" Ele era cruel. "
Eu tentei me concentrar em sua voz tão próxima de mim e não ligar para ele. Mas de alguma forma parecia muito difícil para mim - pra não dizer impossível - ignorar aquele cara do meu lado. Eu não sabia como havíamos chegado até aquele nível, a única coisa que eu sabia naquele momento era que: " Merda! Como isso doí. ".
- Preste atenção em minha voz. - ela sussurrou para mim - Droga! Isso não tá funcionando, pegue a gilete. Só tem um jeito de a fazer voltar para realidade agora.
Você deve estar se perguntando: " Okay, o que está acontecendo ? ", bem guarde suas perguntas para o final. Apenas entenda que é complicado sentir isso. Meu peito estava queimando de novo, e meu pai parecia ocupado demais gritando comigo do corredor. Eu não o culpo, afinal deve ter sido um choque para ele notar que sua filha ' perfeita ' não estava na biblioteca e sim nos fundos da casa de uma amiga com um baseado na mão enquanto pintava o cabelo de roxo. Oh não, me desculpe... eu estou tentando parar mas se tornou um vício para mim, eu sei eu sei, mentir é feio. Okay okay, eu estava apenas pintando o cabelo de um tom roxo escuro o suficiente para que meus pais não notassem. Sem baseados, sem drogas, sem álcool e sem sexo. Apenas cabelos coloridos.
Eu estava de volta pros meus quatorze anos. O final do ensino fundamental para mim foi fantástico. Eu teria prazer em vestir um uniforme com os dizeres: " Ensino Médio ", uma estudante normal não é? Mal sabe o que a espera. Era noite de formatura, meu colégio havia insistido em fazer uma festa, minhas amigas iriam, logo eu teria que ir. Vesti meu melhor vestido branco, preparei meu cabelo do melhor jeito com um laço branco repleto de rosas gigantes, ajeitei meu melhor sapato - uma gladiadora preta média. Eu havia feito compras, tratado de meu cabelo e esperados dias para no final aquela grande noite ser o cúmulo para o desfecho de um relacionamento com meu pai.
- Ei, eu preciso falar com você. - a voz de Th em meu ouvido fez minha pele se arrepiar. Olhei para os olhos castanhos e o sorriso de covinhas quando me virei, aquele garoto seria meu fim. - Preciso de um favor, vem.
Ele me guiou pela festa, me afastando de meu pai que mantinha uma sobrancelha erguida e minha tia cujo sorrisinho nunca sairia de minha mente. Mas minha tia não poderia estar mais errada, para você que chegou a começar a shippar o casal, lamento pois Th era e sempre seria apenas meu amigo. Ele me surpreendeu, de fato, quando vi Gabbe e um professor parados no portão nos esperando. O olhei questionando tudo aquilo e ele apenas me disse o que queria.
- Não. - Meu pai disse firmemente após eu pedir pela terceira vez. Eu não podia sair de seu lado e Th lhe lançava olhares vingativos. Ele era de fato um verdadeiro escorpiano e eu como uma mulher do mesmo signo deveria saber resistir a sua manipulação e lhe dizer não tão firmemente quanto o aquariano que eu tentava convencer a me deixar sair da festa.
- Você ouviu o que ele disse. – disse quando me aproximei dos garotos
- Não se preocupa, princesa. Eu já pensei em tudo. - ele simplesmente pegou em minha mão e deixou um beijo ali para em seguida beijar-me os lábios levemente. Fui até o lado de Gabbe e observei junto dele Th se aproximar da garota que se dizia minha melhor amiga e lhe pedir um favor. Eu vi o olhar de Lue seguir na multidão e me alcançar.
- Ele não vai conseguir. - a voz de minha amiga de infância soou e eu a encarei de canto de olho. Estava surpresa por ela estar ali, já que a mesma odiava multidões tanto quanto eu chegaria a odiar um dia.
- Você só afirma isso porque não o conhece. - eu sussurrei e encarei as bochechas rosadas de Lue. Th havia acabado de lhe dar um beijo nos lábios - E bingo! O cafajeste consegue mais uma vítima.
- Espero que ela não se apaixone. Seria uma pena gostar da mesma pessoa que a melhor amiga não é? - a voz de Gabbe me fez o encarar por tempo o suficiente para que minha velha amiga se afastasse, desaparecendo com um sorriso cínico no rosto e Th começar a caminhar até nós.
- Não meu caro, quem tem o costume de se apaixonar e roubar a pessoa amada do melhor amigo não sou eu. Além do mais o Santos me mataria.
- Ainda com essa ilusão? - seus olhos faíscaram contra os meus e eu soube que se Th não houvesse surgido com suas covinhas irresistíveis eu não teria hesitado em pular no pescoço do babaca, bastardo, estúpido, egocêntrico Gabbe ao meu lado. Era bom que eu ganhasse uma bela recompensa pois só de respirar o mesmo ar que ele me sinto enojada.
Quando voltamos para a festa mais tarde naquela noite, após eu buscar meu primo em sua casa e lhe avisar que havia passado de ano e que deveria estar na festa e não se lamentando vendo um filme ridículo na Internet, eu dei de cara com um pai irritado e uma tia decepcionada. A festa para mim durou pouco e os comentários ácidos de Yasmin - a única do grupo que não havia dado um apelido pois meu desgosto por ela chegava a ser maior do que eu sentia pelo egocêntrico Gabbe - duraram muito tempo. Ela estava me xingando por ter feito Lue mentir, eu apenas encarava a garota alta ao meu lado que possuía as bochechas ruborizadas. Oh oh, mal sinal, alguém será desiludida nas férias.
Eu não a recriminei por não ser capaz de resistir ao charme de Th nenhuma vez. Até porque eu não era capaz de o fazer. Eu sabia o quanto aqueles olhinhos brilhantes, aquelas bochechas gorduchas e suas covinhas maravilhosas eram capazes de fazer. Quantos corações eram capazes de destroçar, embora como tudo no universo ele possuía uma fraqueza também: Violet. A garota que eu desconfiava que possuía alguma descendência asiática pelo cabelo e olhos repuxados, covinhas lindas, além disso também tinha um gosto por futebol acima da média que fazia os garotos enlouquecerem. Lue nem ao menos desconfiava do romance desses dois, de todo grupo somente eu, a garota Do Vale, Jen e Thie sabíamos dos agarramentos que havia entre os dois.
Quando voltei para a realidade meu pai estava falando mais baixo. Não estava mais no baile, não estava perto de meus amigos, estava sozinha com eles. Eu sentia lágrimas escorrerem por meu rosto embora não sentisse que estava chorando, a única coisa que sentia era a luz e seu olhar sobre meus braços.
- Vou te levar em um psicólogo amanhã mesmo. - ele disse para mim e em seguida se virou para a esposa que estava ocupada demais lavando o banheiro para se preocupar com o que estava acontecendo em meu quarto: - Você sabia disso?
- Por mim ela pode pegar o facão e cortar pulsos a vontade. Eu não me importo. Já disse: a única pessoa que eu me importo é você. - eu sabia o quão verdadeira era aquela frase mas meu pai pareceu levar tudo na brincadeira.
Ele não era o tipo de pai que gostava de se envolver com problemas e uma filha rebelde cujos pulsos estavam todos marcados por cicatrizes de anos era o tipo de problema que ele queria fugir.
- Se afaste de seus amigos. É culpa de suas amizades. Isso que dá ser Maria vai com as outras. Pare de querer chamar a atenção. - e ele saiu me deixando sozinha no quarto. Covarde.
- Ele finalmente começou a te ver como você realmente é. - a frase de minha tutora saiu por seus lábios cantarolada.
- Como eu realmente sou? Quem eu sou? - toquei o espelho em meu quarto com minha mão direita. O espelho se mantinha calmo, algo que era de se esperar, mas eu estava traumatizada demais para continuar encarando meus olhos.
Me preparei para ter os mesmo pesadelos de tortura que vinha tendo há meses quando dormia, eu sabia que algo sairia do espelho, me torturaria e iria embora. E eu sabia que nada me acalmaria após mais uma seção de tortura do que o abraço de minha amiga de infância.
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FRAÇÕES ÍNFIMAS
Novela JuvenilÉ engraçado o modo como eu nunca havia perguntado o nome dela. Uma vez ouvi que algumas pessoas tinham amigos imaginários e que isso era totalmente comum mas o que eu não sabia era que comigo tudo seria diferente. Frações Ínfimas conta a história de...