- Você tem certeza que ela estava fazendo o olhar? Porque, como estava no fim da tarde, a luminosidade devia estar diferente, e você pode ter confundido o olhar de "me beije" com o olhar de "o sol está entrando nos meus olhos" ou "tem alguma coisa no seu dente, mas não consigo dizer o que é". Ou talvez tenha sido o olhar de "essa garota me perseguiu quando era adolescente e Deus sabe o que pretende fazer comigo agora, nesse vagão abandonado. Socorro".
Suspirei. Paul ainda não tinha abandonado a ideia de que Aster estava, naquele exato momento, nos denunciando para a polícia.
- Eu já te disse que ela ficou lisonjeada.
- Isso é o que ela quer que você pense, enquanto ela aparece na sala do delegado de Squahamish.
- Paul. – Me inclinei para frente e segurei seus braços. Estávamos sentados de pernas cruzadas na cama dele, um de frente para o outro. Um prato cheio de tacos de salsicha estava entre nós, equilibrado em um edredom. – Eu preciso que você foque.
- Ok. Me desculpe. – Ele endireitou os ombros e respirou fundo, tentando se livrar da ansiedade. E do inevitável medo da cadeia. – Então, você tem certeza que foi o olhar, certo?
- Sim. Certeza absoluta.
- O que significa que ela queria que você a beijasse?
- Exatamente. – Soltei seus braços, satisfeita por ter conseguido fazer com que ele entendesse.
- Então porque você não a beijou? – Ele arqueou as sobrancelhas para mim, enfiando um taco de salsicha na boca. Tive vontade de agredi-lo.
- Você sabe! – Praticamente gritei, dando leves tapas em seu braço que segurava o taco. Flocos de milho se esfarelaram pela cama, e ele fez uma careta.
- É a segunda vez que você me bate hoje. Acho que você precisa de ajuda profissional para lidar com seus ímpetos agressivos – Ele reclamou enquanto limpava os farelos de taco caídos pelo lençol.
- Muito engraçado. – Mostrei a língua para ele. – Quero dizer que a sua voz ficou na minha cabeça como um papagaio. "Não deixe a Aster dependente de você". "Você vai voltar para a cidade grande e ela vai ficar aqui". Porque você tinha que acordar a minha consciência?
- Porque eu sou um cara sensível. – Ele se defendeu. – Ellie, você devia estar feliz. Aster queria te beijar. Aster queria te beijar. Você achava que ela só queria uma amiga legal ou um ombro para chorar, mas na verdade ela queria, digamos, um pouco mais.
- Eu sei! – Bufei, deitando na cama e puxando um travesseiro para colocar sobre o meu rosto. Não queria que ele visse o quão vermelha eu tinha ficado. – Mas de que isso adianta se eu não posso retribuir?
- Bom, poder, você pode – Ele concluiu, e eu me levantei tão rápido que fiquei tonta.
- Ah, agora você me diz isso? Eu devia te matar. – Caminhei até a janela, abrindo-a e colocando o rosto para fora. Precisava de ar.
- Eu falei para você tomar cuidado. Se vocês derem uns amassos cuidadosos...
- Não adianta mais, Paul – Suspirei, encarando as estrelas que cobriam o céu limpo de Squahamish e sentindo pena de mim mesma. – Eu estraguei tudo.
- Não diga isso. Volte aqui, coma mais alguns tacos.
Ah, o clássico Paul. Achava que tudo, absolutamente tudo, poderia ser resolvido com comida. Virei-me para ele, ainda apoiada na janela, e sorri para o seu rosto inocente.
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Fugas e Retornos
FanfictionEllie deixou sua cidade natal para estudar e nunca mais voltou. Oito anos depois, uma tragédia a chama de volta ao lar, de onde Aster Flores nunca saiu.