9.

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Aster saiu do lago primeiro. Como eu tinha tomado a iniciativa na chegada, achei que merecia ficar um pouco para trás e observá-la sair da água, ainda que só por poucos segundos. Ela pisou na grama fria e logo abraçou seu corpo com os braços, dando pequenos pulinhos até onde eu tinha deixado as toalhas. Apertou o cabelo para que o excesso de água caísse no chão enquanto secava o rosto com as palmas das mãos. Quando se enrolou no tecido felpudo, virou-se para mim, sorrindo. Eu ainda estava com água até o pescoço.

- O que está olhando, Ellie Chu?

- Você. – Respondi, simplesmente. Ela sorriu mais ainda. – Você devia tirar o seu sutiã.

- O que? – Ela arregalou os olhos para mim, ficando instantaneamente vermelha.

- Para não ficar doente. – Ri da timidez dela enquanto saía da água. Ela esticou a minha toalha para mim. – O tecido encharcado grudado na sua pele vai te dar mais frio. É melhor você colocar direto a blusa seca.

- Você só está falando isso para me ver sem sutiã – Ela me olhou com intensidade, mas logo depois fez o que eu havia sugerido. Por baixo da toalha, infelizmente.

Depois de vestidas, nos sentamos em uma das pedras maiores para comer os doces de feijão que eu tinha levado. Aster tinha prendido o cabelo molhado em um rabo de cavalo, mas o couro cabeludo úmido ainda fazia com que ela tremesse de frio. Entre uma mordida e outra, ela esfregava as palmas das mãos ou cobria os dedos com a manga do casaco, soprando ar gelado pela boca. Eu estava lidando melhor com a situação. Em Nova York fazia muito mais frio do que em Squahamish, e eu tinha aprendido diferentes formas de reter calor – por exemplo, você sabia que uma meia muito quente é muito mais importante do que uma luva? Também tinha o calor crescente no meu peito devido às lembranças de alguns minutos antes. Definitivamente, também tinha isso.

Cheguei mais para perto dela e passei meu braço pela sua cintura. Aster apoiou a cabeça no vão do meu pescoço, encostando o nariz gelado na pele logo abaixo da minha clavícula e me fazendo tremer com o toque. Segurei suas mãos entre as minhas; ela realmente estava morrendo de frio. Comecei a me sentir culpada por ter sugerido justamente aquele passeio.

- Acho que a gente devia ir embora, Aster. Você está congelando.

- Podemos ficar só mais um pouquinho. – Ela murmurou contra a minha pele, sua respiração fazendo cosquinhas no meu pescoço. Meu coração pulava como louco; eu nunca tinha me sentido assim. – Quando você volta?

- Eu não sei. – A pergunta me pegou desprevenida. Ainda que eu quisesse voltar, não poderia pedir novas férias tão cedo. – Mas você pode ir me visitar.

- Quem sabe. – Ela falou baixo, como se estivesse pensando.

- Você vai deixar o Trig? – Perguntei, porque queria deixar Squahamish pelo menos sabendo que ela não dividiria a casa com um bêbado maluco. Ela se retraiu com a minha pergunta, levantando o rosto do meu ombro, mas continuou do meu lado.

- Sim. – Respondeu, encarando as próprias mãos, largadas em cima de suas pernas. Parecia uma decisão muito difícil, o que eu não entendia. – Não vou ficar com ele depois do que ele fez com você.

- Isso não é um bom motivo. – Balancei a cabeça. – Você tem que deixa-lo porque você não quer estar com ele. É simples assim.

- Eu nunca realmente quis estar com ele, Ellie. – Ela suspirou. – Foi só mais uma daquelas coisas que você faz porque acha que é a coisa certa a fazer. E, conforme o tempo foi passando, era só mais fácil estar com ele do que me movimentar para mudar tudo. Deixa-lo vai ser difícil, porque o meu pai vê o divórcio como o pior dos absurdos. Se nem o homem separa o que Deus uniu, imagine a mulher.

Fugas e RetornosOnde histórias criam vida. Descubra agora