Sorry

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Eu não acredito no que acabei de fazer, corri dali, tenho que chegar a casa o mais rápido possível. Precisava de ar, não consigo respirar, estou a começar a ver tudo turvo, os meus joelhos, está a ficar tudo escuro... senti uma mão na minha cintura mesmo antes de apagar.

- Hei, hei. Joana! - Ótima forma de ser acorda: a receber "mini-estalos". Mas que raio é que aconteceu?! - Ainda bem que acordaste, ficaste sem respirar e desmaiaste, foi mesmo no último segundo que te segurei. Anda vamos para casa!
- Para, mete-me no chão! - ordenava enquanto o imbecil carregava-me estilo noiva. Mas ele é doido ou só mesmo imbecil?
- Nem pensar! Acabaste de desmaiar, vais assim até chegares ao teu quarto! - Bolas! Com o que ele acabou de fazer, como é que ele ainda quer saber de mim e como é que eu deixo? Tenho que admitir que estar nos braços dele é uma sensação maravilhosa... ok agora sou eu que estou doida! JOANA! Ele acabou de te trair, ahhhhhhh tudo é tão complicado!


Passados uns bons dez minutos, que pareceram segundos no colo do Deus Grego (ahhh eu devia de estar chateada), chegamos a casa. Num ápice ele pôs todos na rua, enquanto eu trocava de roupa e vestia uma das minhas sweats fantásticas. Ouvi alguém a bater à porta e deixei entrar, era a Inês. Eu não estava chateada com ela, aliás eu e o Gui não somos donos um do outro, mas queria saber o que ela tinha para dizer. Realmente, a história bateu mais ou menos com o que o imbecil disse. Talvez ele não estivesse a mentir. Porém, neste momento era tão difícil acreditar. Uma parte diz confia e a outra diz que ele me traiu, mas mais uma vez eu não sou dona dele.


Entretanto, estava sentada na cama a olhar para o nada, a Inês tinha ido embora e acabei por não perceber se o Gui também fora. Eu sei, que tenho que me levantar e ir fechar tudo, pelo menos, mas estou tão bem aqui. Lá reuni forças para me levantar e fui à sala. Ninguém por perto e tudo estranhamente arrumado. Quando fui à cozinha, mas que raio?! Estava o Gui apoiado na bancada a beber um copo de água, calmo, perdido a olhar para o nada, como eu estava à dois minutos. Fiquei a estudá-lo. Era tão perfeito, o maxilar defendido e que corpo! Só posso estar doida, maluca! Estou a babar? Claro que ele percebeu que eu estava ali especada a olhar para ele.

- Ahmmmm, desculpa eu dei um jeito nisto enquanto a Inês falava contigo, espero que não te importes.
- Não há problema, obrigada! Ah, já agora, não tens frio? Aqui tens a tua sweat. Entreguei-lha, num ápice, até dizia que ele tinha superpoderes ou alguma coisa do género, ele rodou-me e encostou-me à bancada. Não consegui ver-lhe a cara, já que estava de costas. Ele prensou-me ainda mais contra a parede e colou completamente os nossos corpos.
Passou a mão pela cintura, pôs-me o cabelo atrás da orelha e fez aquilo que eu mais amo, deu um ligeiro sopro pelo meu pescoço, com uns beijos molhados pelo meio, parou no lóbulo e mordeu-o de leve. Mesmo não vendo a cara dele eu sabia que ele estava magoado, sentia-se pela respiração e a forma como o seu coração batia nas minhas costas, estava completamente descontrolado. Num pequeno sussurro disse-me:

- Eu sei que estás magoada e não te posso dizer o quão arrependido eu estou. Chama-me nomes, bate-me, faz o que quiseres, eu mereço. Espero que me perdoes, eu não me podia sentir pior. Não te vou justificar aquilo que não tem mais justificação, eu faço aquilo que for preciso para que voltes a ser minha.
- Eu nunca fui tua. - Será que lhe acabei de partir o coração? Provavelmente sim, porque o coração dele falhou, assim como o meu. Eu precisava disto, aliás eu pensava que precisava. Queria que ele sofresse como eu sofri, queria que ele sentisse a dor, o pânico, a angústia de ver alguém que se gosta, a escorregar pelos dedos, como arreia seca e pálida. Mas eu não me senti melhor, pelo contrário ainda fiquei pior. Bolas! Pela segunda vez no mesmo dia, desabei. Lá comecei, outra vez, a chorar. Já mencionei o quanto eu ODEIO chorar?! Ainda por cima ao pé de outras pessoas.


Assim que ele se apercebeu, sentou-me em cima da bancada e deu-me um abraço de urso, que me ia esmagando.
- Desculpa bebé, desculpa. - Ia ele comentado palavras doces, no meu ouvido, enquanto tentava acalmar-me.
Ficamos assim por bastante tempo até que ele descolou-se, ligeiramente, de forma a que os nossos rostos ficassem, relativamente próximos. Devia de estar horrível, cheia de olheiras e com os olhos inchados.
- Estás melhor? Mais calma? Há bocado tiveste um ataque de pânico e não quero que tenhas outro.
- Estranho, nunca tinha tido nada do género. Obrigada, acho que já estou melhor. - disse tentando sair do seu aperto, mas ele segurou-me com mais força. Tirou um colar do bolso. Era tão lindo, tinha um pendente em forma de infinito na ponta e a corrente era fina, frágil, mas não muito leve. Talvez ouro branco ou prata?! Não sabia bem. Apaixonei-me logo por ele. Quando ia para lhe tocar, ele tirou-mo de vista e juntou o meu cabelo num lado para o pôr.

- Quando o vi na loja pensei em ti, como se isso já não acontecesse a toda a hora... - Sussurrou muito, muito baixinho, mas eu tenho um bom ouvido. Quer dizer que ele também pensava em mim? Já estou a imaginar coisas! - Se não gostares podes sempre ir trocar, deixei o talão de troca ao pé das outras prendas.- Encostou as nossas testas, os nossos narizes tocaram-se, já estava a ficar sem ar, eu precisava daquele beijo, eu sei que não é correto, mas ele atraí-me de uma maneira que nunca nenhum conseguiu. Quando estávamos quase a encostar os lábios, sentia a respiração quente e húmida sob a minha pele gélida. Precisava daquele conectado íntimo, mas ele afastou-se. NÃO! Deu-me um beijinho na testa! Um beijinho! Eu precisava da conexão física, precisava de sentir as mãos dele na minha cintura, de ter as minhas a vagar pelo seu cabelo escuro e liso, precisava dele. De voz rouca e baixa disse-me "Feliz Natal" e foi-se embora.


Sem mais nem menos deixou-me ali especada, sozinha e destroçada.

Why me?Onde histórias criam vida. Descubra agora