" ela não me deixava sair de casa ou conversar com meus amigos direito. "
- Ora. - uma voz masculina soou enquanto eu passava com rapidez para o
banheiro.
- O que foi? - eu ouvia minha tutora questionar.
- Eu vi um vulto passar correndo. - ele disse simplesmente.- Ahh, deveria ter sido a menina. Ela nunca sai do quarto e quando sai, só idade assim. - respondeu minha tutora não dando muita atenção e então mudando de assunto - Mas esse cabo aqui é para que?
Ah, olá novamente. Desculpe ... mas será que poderia me dar alguns segundos para me recuperar enquanto me sento no chão frio do banheiro para qual corri o mais rápido possível enquanto um técnico mexe em nossa TV?
Enquanto eu descanso, você se recordaria dos filmes de terror que já assistiu e que durante uma parte dele em especial é um ser entrando dentro de uma casa e então a câmera foca no vulto que passou em uma velocidade anormal pelo corredor, e depois voltam para o rosto da pessoa ? Bem ... eu me sinto o vulto toda vez que sou obrigada a sair do quarto.
Eu apenas entrei no box e liguei a água quente para um banho rápido. Precisava voltar ao quarto imediatamente, já havia perdido muito tempo enquanto esperava o homem ir embora para que pudesse sair em paz. Por um momento imaginei o quão errado esta frase soou, mas na verdade não era como se eu estivesse em paz em algum momento.
De qualquer forma quando pisei no corredor novamente não havia mais técnico na sala e a TV estava ligada em algum filme imbecil qualquer. Imagino que meus estavam estava ali, a encarando sem nem ao menos piscar.
- Por que ela não resolve fazer um exercício? Fica só trancada no quarto o dia todo. - eu ouvia a voz de meu pai enquanto passava devagar e silenciosamente pelo corredor.
Independente de sua voz soar baixo, eu ouvir com facilidade visto que meu sentido mais aguçado era a audição. Minha rotina continuava a mesma de anos atrás em que eu estudava de manhã e por isso meu corpo havia se acostumado a acordar cedo. Eu desligava o ventilador depois de alguns segundos já acordada - já era de meu conhecimento que minha responsável desligava a caixa de força de meu quarto quando se passava das oito e meu ventilador continuava a rodar.
Pelo fato de eu não ter jantado na noite anterior eu havia acordado com fome. Bem, eu sempre de acordo com fome mas isso não vem ao caso. Comecei a preparar meu leite enquanto ouvia os sussurros vindo do quarto, não era como se eu quisesse ouvir mas era simplesmente inevitável assim como as lágrimas que caíam de meus olhos nesse momento.
Aquele assunto era sempre o mesmo, eu até já havia decorado como frases e expressões que eles usariam de trás para frente ou de frente para trás. Poderia até mesmo as dizer para você nesse momento exato mas estou ocupada. De qualquer forma, eu sabia que quando chegasse na escola na manhã seguinte, uma de minhas amigas me chamariam para ir em sua casa ou andar de bicicleta.
E minha amiga de infância - você ainda se lembra dela? Não a esqueça, ela é muito importante aqui - sabia que eu negaria. Não houve muito o que fazer afinal.
Para meu pai, amizades de nada valiam, já que diante das dificuldades poucos se apresentam leais e presentes. Para minha responsável, nenhuma coleguinha do bairro pobre e podre aonde morávamos poderia entrar em sua bela casa - talvez ela apenas estivesse rancorosa depois de um evento em que uma coleguinha da segunda série minha, ao invés de fazer xixi sentada no vaso sanitário resolveu urinar em pé e acabou por sujar até mesmo a cômoda do banheiro. Me lembro como se fosse ontem o quanto que minha tutora a xingou depois que ela já havia ido embora carregada de brinquedos e cadernos de desenhos que eu havia dado a ela.
A maior raiva daquele dia para ela, fora sem dúvida o estado de seu banheiro visto que a pobre mulher havia feito uma enorme limpeza nos azulejos branco antes da infeliz chegar.
E para mim?
Bem ... para mim não importava. Eu sabia que se minhas amigas me chamassem, meu pai não deixaria. Se eu as convidasse, minha responsável nos expulsaria. E se eu andasse sozinha ... bem, eu não sabia o que de fato poderia ocorrer, já que nunca andava sozinha.
Primeiro pelo fato de que eu não gostava de sentir que todos estavam me encarando e pensando: "Eu sei onde você mora", "Eu sei quem são seus pais." Ou então: "Se você passar pelo limite de segurança de seu pai, eu não irei hesitar em ir contar para ele. ", essa era a verdade afinal.
Atitudes típicas de crianças como andar de bicicleta, eu não possuía. Não porque eu não queria mas porque eu não gostava de estar a fazer isso sozinha, e bem ... eu somente poderia andar de bicicleta se fosse sozinha. Eu podia ir até onde quisesse com esse meio de transporte ecológico, portanto que esse 'até onde quisesse' fosse até - no máximo - a metade de nossa rua. E mesmo assim eu sabia que em todo lugar havia alguém, algum espião, algum agente do FBI ou simplesmente uma câmera de vigilância quatro horas - mais conhecidos pelos nomes populares: vizinhos e amigos fofoqueiros dos pais.
De qualquer forma eu já sabia. Mas esse saber, não me impedia de me irritar ou simplesmente cortar essa atividade de minha vida para evitar as câmeras de vigilância.
- Oh pobre menininha. Tão nova mas tão controlada. Por que não dorme um pouco em meu colo? Você não tem nada além de mim. - a voz de minha velha amiga era tranquila.
Ela deu dois tapinhas leves em seu colo indicar que eu deveria me deitar ali. Em seu rosto logo surgiu um sorriso quando completei a ação que ela queria. A primeira observação que fiz quando minha pele entrou em contato com a pele de sua coxa foi que ela era fria. Não fria por causa do tempo, porque fazer um reluzente sol lá fora, mas um fria um tanto quanto incômodo. Tal como se ela não fosse mais do que um cadáver no entanto eu não me perturbava com essa característica já que eu mesma era a menina mais fria da sala. E talvez ela nem fosse tão fria assim, talvez fosse apenas a minha temperatura que, em contato com a dela me dava a impressão de a sua ser muito mais intensificada do que realmente era.
Minha amiga de infância era uma única que nunca me permitia ficar sozinha. Embora não andasse de bicicleta comigo. De qualquer jeito ela era aquilo que eu precisava, ela me compreendia, ela não me deixava. Junto dela eu não me preocupava com o fato de meus amigos não me ligarem mais pois haviam se cansado de serem ignorados ou se meu pai me dirigia um olhar preocupado cada vez que voltava de suas viagens de trabalho quando percebia que não, eu não havia saído do quarto durante um só minuto além do tempo necessário para tomar banho e me alimentar. E que sim, eu havia discutido ainda mais com sua esposa, minha responsável, novamente.
Talvez você esteja intrigado pelo fato de eu chamar meu pai de pai e sua esposa de responsável. Não se preocupe com isso, não ligue. Como eu disse há um tempo, fiz muitas peripécias por aí e digamos apenas que houveram muitos desentendimentos entre nós. Mas deixaremos essa história para outra hora, sim?
Olá pessoal! Este é o último capítulo da semana. Então, me digam, o que estão achando? Obrigada por lerem e até a próxima!
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FRAÇÕES ÍNFIMAS
Novela JuvenilÉ engraçado o modo como eu nunca havia perguntado o nome dela. Uma vez ouvi que algumas pessoas tinham amigos imaginários e que isso era totalmente comum mas o que eu não sabia era que comigo tudo seria diferente. Frações Ínfimas conta a história de...