pensei exatamente o mesmo quando estava em casa. Além disso, muita gente sabe que nós vamos para lá à noite o que vai fazer com que nos venham fazer perguntas em breve. - apoiou Alison.
Posteriormente a várias trocas de ideias, as jovens fizeram uma lista com as razões pelas quais não deviam ir à polícia: a) estavam no sítio do crime; b) não foram logo à polícia; c) não têm muito a dizer porque não têm como identificar os agressores.
- Mas isso é uma loucura! - reagiu Emily - Se nos vierem fazer perguntas vamos ter que mentir.
- Eu sei Emily, mas pensa bem, se falarem connosco dizemos que estivemos lá mas viemos embora por volta da meia noite e que vimos lá três pessoas mas que não vimos nada que indicasse perigo ou crime. - explicou Spencer.
Todas confiavam em Spencer para criar este plano. Filha de pais advogados, está habituada a ouvir falar muitas vezes de crimes e pela sua personalidade forte e com boas bases de liderança, transmitia às amigas através de palavras e ações a segurança que necessitam em momentos como este.
- Isto tem tanta coisa para correr mal. É mesmo o plano mais defeituoso que podia passar-nos pela cabeça. Mas vamos lá segui-lo... - suspirou Hanna.
A hora de almoço aproxima-se e cada uma segue para sua casa. A mente está ocupada por flashbacks da noite passada. A voz sai trémula. O corpo está a pedir descanso. O medo ainda está presente. Por muito que queiram, as memórias desta noite de sábado dificilmente serão apagadas das vidas deste grupo de amigas que apenas queria divertir-se, como sempre fazem, juntas, como sempre estão.
É deste tipo de noite que se referem quando dizem que há noites que não se esquecem?
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Saturday Night | Pretty Little Liars
Mystery / Thriller5 amigas. Uma noite de sábado. Um crime. 5 amigas assistem a algo que vai mudar para sempre a forma como encaram a vida. Quando a palavra delas é posta em causa e tentam desequilibrar o grupo, será que a amizade resiste? Será esta amizade à prova...