Essa não era a primeira festa do Post à qual eu ia, mas Tobby tinha definitivamente se superado dessa vez. Nós nunca alugávamos salões muito grandes, até porque a equipe não era das maiores – verdade seja dita, nós não éramos o The New York Times. Normalmente reservávamos o salão de algum restaurante famoso em Downtown Manhattan, um que não fosse turístico o suficiente para cobrar o dobro do preço por seus drinks, mas que ainda fizesse os convidados se sentirem na grande selva de pedra. Algo como "eu vendo minha alma para o trabalho e por isso quase não tenho vida social, mas pelo menos posso beber na conta da firma uma vez por ano no centro de Nova Iorque, a cidade onde todos querem estar". Eu não caía nessa – a propaganda dos Estados Unidos de terra prometida poderia ter enganado meus pais e os arrastado para cá, mas para mim esse país era só mais um, e um que gastava mais dinheiro em armamento do que em saúde pública, diga-se de passagem. Quando mais andávamos pelo salão, mais eu me sentia inadequada no meio de todas aquelas pessoas extremamente formais – homens de terno, gravata e sapato todos nos mesmos tons de preto, cinza ou marrom, mulheres de vestido longo, salto alto e cabelos presos em diferentes e elaborados tipos de coque, tranças ou cachos que enfeitavam seus rostos cobertos por maquiagens brilhosas. É claro que Aster parecia se encaixar perfeitamente, mas meu vestido simples e cabelo apenas jogado para um dos lados denunciavam que eu não tinha passado nem um décimo do tempo me preparando para aquela noite. Por um segundo me arrependi de não ter deixado Aster fazer a minha maquiagem – ou até mesmo Margot -, mas eu sabia que no segundo em que sentisse uma camada extra de química sobre a minha pele ficaria incomodada pelo resto da noite. Enquanto eu andava salão a dentro segurando a mão de Aster, nossos dedos tão apertados uns nos outros que as pontas já deveriam estar roxas e sem circulação, percebi que não precisava de nenhum estresse extra naquela noite. Torci mentalmente para não ter que passar tempo demais conversando com meus colegas de trabalho, como Margot.
No entanto, pensar nela foi como manifestá-la na minha frente, pois poucos segundos depois ela surgiu a poucos centímetros de mim e Aster. Seu sorriso sumiu na mesma velocidade em que apareceu quando seus olhos viajaram de mim para ela, e então de nossos rostos para nossos dedos entrelaçados. Eu apenas sorri para ela e fiz menção de me afastar, mas Aster me segurou no lugar, sorrindo com todos os dentes e dando um passo a frente.
- Prazer – Ela esticou a mão para Margot, antes mesmo que eu pudesse fazer alguma apresentação oficial. – Sou Aster. Você e Ellie trabalham juntas?
- Margot.
Minha colega de trabalho respondeu, correspondendo ao aperto de mão sem muito entusiasmo e piscando devagar. Ela também estava muito arrumada, e devo admitir que o decote em seu vestido poderia ter sido uma leve distração se eu não estivesse tão focada em evitar que Aster ficasse desconfortável.
- Somos melhores amigas – Ela continuou, e eu me controlei para não discordar em voz alta. – Tenho certeza que ela mencionou.
- Ah, claro. Ellie disse que você nos daria carona hoje, mas acabamos nos atrasando porque eu tive que trocar de vestido um milhão de vezes e perguntar a ela até me decidir pelo que eu queria. Por favor, nos perdoe.
Aster sorriu levemente com o canto dos lábios, e eu não podia acreditar na sua cara de pau. Ela só tinha experimentado um vestido, até porque era o único que ela tinha trazido de Squahamish. Ela só queria que Margot soubesse que ela estava na minha casa e que ela tinha trocado de roupa na minha frente. Eu me senti mal por Margot, mas ver Aster sendo ciumenta e possessiva comigo me dava uma alegria que era difícil de evitar, e tive que controlar o sorriso.
- Espere... Aster, você disse? – Margot perguntou, adotando uma expressão de dúvida enquanto ela ligava os pontos. – Você é a Aster da matéria? A paixão adolescente da Ellie, do mesmo fim de mundo onde ela cresceu?
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Fugas e Retornos
FanfictionEllie deixou sua cidade natal para estudar e nunca mais voltou. Oito anos depois, uma tragédia a chama de volta ao lar, de onde Aster Flores nunca saiu.