7.

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Paul e eu passamos a noite inteira limpando a estação, correndo para que conseguíssemos terminar tudo antes do trem da manhã. Encontramos antigas luvas de jardinagem entre as caixas antigas do meu pai e as usamos para recolher os maiores pedaços de vidro, enrolando-os em jornais velhos antes de descarta-los. Não fizemos nada com relação ao sangue, pois boa parte tinha sido absorvida pela terra, e não tinha mais como limpá-lo. Paul mencionou algo como sangue ser um adubo, mas só consegui sentir pena das plantinhas que cresceriam em meio ao DNA terrível de Trig. Imaginei folhas crescendo com o cara dele, e logo em seguida visualizei seu nariz quebrado em cada mini rosto das plantas, e foi uma visão perturbadora. Também foi relativamente fácil recolher os bastões de sinalização e demais objetos que o marido de Aster tinha jogado para fora da cabine; felizmente, nenhum estava quebrado. A parte mais difícil foi livrar os trilhos e os pequenos espaços de terra e grama entre eles dos cacos menores, praticamente invisíveis. Tentamos usar o aspirador de pó, mas só conseguíamos aspirar terra. Depois de muitas tentativas falhas, resolvemos apenas jogar bastante terra em cima de todo o espaço que ainda poderia conter vidro. De qualquer forma, ninguém em sã consciência pisaria ali descalço. Às vezes, a única forma de consertar uma coisa errada é fazendo mascarando-a com processos reparativos.

Quando os primeiros raios de sol se deitaram sobre Squahamish, eu e Paul sentamos dentro da cabine de controle, juntos, tremendo de frio por termos passado a noite inteira do lado de fora. Durante a atividade, o movimento constante nos manteve quentes, mas agora estávamos batendo os queixos e com as pontas dos dedos roxas embaixo das unhas. Apoiei a cabeça em seu ombro, sabendo que tínhamos pouco tempo; em alguns minutos, meu pai sairia pela porta, pronto para sinalizar o trem da manhã. Paul apoiou a cabeça de volta na minha, tendo que dobrar seu pescoço consideravelmente devido à nossa diferença de altura. Não sei quanto tempo ficamos assim, mas foi reconfortante. Eu sabia que se fechasse meus olhos naquele momento, poderia adormecer de verdade. Estávamos exaustos, embora ainda um pouco agitados por conta dos eventos da noite anterior. A agitação de Paul era positiva: estava muito satisfeito por ter acertado o soco em Trig – em algum momento da madrugada, ele admitiu para mim que teve certo receio do homem conseguir desviar de seu golpe, ou de tentar revidar. Novamente, argumentei que ele estava bêbado demais para conseguir qualquer uma dessas coisas. Por vezes ele interrompia o trabalho, trazia o punho fechado para perto do rosto e encarava os nós de seus dedos, sorrindo. Eu sorria de volta, feliz pela sua conquista. E também feliz com a lembrança de Trig gemendo de dor no meu gramado. A minha inquietação, por sua vez, tinha origem em uma sensação horrível que não queria ir embora. Já era difícil imaginar Aster com esse homem quando ele era apenas um adolescente idiota, mas inofensivo. Eu não podia imaginar o que era tê-lo em casa em sua nova versão adulta, ciumenta e descontrolada.

- Você acha que ele faz isso com frequência? – Perguntei a Paul, ainda com a cabeça recostada em seu ombro. Ele cutucava as próprias unhas, e soltou uma risada antes de me responder.

- O que? Aparecer bêbado na casa de mulheres que estão saindo com a esposa dele?

- Não. – Soltei o ar com força, cansada demais para brincar. – Beber dessa forma. Perder o controle. Acha que ele faz isso em casa?

- Eu não sei, Ellie. Não sei mesmo. – Paul suspirou, seu ombro subindo e descendo embaixo da minha cabeça. – O casamento deles foi bonito e ele parecia genuinamente feliz. Eles passaram a lua de mel em algum lugar com praia, porque Aster voltou bem corada e com cara de saudável. Mas nos últimos anos eu não tenho a visto muito. Ela está sempre no restaurante da família. Dizem que ela vai aos eventos corporativos da família do Trig, mas eu não saberia dizer, porque nunca fui convidado.

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