3.

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- Você realmente não tinha ideia de que ela estava chateada com você? - Paul me perguntou. Ele estava deitado em minha cama, jogando uma bolinha de tênis para cima e para baixo. Tinha me acompanhado até a minha casa depois do enterro e, como sempre fazíamos quando éramos adolescentes, tinha ficado para o jantar.

Enquanto eu tirava o cochilo dos merecedores, pois não dormia há mais de 24 horas, Paul e meu pai cozinharam todas as iguarias chinesas que poderiam ser feitas com os ingredientes da dispensa. Eu odiava admitir, mas eu amigo já sabia cozinhar as receitas do meu país natal muitíssimo melhor do que eu. Depois de fazer a melhor refeição da minha vida em muito tempo, Paul e eu subimos para o quarto, onde ele se jogou na minha antiga cama para esperar o tempo passar. Fiquei feliz de ver que meu pai não tinha mexido em um centímetro da decoração - ou falta dela.

- Não, eu não tinha ideia. Achei que ela nem lembrava que eu existia. E você não me alertou. - Eu estava sentada em minha escrivaninha, de pernas cruzadas, tentando me concentrar no computador. Nenhum e-mail do trabalho parecia importante, mas eu tinha recebido um pedido do meu chefe para escrever uma matéria sobre as minhas origens. Acho que quando comentei que passaria a semana na minha cidade, ele havia interpretado que eu iria para a China.

- Cara, isso é estranho. - Ele se sentou na cama para pensar melhor. - Normalmente sou eu que não entendo as coisas, e você me explica.

- É, eu sei. - Ri da sua cara de incredulidade. - Você nunca me contou nada dela.

- Você nunca perguntou.

- Porque eu via que ela ainda estava com Trig.

- E? - Conversávamos rápido quando um de nós estava nervoso; como havíamos treinado no ping pong, anos antes.

- E isso queria dizer que ela não tinha cumprido a parte dela do acordo, então não estava na hora de eu cumprir a minha.

- Ellie - ele balançou a cabeça, suspirando. - Ela disse que ia "descobrir quem era". Ela não disse que ia "terminar com Trig, se descobrir gay, ligar para Ellie e pedi-la em casamento".

- Eu sei - Revirei os olhos. Apesar de ter gostado da hipótese descrita por ele. - Mas se ela tivesse realmente descoberto quem era não estaria com ele. Poderia até estar com outro homem. Mas não ele.

- Como você pode ter tanta certeza?

- Porque eu sei quem ela é. - Dei de ombros. - Eu a conheci por meio das cartas.

- Hum. - Paul se ajeitou na cama, sentando mais para a beirada, onde conseguia me olhar mais de perto. - Você ainda a ama?

Sim.

- Não sei. - Pigarreei. - Talvez.

- Então você tem uma semana para se reaproximar dela.

- Às vezes penso se não devia ir embora amanhã - confessei, pois seria muito mais fácil fugir de tudo agora que eu já tinha aparecido no enterro e cumprido a minha obrigação.

- Você não faria isso com seu pai - Paul respondeu distraidamente, voltando a mexer na bola.

- Não entendi.

- Ele está muito feliz com você aqui. - Sorriu para mim. - Na verdade, ele acha que toda a sua infância e adolescência foi um grande trauma por ter feito você se mudar para os estados unidos e pela sua mãe ter morrido. Ele acredita que você odeia estar em casa porque teve uma vida ruim aqui, em parte por culpa dele. Por ser chinês e operador de trens.

- Ele não teve nenhum controle sobre a morte da minha mãe. Ou sobre sermos chineses.

- Muitas vezes nos sentimos culpados por coisas que não controlamos - Paul respondeu, demonstrando o quanto tinha amadurecido ao longo dos anos; mas eu estava em choque demais para demonstrar meu orgulho.

Fugas e RetornosOnde histórias criam vida. Descubra agora