FRAÇÕES ÍNFIMAS

Capítulo Um

"Eu a conheci h á muito tempo."

É engraçado como eu não havia chegado e dito: "Oi, tudo bom?". Na verdade eu nem ao menos perguntei o nome dela.

Me pergunto como é que as amizades surgem em nossa vida, quero dizer ... ela chegou assim de repente, sem nem mais nem menos. Chegou sem me dar a mínima chance de dizer: "Espere! Não venha."

Não foi como se eu me importasse de qualquer forma, ela parecia não se importar também visto que mesmo tendo invadido a minha vida há muito tempo, tão pouco disse seu nome ou me perguntou o meu.

Ela surgiu há muito tempo - e quando eu digo muito, quero dizer muito mesmo -, quero dizer: eu nem me lembro há quanto tempo eu a conheço. Tem tantos anos que mal posso contar, só sei que é muito mais do que como eu me entendo por gente - já essa expressão? Estava aprendendo ela na época que essa minha amiga surgiu.

De qualquer forma eu nem me importei como isso, a menina nunca me importunou e nem prejudicou em nada. Na realidade ... ela nem falava direito.

Ela parecia que só existia para observar a rotina mais chata do mundo: a minha. Ela era bem fácil - quero dizer a rotina -, eu seguia apenas por desânimo de mudar algo no dia a dia. Não que houvesse algo para mudar, mas continuando ... eu acordava cedo, me arrumava e seguia para a escola, conversava com minhas amigas após o hino nacional e seguíamos para a aula, na volta eu conversava novamente e então almoçava, corria e brincava pelo quintal - às vezes me machucava, às vezes não - tomava banho, jantava, fazendo minhas lições - ou fingia as fazer - e então dormia. Minha amiga apenas me observava, não dizia uma só frase muito menos mudava sua expressão. Acredito que eu nunca a vi de fato com uma expressão no rosto ... mas isso não importa.

Acreditava que ela era muito tímida e por isso não falava. Não era como se eu tivesse para quem perguntar já que meus pais não ligavam muito para nós.

Espere ... eu acho que estou esquecendo de fazer algo .. Talvez ... me apresentar? Bem, não ligue. Isso não importa. Mesmo se eu falasse meu nome, seria apenas isso: um nome. Não precisamos de nomes aqui, não precisamos de rostos, não precisamos de dinheiro. Não precisamos de nada. Apenas de nós mesmos. Mas seria estranho dizer: "Pegue você mesmo e me acompanhe nessas peripécias que cometi durante todo esse tempo." Então ficaremos com o simples: "Pegue algo para beber e comer, se deite e aprecie como peripécias que irei lhes contar. Não garanto que todas serão legais mas ...". Parece bom não é? Pois bem, já estava acomodado? Já? Ótimo, vamos em frente então.