𝙎𝙩𝙖𝙧𝙠 𝘼𝙙𝙫𝙚𝙣𝙩𝙪𝙧𝙚𝙨: Star Trek

⤷ 𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟐𝟕

Quem precisa de comida quando se tem café? Tudo bem que a barriga dá uma roncada de leve depois de alguns poucos goles, mas nada que o estômago não consiga ignorar.

Alguns minutos extras passados e o projeto da manopla é finalizado. Se não fosse pela ajuda de Scotty eu provavelmente teria quebrado metade do protótipo em razão do descontrole da força física, e a outra metade seria creditada na conta do emocional. A Enterprise agradece pelos buracos internos na fuselagem que nunca existiram.

Analisando a luva robótica pós-produção mais uma vez em torno da mão direita faz com que uma sensação e ar de orgulho me paguem uma visita. Passar por um dilema no campo da consciência é algo perturbador, mas depois que você se entende consigo mesmo tudo volta a fazer sentido. Precisamos apenas ter paciência e aguardar pelo momento certo, sem olhar muitas vezes para trás.

Com a manopla de lado, termino de organizar a bagunça para deixar o quarto da forma que me foi entregue de primeira – já sinto falta das boas noites de sono que se passaram por aqui.

– Stark, está na escuta?

– Hm?

– Aqui fala McCoy. Está me ouvindo? Preciso que venha até a Enfermaria.

Só consigo distinguir a fonte da voz do médico após a segunda tentativa de contato. Estava vindo do interfone à parede.

– Stark. Algum problema?

Me perguntava mais do por quê me chamariam se houvesse algum problema. Apesar de ter desenvolvido uma amizade com os rapazes, eu não era uma tripulante.

– Jim desmaiou e não está respirando.

– Não acredito que um médico renomado como o senhor me ligaria pedindo instruções de RCP.

– Não é hora pra brincadeiras, Stark. Temos 5 minutos antes que o corpo desfaleça permanentemente.

Cinco minutos, ele disse? Isso quer dizer que fazem mais de cinco minutos que Jim está em parada respiratória. O que quer dizer que ele tem 10% de chance de ser reanimado até bater 10 minutos após ter desfalecido. O que quer dizer que...

° Na verdade, ele tem 4 minutos e 25 segundos °

E como isso ajuda?

– Consegue analisá-lo antes de eu chegar lá? – pergunto à IA ao desviar das pessoas no corredor.

Deveriam estar pensando que eu era algum tipo de louca correndo pela nave daquele jeito sem qualquer aviso sonoro de alerta vermelho ou similar, mas as impressões alheias nunca tiveram menor valor do que agora.

° A análise já está em andamento. Tudo indica que James Kirk foi envenenado. Há uma substância tóxica em seu organismo °

– Substância tóxica? E como isso foi parar lá? É algum quadro de intoxicação alimentar?

° Tenho uma aposta de que a criatura Camaleão é responsável pelo feito °

– Pensei que tivéssemos exterminado todas elas.

° Não há sinal de mais Camaleões neste setor da galáxia. Entretanto, muitas coisas aconteceram depois que você desligou em Humble VI, Stark °

– Tá, depois você me conta. Só me fala o que devo fazer pra reviver o Jim – termino de descer as escadas que davam acesso ao andar da Enfermaria.

° O dr. McCoy efetuou todas técnicas conhecidas de reanimação para situações de emergência, mas não tem a ver com casos de obstrução respiratória comuns. Kirk foi intoxicado por cianeto. Será necessário sintetizar um antídoto de Hidroxocobalamina °

– Precisamos correr contra o relógio. Onde está o sr. Spock?

° Ponte de comando °

– Certo.

Com os movimentos calculados para evitar desperdício de milésimos, passo direto pela porta da Enfermaria, rumo ao laboratório científico mais próximo.

– Me ligue com o doutor e apronte a fórmula.

– McCoy. Onde raios você está?

Quanta eficiência.

As luzes do laboratório são acesas assim que adentro o local. Não havia cientista algum trabalhando por ali no momento, o que facilita por não ter que dar explicações sobre minha presença.

– Laboratório Científico. Techno diagnosticou intoxicação por cianeto, vou sintetizar um antídoto de Hidroxocobalamina para que--

– Liguem-no ao oxigênio 100%. Enfermeira, traga uma dose de Vitamina B12.

– Está tudo bem? Qual a situação? – tento manter o tom de preocupação sob controle.

– Saia do laboratório e venha pra Enfermaria.

– Mas o antídoto--

– Escute, Stark: Hidroxocobalamina, tiossulfato de sódio, B12, não importa a porcaria do nome agora. Como você não é médica, não me surpreende o fato de não saber que é tudo a mesma coisa pra essa situação. Não há tempo pra aula de medicina por telefone, então quer fazer o favor de parar de me fazer perder tempo? Venha pra Enfermaria, ou então volte a brincar com aquelas malditas máquinas no seu dormitório.

E a linha cai. Sem mais nenhuma resposta. Sem qualquer outra instrução médica ou falatório em sussurro dos pobres enfermeiros. Simplesmente surge o silêncio do outro lado do comunicador.

Respiro fundo umas três vezes antes de voltar a pronunciar qualquer palavra. O tom de voz do médico junto a urgência do resgate – acompanhado de outros minúsculos fatores dispensáveis de citação – fez com que uma pequena agitação crescesse dentro de mim.

– Tech?

"Frequência cardíaca sendo estabilizada. Não se preocupe, ele ficará bem", é o que ouço em forma de conforto do meu assistente pessoal.

Vendo que a situação na Enfermaria estava sob controle, passo um tempo apreciando a mobília do laboratório, tendo o braço apoiado em uma das bancadas. Mal notara estar em contato direto com o banco de metal abaixo, mas isso não parecia ser uma informação relevante para o cérebro processar. Ele estava muito ocupado se concentrando em manter as chamas queimando apenas por dentro para não causar um incêndio no ambiente em volta.