10. Fugitivas

12 3 3
                                    

Como se fossem criminosas procuradas mundialmente, foram obrigadas a voltar a casa. A detetive ainda queria que fossem levadas em carros da polícia, mas Spencer conseguiu fazê-la mudar de ideias com a promessa que cada uma ia imediatamente para casa sem desvios de caminho ou mentiras. 

- Amanhã de manhã bem cedo, quero-vos a todas no meu gabinete. Vamos ter que ter uma conversa. - avisou a detetive antes de toda a gente partir.

- Já não suporto conversas com esta pessoa. - murmurou Emily sem ninguém ouvir.

O caminho de volta a casa é uma antítese do caminho que foi feito na manhã desse mesmo dia. O silêncio e a raiva consumem este quinteto que não sabe o que fazer mais para que esta situação se evapore da vida delas.

- Devíamos ter dito a verdade. - Hanna quebrou o silêncio.

- Vais voltar a atirar-me isso à cara? Já vos pedi desculpa. Mais do que uma vez. - desculpou-se Spencer.

- Não tens que pedir desculpa, Spencer. Tu deste a ideia. Nós concordamos. Se pensas que és culpada desta situação, nós somos igualmente. - Aria tentou acalmar os ânimos.

- A questão é que a Spencer sente sempre a necessidade de dar as ideias dela sem pensar o quão imprudentes são ou as consequências que nos podem trazer. - Hanna continuou a libertar tudo o que tem guardado.

- Hanna, para com isso! Não é só culpa da Spencer. Por exemplo, eu também perdi o meu casaco no pior sítio possível e isso também se tornou uma prova contra nós. Eu também me sinto culpada. - confessou Alison.

- CHEGA! - ordenou Emily - Não adianta estarmos a discutir sobre isto novamente. Não podemos voltar atrás no tempo, por isso, assumimos as consequências dos nossos atos como pessoas adultas que somos. A única coisa que nos resta é o apoio umas das outras portanto, nós vamos ultrapassar isto porque nos temos umas às outras.

E foi nesta viagem de três horas até Rosewood que as diferentes personalidades deste grupo colidiram. Tanto Spencer como Hanna, estão a ser engolidas pelo medo do que pode vir a acontecer mas decidem demonstrar esse sentimento de forma diferente. Spencer guarda todas as dores do mundo para si, não mostra a parte fraca nem quando chega ao limite. Por outro lado, Hanna também acumula tudo o que sente e vai disfarçando com boa disposição e alegria contagiante, mas quando atinge o limite ninguém a segura e as emoções anteriormente reprimidas saem disparadas para o exterior. Alison é imprudente na maioria do tempo, mas quando envolve pessoas que gosta torna-se a rainha da sensatez tal como Aria que odeia ver discussões no seu grupo e opta sempre pelo papel de apaziguadora. Emily tenta controlar tudo, muitas vezes sem sucesso, porque não aguenta ver os seus pilares a tremer.

A primeira a ser deixada em casa é Hanna que abandona o carro sem direcionar palavras de despedida às amigas. De seguida, Spencer faz exatamente a mesma coisa. Finalmente, quando chega a vez de Aria sair do carro de Emily o cenário muda.

- Estava a pensar em sair do carro sem me despedir de vocês mas esse episódio já era repetido e estou certa que não vos apetece ver o mesmo. - Aria começou a brincar com a  situação - Até amanhã, meninas. 

- Até amanhã, Aria. - disse Alison.

- Descansa bem. Estamos a precisar. - acrescentou Emily num suspiro.

Em poucos minutos, Emily para o carro em frente à casa de Ali que fica em silêncio e não sai do carro.

- Estás bem? - perguntou Emily confusa.

- Estou preocupada contigo. - respondeu Alison fixando o olhar nos olhos de Emily.

- Estás preocupada comigo porquê?

- Já tivemos esta conversa antes e vamos continuar a ter nada mudar. Estás sempre a preocupar-te connosco. Estás sempre a querer apaziguar tudo e normalmente aceitas tudo o que seja para manter a paz, mas isso é uma resposta inconsciente a algum trauma que tens. Quando fazes isso estás a desrespeitar os teus próprios limites.

- Alison... - Emily tentou interromper a amiga mas sem sucesso.

- Promete-me uma coisa. Promete-me que vais acabar com esse hábito de te causares desconforto, para os outros estarem confortáveis. Tens controlo da tua vida e do teu espaço. Usa a tua voz, marca uma posição e pensa em ti primeiro. Mereces estar em primeiro lugar. 

Antes de Emily conseguir proferir algumas palavras como resposta, Alison já abandonara o carro e dirigiu-se à porta de sua casa. Alison parece que está sempre no mundo da lua e nem sequer sabe em que dia está, mas tem o dom de dizer as palavras certas nos momentos mais acertados e oportunos. 

Um novo dia nasce e o reencontro deste grupo de amigas na estação da polícia é frio e apático. Estranhamente, e ao contrário do que acontecera até agora, são chamadas em simultâneo ao gabinete da detetive que as recebe com um humor alegre de quem já sabe de antemão que vai estragar o dia a alguém.

- Está muito animada, detetive. Dormiu bem? - Spencer tenta provocar.

- Na verdade, podia ter dormido mais e melhor, se não tivesse que ter ido buscar umas suspeitas de crime a outra cidade. - respondeu com um sorriso malicioso.

- Denominar-nos como suspeitas de um crime talvez seja exagerado visto que as provas que tem contra nós são quase nulas. - respondeu Hanna.

- Disseste bem Hanna, "quase nulas". Eu ainda tenho umas provas contra vocês e digamos que esta tentativa de fuga da vossa parte só vos fez parecer ainda mais culpadas.

As palavras "tentativa de fuga" deixaram as amigas incrédulas.

- Que estupidez! - reclamou Alison.

- Não é estupidez. Vocês foram umas fugitivas. Estão oficialmente impedidas de sair da cidade sem a minha autorização prévia. - anuncia a detetive e estende-lhes um papel que as proíbe de sair da cidade de forma oficial. - Não quero perder mais tempo com vocês porque tenho mais coisas para fazer. Podem sair.

- Nós vamos sair desta porta e pode ter a certeza que tão cedo não pretendemos voltar. Quer jogar um jogo connosco, pois bem, vamos ver quem ganha. - Emily exprime a sua revolta como raramente se vê.

Saem as cinco do edifício da polícia e, seguindo Emily, dirigem-se ao carro de Spencer.

- Entrem no carro! - ordenou Emily - Vamos segui-la e vamos descobrir tudo o que houver para descobrir sobre ela.

- Podem, por favor, beliscar-me para eu ter a certeza que este plano não é meu. - pede Spencer que não acredita que Emily quer mesmo seguir a detetive.

- Emily, estás bem? Temos aulas de caminho. - relembra-a Alison.

- Alison, obrigada por me lembrares que temos aulas mas não vamos. Vamos, entre no carro rápido antes que ela saia. 

- Parece-me uma ótima desculpa para faltarmos às aulas. - brincou Aria e Hanna concordou.

Já dentro do carro, esperam que a detetive efetivamente saia e que se dirija a algum lado. Nenhuma delas sabe o que vai acontecer com esta perseguição, ou sequer se algo irá acontecer mas, como Emily normalmente não tem reações destas, acreditam que é algum sinal do destino para prosseguir com o plano.

- Estás mesmo certa disto? - Alison questiona Emily discretamente.

- Apenas ouvi o teu conselho. Obrigada. - Emily responde com um sorriso suave e afetuoso.

- Acho que já posso tirar espionagem e perseguição da minha lista de coisas para fazer antes de morrer. - brincou Hanna.

- Espero que ir presa não esteja nessa tua lista. - respondeu Spencer.

De repente, todas as zangas e discussões do dia anterior ficaram, precisamente, no dia anterior e em nada interferem no sentimento de amizade que existe neste grupo. 

"Prefiro perder tudo com elas, do que ganhar tudo com outras", Emily pensou para si mesma fazendo alusão ao facto de que não importa o que aconteça, desde que aconteça com as amigas.

Saturday Night | Pretty Little LiarsOnde histórias criam vida. Descubra agora