Capítulo 2

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Mike

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Mike

Minha mente parece ser incapaz de se desligar, mesmo que meu corpo fatigado implore por um pouco de descanso. Não tinha visionado o meu retorno ao lar desta forma, com esta atmosfera quase fúnebre causada pela minha incapacidade de diferenciar o que é realidade do que não passa de lembranças horríveis de meses que eu desejava poder esquecer.

No momento em que abri os olhos e me deparei com luzes brancas incômodas, pensei que estivesse morto. Muitos dos meus colegas acreditavam que o Paraíso seria assim, branco, ofuscante e indecifrável, mas também diziam que tudo deveria ser silencioso, o que não era o caso. Havia um apito irritante vindo de algum lugar perto da minha cabeça e muitas vozes, que pareciam agravar a dor horrenda que eu estava sentindo.

Estava desorientado e aflito, longe de estar pronto para partir sem antes reencontrar a minha família, e só consegui respirar com calma quando escutei uma voz suave e familiar dizer:

— Mike...

Sou trazido de volta à realidade quando novamente ouço o meu nome saindo dos lábios da mulher que, embora eu não consiga mais demonstrar esse sentimento, eu amo.

Temo ter sido pego em flagrante velando o seu sono, mas Liz permanece dormindo, um sono agitado semelhante ao da noite que antecedeu a minha partida para a guerra. Minha esposa continua usando as mesmas roupas de antes e está agarrada ao meu travesseiro, mas são os seus olhos que chamam a minha atenção, mesmo que estejam fechados, pois percebo que estão inchados e que há um rastro molhado abaixo deles. Posso estar perturbado, mas não sou um covarde e sei que a culpa pelo seu estado é toda minha.

O alívio que enxerguei nos olhos de Elizabeth quando me viu acordar naquela cama fria de hospital, misturado à alegria nítida que havia contagiado médicos e enfermeiras que torciam pela minha recuperação, mexeu comigo de uma forma quase sufocante. Em vez de me sentir igualmente feliz e grato por aquela nova chance, acabei acometido por uma dor tão forte que me fez querer chorar. A guerra havia me destruído por dentro e me marcado com punhaladas profundas, que me transformaram numa casca vazia, num guerreiro descarregado de sua força.

Eu já não era mais digno de ser o marido da minha doce Lizzie.

— Mike...

Seu protesto fraco, o sussurro cansado de uma mulher que suportava a dura carga de cuidar sozinha de uma casa, de um negócio e de um filho, está me corroendo além do tolerável, por isso decido deixá-la em paz e encosto novamente a porta do seu quarto, do nosso quarto.

Sei que sou uma farsa e um ser desprezível por condenar a pessoa mais doce e amável deste planeta a permanecer ao meu lado, então talvez eu deva apenas deixá-la ir.

Estou a poucos passos do quarto de hóspedes quando me lembro dos olhos tristes do garoto que continua sendo o meu bem mais valioso. Uma dor causada por mim, pelo homem que jurou jamais permitir que alguém o machucasse.

[DEGUSTAÇÃO] P.s.: continuo pensando em vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora