New year

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(Guilherme)

Passaram-me seis dias, 140 horas e aproximadamente 8400 minutos desde a última vez que vi a luz da minha vida. Não mandei mensagem e ela também não fez questão de falar comigo. Talvez precise de tempo, assim como eu, mas a cada segundo, morro mais um bocadinho de saudades. O seu rosto angelical, o cabelo loiro, ainda me lembro de cada curva do seu corpo e o quão bem a minha mão encaixava naquela Deusa. Desde os sorrisos tímidos, às lágrimas que lhe causei, tudo faz-me lembrar dela, até quando como. A forma como reclamava da cantina e todas as vezes que almoçávamos fora para não morrer à fome. Em 24 horas, 10 tento fazer alguma coisa de jeito enquanto ela me assombra a mente. Cada palavra, cada pensamento, cada ato, implora para que eu lhe ligue, que rogue o seu perdão. O orgulho é uma coisa tramada e já deu para ver que nenhum de nós está disposto a descer a guarda. Bolas!


Estou atrasado, é o que faz não parar de pensar no meu XuXu, mas ela não é minha. Ela nunca quis sê-lo, se ela quisesse não me tinha partido. Quando ela disse aquelas quatro palavras o meu mundo desabou, eu à menos de uma hora tinha dito que a amava! Eu amo-a! E ela não me ama, a minha melhor amiga partiu-me.
Bem, faltam quatro horas para a passagem de ano. Estou no Porto, a minha querida mãe teve que vir tratar de uns negócios e eu tenho alguns bons amigos do meu antigo colégio. Antes eu vivia com a minha mãe no Porto, mas como ela está sempre a viajar para fora, mudei-me para casa do meu pai. Por isso, eu vim no sábado e foi bom, deu para organizar as minhas ideias. Se tivesse ficado em Lisboa não tinha ido resistir e sem me aperceber de certeza que ia bater à porta da Joana.
Abriu uma discoteca nova, toda a malta vai lá ter e eu tenho mesmo que correr, ainda vou passar no jantar de negócios.

- Hei, o que é que se passa contigo? Estás completamente em Plutão, qual é a gaja? - Perguntou-me o meu melhor amigo. Eu e o Gabriel já nos conhecíamos desde bebés, uma vez que, os nossos pais eram amigos e parceiros de negócios. Para além disso, sempre fomos da mesma turma. Quando eu me mudei para Lisboa, ele bem quis ir comigo, mas ao contrário dos, os pais dele são muito protetores. Só o deixam ir hoje à noite porque vai comigo, senão seria uma tortura convencê-los. Porém, quando o Gabi se revelou como gay eles aceitaram muito bem, coisa que me surpreendeu.

- Vamos lá fora. - disse, puxando-o por um braço. Faltavam noventa minutos para a meia noite e combinamos às onze na discoteca que era mesmo aqui ao lado. Resumi rapidamente o drama todo com a Joana e o quão estúpido eu fui. Ouvi mais barbaridades do Gabi do que da musa, enquanto ia relatando. Ia levando uns empurrões ou socos quando o meu ato era mesmo digno de uma anta.
- És mesmo imbecil! Vamos. - Ups! Com isto tudo faltavam 5 minutos para a hora combinada. Despedimo-nos e rapidamente desaparecemos dali.


Faltavam meia hora para a passagem de ano. Já tinha saudades da malta do colégio, eles são muito calmos ao contrário das gentes de Lisboa. A discoteca cada vez enchia mais, mas ninguém me captava a atenção. De repente, chegou um grupo de raparigas, muito animadas, e no final, duas ou três, puxavam pelo braço uma loira com um vestido vermelho, curto, com um decote por toda a extensão das costas. Parecia que vinha contrariada.  Não lhe consegui ver o rosto, mas fiquei interessado na pequena. Malditas luzes! Estava no segundo andar, ela parecia uma formiga (muito bonita) no meio da multidão. Decidi descer, aquilo estava uma enchente!
No meio de muitos encontrões e cotoveladas lá desci e sentei-me num banco, ao lado do bar. Fiquei a assistir a dança dos corpos suados, a forma como se moviam ao som da música. Já estava a ficar com sede e pedi uma garrafa de água fresca.


Enquanto ia dando pequenos goles na garrafa, apreciei a beleza daquela discoteca. O Dj no meio da multidão numa plataforma circular, empregados vestidos de preto a servirem amostras de bebidas grátis. As paredes eram gigantes com mais de 10 metros, onde se iam dividindo em andares diferentes. Enquanto que no rês-do-chão era uma pista gigante, os outros andares eram redondos, mas igualmente cheios. Estava tudo muito bem decorado, utilizaram paletas de cores pretas e cinzas, dando as luzes uma animação e contraste fantástico. Porém, o melhor era a dança constante de corpos, com as suas bebidas na mão. Saltavam, pulavam, dançavam, tudo com uma animação incrível.

- Faltam 5 minutos para a virada da noite! - avisou Dj. Bolas! Já estava aqui há demasiado tempo, tenho que subir e ir ter com eles.
Assim que me levantei, a pequena de costas para mim, pediu uma bebida qualquer ao empregado. Assim que pus a mão no seu ombro senti um arrepio que só sinto com uma pessoa. Não podia ser!
- Joana?!
- Gui?!

Fiz aquilo que melhor sei. Agarrei nela e levei-a para um sítio calmo tínhamos muito para falar desde da última vez que nos encontramos. Assim que chegamos à parte de fora da discoteca ela começou a reclamar.
- Mas o que é que te deu? Eu estou acompanhada, elas vão perguntar por mim.
- Pois, mas agora estás comigo, manda-lhes uma mensagem. - Ela agarrou no telemóvel e lá mandou a porcaria da mensagem. Estava com tantas saudades. Até me tinha esquecido do seu rosto. Parecia mais velha, primeira vez que tinha visto a XuXu de maquilhagem e ehhhh lá! Ela estava de saltos?! Esta não pode ser a XuXu! - Joana o que é que se passou? Estás... uau! - Ups, fiquei sem palavras. Aposto que corei! Bolas! Tinha tantas, mas tantas saudades. Era tão difícil entender o que éramos, o que somos...
- Estou diferente, não estou?! - Anui. - Eu sei, elas obrigaram-me. Se fosse por mim não tinha saído.
- Se não fosse por elas não estavas agora aqui e assim eu não podia dizer o que sinto por ti.
- Como assim o que sentes por mim?! Como se sentisses alguma coisa por mim. Se realmente gostasses, não me tinhas deixado como deixaste na sexta. Não tinhas ido embora...

- Hei, hei! - disse, colocando cada mão numa bochecha, puxando o seu rosto para cima, ela estava gelada. A Joana tinha uma mania horrível: abaixava sempre a cabeça quando estava com vergonha ou triste, coisa que eu odiava. - Eu goto de ti. Ouviste-me?! Eu realmente gosto de ti, não sei que porra é que fizeste, mas eu não consigo deixar de pensar em ti. Tudo o que faço, em tudo o que toco, TUDO me faz lembrar de ti! Até quando estou a dormir. Por favor, diz-me que eu sou um louco e que não sentes o mesmo, porque eu já não aguento mais.
"Dez segundos para a virada do ano!" - anunciou o Dj dentro da festa.
- Talvez não sejas assim tão doido, ou então eu também o sou. - Sussurrou ao pé do meu ouvido, mesmo com maquilhagem deu para ver que ficou vermelha como o sol, como a estrela da minha vida.
- Pede um desejo! - E assim que a agarrei pela cintura e encostei os nossos lábios, milhares de fogos de artifício rasgaram o céu. A sincronia das nossas bocas dançantes, o ritmo marcado pelas nossas mãos e o ambiente noturno cheio de cor, tornou este momento tão inesquecível como todos os que passo ao lado da mulher da minha vida. A pele dela estava fria, as mãos navegavam entre o meu pescoço e o meu cabelo, onde ia dando umas ligeiras puxadas, controlando o beijo. Estava perfeito, maldita falta de ar! Assim que nos separámos estávamos ofegantes e ouvi a única coisa que não estava à espera, mas que desejava loucamente:
- Amo-te...
- Desculpa acho que não ouvi bem, repete lá de novo!
- Imbecil. - Entre um "mini-murro" no braço e a risada mais perfeita voltamos outra vez a acariciar as nossas bocas. Eram viciantes, sempre que começávamos era difícil parar. Era como beber água salgada, sempre queremos mais. E eu nunca estava satisfeito nem ia ficar. Nunca ia enjoar do seu cheiro, do seu corpo, da sua forma de falar e de andar, do seu estilo, das suas manias. Eu nunca iria ficar farto dela, porque eu amo-a.


Durante este período percebi que tenho que aceitar e lidar com os meus sentimentos. Não posso andar para cá e para lá, sinto, depois não sinto nada, mas depois volto a sentir, não! Eu gosto dela, mesmo muito e vou fazer de tudo para que ela seja feliz, para que nós sejamos felizes.
- Anda, tens que conhecer os meus amigos. Vais adorar o Gabriel!

Why me?Onde histórias criam vida. Descubra agora