Alone

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(Guilherme)

Era hoje, mal dormi a pensar como tudo tinha que ser perfeito. Vesti o melhor conjunto de roupa que encontrei passada dentro do armário (aquilo estava mesmo uma confusão), pôs um relógio e aquele perfume cheiroso. Acho que passei demasiado tempo ao espelho, até parecia uma rapariga antes de um baile, exceto a Joana, claro. Porém, estava muito nervoso e piorou quando olhei para o relógio. Bolas, já estava atrasado!
Tinha tudo aquilo que precisava comigo, ia ser perfeito, mas como sempre estraguei tudo aquilo que havia de bom na minha vida.
Eu fui o culpado do divórcio dos meus pais, eles estavam sempre a discutir, nunca se amaram, era só para ser uma noite. A minha mãe engravidou e os meus avós expulsaram-na de casa quando souberam. Sem saber o que fazer e com uma cria a viver dentro dela, negou-se a matar uma vida e a única hipótese era falar com o meu pai. Depois de muita confusão lá em casa, os meus avós paternos decidiram ajudar e os meus pais foram viver juntos. Passado uns anos casaram-se e aí, quando tinha os meus cinco, seis anos, as discussões começaram a ficar sérias. Eu fui o culpado da minha mãe nunca poder ter acabado os estudos até aos 30 anos, onde licenciou-se em gestão (o seu sonho), de ter saído de casa, das discussões, do divórcio, do meu mau comportamento e más notas, até conhecer a Joana, e claro tive que estragar tudo agora.
Como é que eu sou tão burro?! Bolas, talvez seja melhor assim, ela não merece alguém como eu... mas eu não a posso perder, não agora!


A Joana sabia provocar-me. Fiquei passado quando a minha XuXu beijou o João e ainda teve a lata de me olhar enquanto encostava os lábios naquele cretino! João eu gosto muito de ti, ok?! Mas ELA é MINHA! E era isso que ia mostrar a todos, mas fiz porcaria como sempre. Estava tudo planado, ia ser perfeito. Por que raio é que elas tinham que ser tão parecidas?!
A Joana tinha dito que não aguentava mais e já estava a ficar com dores de barriga de tanto rir com as macacadas dos rapazes. Então calculei que ela tinha indo à varanda apanhar ar. Estava um breu horrível, então com confiança agarrei-a pela cintura e beijei-a. Quando toquei nos lábios dela sabia que estava alguma coisa errada, os meus nervos aliados à escuridão levaram-me a cometer um dos maiores erros da minha vida.
Quando a porta de casa se abriu e eu vi a Joana ali especada à minha frente, o meu mundo caiu. Uma lágrima solitária caiu-lhe, por aquelas bochechas rosadas que tinham virado pálidas, como se o meu ato e o frio da noite lhe tivessem cortado a alma em dois. A cara dela não mostrava nenhum sentimento, mas eu aprendi a lê-la pelos olhos. Estava destroçada, mas mais do que isso estava desiludida, assim como chegou foi-se embora. E eu tinha acabado de magoar a pessoa mais importante da minha vida. Senti uma ardência no rosto tinha acabado de levar um estalo da rapariga que ainda tinha nos braços. A Inês disse-me com toda a repugnância e razão:

- És mesmo estúpido!


Aquelas palavras não me saiam da cabeça, eu era tão imbecil, tenho que ir atrás dela! A Joana saiu de casa e eu só conheço um sítio para onde ela iria, ou pelo menos só me veio este à cabeça. Estava frio, mas tinha parado de chover e o céu estava limpo, viam-se algumas estrelas, pena que para mim o único brilho suficiente de me captar a atenção só me queria longe, bem longe. Passado dez minutos, cheguei lá. Fiquei atrás de uma árvore e ouvia soluços, não sei o que me partiu mais vê-la em casa ou agora. Enroscada numa ponta do baloiço, olhava para o horizonte enquanto aquelas lágrimas teimosas insistiam em cair. Calmamente, sentei-me na outra ponta. Num leve e meio que envergonhado (ela estava com vergonha de mim?!) sussurro, pediu-me para me ir embora.


Estávamos assim há cinco minutos, já não aguentava mais! Estava a ser a pior tortura de sempre, vê-la sofrer por minha culpa e não poder fazer nada. A cada segundo o meu coração partia em mil pedaços, só por saber que eu causei tudo isto. Deslizei para o lado dela, passei o meu braço à volta do seu pequeno e frágil corpo e encostei as nossas cabeças. "Saí", disse-me ela como se fosse um desconhecido, os seus olhos estavam distantes, frios, como a noite, e brilhantes, como o luar. Não, estava a perdê-la. Não! Não! Não consigo aguentar saber que ela me odeia, é demasiado para uma pessoa tão fraca como eu. Então, fiz a única coisa que me lembrei: beijei-a. Ela debateu-se, recusou-se e até chegou a tentar bater-me. Talvez não tenha sido um dos meus melhores momentos, mas eu entrei em stress, ok? Quando viu que eu não ia parar por nada cedeu e assim que toquei nos braços dela houve um choque térmico, ela estava gelada. Rapidamente, parei o beijo, tirei a sweat e dei-lha.

- Não quero nada teu. - Ok agora já chega! E assim desabei, o meu mundo já o tinha feito não havia motivo para continuar a lutar. Ela de relance olhou para mim e assustou-se quando me viu a chorar também. Era tão bom tê-la nos meus braços, encostou-se em mim, com a cabeça no peito, era como se ela estivesse a tentar ouvir a dor do meu coração. Ela estava à espera que eu dissesse algo, então numa voz baixa, cheia de remorso, dor e culpa, contei-lhe quase a minha vida toda.
Desde os meus pais não querem saber de mim e darem-me dinheiro, para preencher o tempo e carinho que não desperdiçam comigo, ao meu comportamento e o porquê de ter, acidentalmente, beijado a Inês. Só deixei de fora a parte em que lhe ia pedir em namoro. Se ela me desse outra chance, teria muitas oportunidades para lhe dizer o quanto gosto dela e como ela é importante para mim.

- Eu percebo se não quiseres nada comigo, diz e eu vou-me embora agora e nunca mais me vês à tua frente. Já tens demasiado para te preocupares, não precisas de mim para nada. - Foi aí que ela pela primeira vez, desde que eu tinha começado a falar, que se desencostou do meu peito e olhou-me nos olhos. Como eu tinha saudades daqueles olhos cor de mel, estava à espera que ela me dissesse algo quando senti a sua mão fria no meu pescoço e os seus lábio gélidos contra os meus quentes. Éramos sol e lua, gelo e fogo, ou seja, nósss.... nós complementamos-nos... é estranho eu sei, mas não consigo explicar melhor. Não por palavras, nem por mil gestos, nada consegue explicar o quão confuso e complexo este sentimento é.


Tinha tantas saudades dela, do cheiro dela, da fricção dos nossos lábios, das nossas mãos explorarem cada ínfimo detalhe do outro corpo... saudades de como as minhas mãos encaixavam nas suas curvas. Parecia que nunca tinha visto beleza tão radiante, o que não deixa de ser verdade. Desde que ela foi contra mim, eu sabia que ela ia tornar-se no meu mundo. Estava tão envolvido pelo momento, que assim que os nossos lábios se separaram (maldita falta de ar!) eu sussurrei um "amo-te", ela assentiu. Num ápice, levantou-se e foi a caminhar num passo rápido, em direção a casa. Corri atrás dela e pus-lhe a sweat pelas costas.
Talvez tenha sido cedo demais e com tudo aquilo que acabou de acontecer não a posso julgar. Eu disse-lhe que a amava, mas será que isso é mesmo verdade? Será este sentimento, que me aperta o coração sempre que me lembro dela, amor?

Why me?Onde histórias criam vida. Descubra agora