De volta ao meu quarto a minha cabeça dá voltas, o vinho e a adrenalina são misturas perigosas, eu nunca pensei que fosse capaz de matar alguém, nem alguém como ele, mas eu gosto da sensação. O gosto da vingança é doce, o melhor que eu já provei. Observo meu reflexo no espelho, ainda sou eu, mas ao mesmo tempo não sou mais quem eu costumava ser. É como dizem, você não sabe do que é capaz de fazer até fazer.
Meu vestido está cheio de sangue e há sangue espalhado pela minha pele, mas eu estranhamente não me sinto suja, apenas diferente. Vermelho combina comigo.
Tiro primeiro minhas jóias, então meus sapatos e por fim meu vestido, mergulho na banheira que havia preparado e observo o vermelho carmim se misturar a água lentamente, até tudo ter um tom mais opaco de vermelho. Quando fecho meus olhos consigo me lembrar da sensação de segurar uma arma, do gelado do metal, do peso dele e do formigamento nos meus dedos depois de atirar, é um sentimento poderoso, diferente de qualquer coisa que já experimentei. Posso ver a cena segundos antes dele morrer e como isso me fez sentir bem, como fazer justiça com as próprias mãos é bem melhor do que sentar e esperar que o universo aja.
Michele Morrone. Meu mais novo cliente, se é que ainda posso chamá-lo assim, é cercado de tanto mistério, de tanto poder, porque ele faria isso comigo? Porque ele se interessaria pela minha vida, minha história, meus traumas, meus demônios? Ele me libertou de um demônio, acreditou que eu era capaz, que eu era forte como ninguém jamais acreditou. Eu me sinto em divida, como se eu fosse a cliente agora e talvez eu fosse mesmo.
Eu me pergunto intermináveis vezes porque eu, logo eu? O que eu tenho de especial para alguém tão poderoso quanto ele? Ele é podre de rico, tem o mundo aos seus pés, pode ter quem quiser a hora que quiser, e de alguma forma ele me escolheu para estar aqui na sua casa, ao seu dispor, mesmo que ele não tenha me tocado desde que cheguei. O que ele quer de mim afinal?
Saio do banho me sentindo mais leve, mas a adrenalina e o álcool ainda correm pelas minhas veias. Visto uma lingerie preta de renda transparente, cinta-liga, salto alto preto e solto meus cabelos. Saio decidida, de cabeça erguida, já se passou quase uma hora desde o ocorrido, ele deve estar no quarto agora. Bato em sua porta, não digo nada e ela se abre logo depois, Morrone me fita curioso, me observa da cabeça aos pés e antes mesmo que ele possa falar algo, eu o empurro, fecho a porta e me viro para ele
- O que você está fazendo? - Morrone pergunta, está apenas com uma calça de moletom cinza baixa, tenho todo seu tronco a minha disposição. E, Deus, como ele é lindo.
- Agradecendo. - O empurro até sua cama, até que se sente nela e fico de joelhos na sua frente.
Morrone não tem mais nada a falar, apenas me deixa agir, e eu rapidamente o faço. Abaixo sua calça e ele está sem cueca, eu mordo os lábios, excitada como nunca e logo o tenho em minha boca. Eu lambo, chupo e o empurro até o fundo da minha garganta e posso ouvir seus gemidos, Morrone segura meus cabelos com força, empurra minha cabeça para baixo. Mantenho o ritmo até senti-lo escorrer pela minha boca, só então paro e nossos olhos se encontram, ele parece uma bagunça excitada e eu sorrio contente.
Quando me viro, Morrone me puxa para si, seus olhos negros estão queimando, ele me beija com vontade, como se quisesse me devorar inteira e talvez realmente queira. Os beijos me enlouquecem, me deixam ardendo, Michele me joga na cama e rasga minha calcinha de uma vez só, feito um lobo faminto que acabou de encontrar sua presa. Ele abre as minhas pernas, passa sua língua pela parte interna das minhas coxas até chegar quase lá, Michele chupa a parte interna e beija, eu sinto que vou explodir de tesão.
- Por favor. - Eu imploro gemendo, Morrone sorri convencido, transbordando luxúria.
Sua boca chega lá e ele me chupa com vontade, passa a língua, me beija, me enlouquece. Eu gemo como se estivessimos sozinhos em uma ilha, sinto tanto prazer e estou tão excitada que transbordo e preciso colocar para fora, deixá-lo saber. Seguro em seus cabelos negros e o trago para mim, entrelaço minhas pernas em volta da sua cabeça e me contorço sentindo sua língua me tocando com maestria, suas mãos grandes e fortes apalpam meus seios por cima do sutiã, até que eu dou um jeito de tirá-lo. Com os seios livres, não demora para que Morrone os agarre, um em cada mão e me leve ao delírio, eu quase gozo se não fosse Morrone parar e se desvencilhar das minhas pernas, ele vem para cima de mim, seu rosto é o puro retrato da luxúria.
Sua boca loga encontra a minha, em um beijo faminto para que eu sinta meu próprio gosto na sua língua, finco minhas unhas nas suas costas sem dó e me esfrego contra ele, louca para senti-lo em mim. Sua língua desce pelo meu pescoço, lambendo até entre os meus seios e abocanha um deles, seus olhos grudados nos meus e tudo que eu consigo fazer é gemer, sentindo tanto prazer que chega a ser agonizante, Michele chupa e beija como se fosse a coisa mais saborosa do mundo e eu tento me tocar lá em vão, ele afasta minha mão e me olha firme, como se estivesse com raiva e segura minhas mãos acima da minha cabeça, abre minhas pernas e em um segundo está mergulhando inteiramente dentro de mim.
Solto um gemido de deleite por finalmente senti-lo, finalmente ser preenchida por ele, daquele jeito com força e duro. Pressiono minhas pernas em seu quadril e gemo alto, em plenos pulmões, sem ligar para nada, como se só nós dois e aquele momento existisse. Morrone geme afundado com força e cada vez mais rápido para dentro de mim, eu imploro para ele ir com mais força, gemo e choramingo em agonia conforme o prazer se intensifica até que eu chegue ao meu limite e Morrone também, ele solta um último gemido rouco enquanto o sinto se desfazendo dentro de mim. Michele não me solta, uma de suas mãos continua segurando meus pulsos acima da minha cabeça e sua cabeça se encaixa na curva do meu pescoço, seu corpo pende para cima do meu e nossos batimentos e respirações rápidos entram em sintonia.
Ficamos assim por alguns minutos, até que tudo volte ao normal e Morrone desliza para o meu lado na cama, eu observo-o de canto de olho, seu peitoral definido e cheio de tatuagens subindo e descendo calmamente, só assim, tão de perto que consigo enxergar algumas marcas na lateral do seu tronco, marcas que parecem ser de balas e meu peito se inunda de algo que eu nunca senti antes e que me encheu de medo.
Quando foi que nos perdemos na linha entre cliente e prostituta? Eu não sabia dizer, mas parecia distante demais agora.
Deitada de lado na cama, virada para Morrone, toco suas cicatrizes com a ponta dos dedos delicadamente como se ainda doessem, ele vira a cabeça para mim em silêncio, seus olhos me encontram daquele jeito; frágil, entregue, desnuda. Não precisamos conversar para entender o que está acontecendo ali, entre nós dois, nós sentimos e só precisamos disso agora. Vivemos em dois mundos completamente diferentes, mas temos algo em comum: nunca amamos ou fomos amados. Somos dois lobos solitários nessa imensa floresta fria e assustadora.
∆
Acordo de manhã sozinha na cama de Morrone, o sol inunda o quarto, mas me sinto fria e solitária. Não há nenhum sinal da noite passada, tudo parece um grande sonho borrado agora. Levanto-me da cama e tomo um banho rápido no banheiro majestoso de Morrone, a água quente escorre pelo meu corpo e junto dela uma parte de mim também se vai.
Visto minha lingerie e estou saindo do quarto quando Elisa entra, para surpresa e sorri em minha direção.
- Não sabia que a senhorita estava aqui. Me desculpe. - Elisa se sente envergonhada, mas com certeza não mais que eu. Tento em vão me cobrir com minhas mãos. - Sr. Morrone não me avisou.
- Me desculpe, Elisa, eu que não devia estar aqui. - E não devia mesmo, passar a noite no quarto do "chefe" não era nada profissional, se é que ainda exista algum profissionalismo de ambas as portes.
Saio o mais possível do quarto de Morrone e corro para o meu, lá tranco a porta e suspiro, fecho os olhos e a primeira coisa que vem a minha cabeça é "o que diabos eu tô fazendo?". Ontem a noite foi tudo exagerado, nada daquilo foi certo, nada daquilo deveria ter acontecido. Aquela não era eu, mas quem sou eu para saber? Eu me perdi há anos no personagem de Angel, a prostituta, para saber distinguir quem era a verdadeira Margot. Ela ainda existia?
A adrenalina da noite passada passou e agora tudo que sobrou foi o medo, o suor gelado e o nervosismo. A polícia descobriria? Quantas pessoas me viram apertar o gatilho? Morrone era poderoso até que ponto?
Minha respiração se perde e meu coração bate dolorosamente apertado contra meu peito. Com quem eu me menti? Quem realmente era Michele Morrone? Pego meu celular em cima da cama e mesmo com a visão embaçada pelas lágrimas consigo ligar para ele, meu salvador.
- Phillip? - Digo assim que atende, estou morrendo de medo, assustada e tremendo. Agora posso ver tudo com clareza e não é nada bom.
- Querida, está tudo bem? - Phillip pergunta preocupado.
- E-eu... Eu fiz algo muito ruim. - Consigo dizer, as lágrimas caem livremente conforme me lembro da cena no jardim de Morrone. Deus, como eu queria que tudo aquilo não passasse de um pesadelo.
- Eu não entendo. - A ligação falha um pouco do outro lado. - Você está na casa do Morrone?
- S-sim. - Digo com a voz embargada. - E-eu preciso sair daqui.
- Eu vou pedir para alguém te buscar imediatamente, fique onde está. - Eu assinto como se ele pudesse me ver. A ligação cai e eu tento respirar fundo para me acalmar.
Estou ficando louca aqui, depois de tudo que aconteceu na noite passada, não posso passar nem sequer um segundo aqui. Começo a arrumar minhas malas, recolho todos meus pertences e visto apenas uma calça, uma blusa simples e tênis. Estou na porra da Itália, longe de todos que conheço, não sei para onde ir ou o que fazer, mas aposto todas minhas fichas em uma idéia que vem a mente. Não é a mais brilhante ou elaborada, mas pode me ajudar a sair daqui.
Enxugo minhas lágrimas e lavo meu rosto, tento passar alguma maquiagem para disfarçar e desço rapidamente. Tento encontrar Etorre, mas a casa parece mais uma mansão fantasma, quando finalmente o avisto no jardim fumando perto da piscina, o chamo e ele se vira e sorri alegremente na minha direção.
- Você foi corajosa ontem. - Etorre me parabeniza com tapinhas no ombro. - Preciso dizer que até eu duvidei de que você era capaz. - Eu engulo a seco, tento empurrar as memórias para o fundo da minha mente e trancar-las lá, é mais seguro.
- Eu também. - Sorrio nervosa. - Estava pensando em fazer compras hoje. - Etorre arqueia as sobrancelhas sobre seus óculos escuros, joga o cigarro no chão e pisa em cima.
- É minha forma favorita de comemorar. - Ele sorri por fim e sinto um ligeiro alívio percorrer pelo meu corpo, feito morfina. - Acho que meu primo não vai se importar se eu te roubar um pouco.
- Ele está em casa? - Pergunto nervosa, não sou a melhor mentirosa quando estou sob pressão.
- Sim, mas tem alguns assuntos para resolver. - Etorre dá de ombros. - Apenas burocracia, nem tudo são sequestros e tiros. - Ele brinca e solta uma risada alta e eu tento sorrir, mas tenho certeza que parece mais uma careta de medo. Que porra de família é essa?
∆
Meu plano da meio certo, consigo escapar da mansão com Etorre, mas saímos em um carro preto blindado com dois homens de preto, tento manter a calma e agir normalmente, mas minhas mãos soam gelado e tenho que me conter para não demonstrar todo meu nervosismo. Etorre não ajuda muito, ele tagarela demais sobre como foi a primeira vez em que atirou e sobre a adrenalina que sentiu, isso me deixa ainda mais enjoada.
Chegamos em uma rua movimentada, cheia de lojas de grife e pessoas chiques e bem arrumadas caminhando com suas sacolas de compras e celulares nas mãos como se fossem muito importantes. Eu tenho vontade de sair correndo, mas não posso, não agora. Os seguranças descem conosco e mantém uma pequena distância de nós, ambos são altos e fortes, não teria chance contra eles. Etorre me leva para um grande loja de grife italiana, normalmente estaria em deleite, mas não consigo me concentrar nas coisas que vejo ou no que ele fala.
Etorre me arrasta de loja em loja, pergunta sobre minhas cores favoritas, tipos de sapatos, jóias, cortes de saias e vestidos e eu respondo tudo no piloto automático enquanto cuido para ver se os seguranças estão perto de nós ainda. Horas intermináveis se passam e não acho sequer uma brecha para fugir ou me esconder, Etorre está grudado em mim, em algum ponto entrelaça seu braço no meu e me arrasta para um restaurante, já é de tarde e não comi nada ainda, mas meu estômago está embrulhado. Etorre pede algum prato chique italiano que não me interessa e apenas finjo comer algo, por sorte ele não repara muito.
Minha chance surge quando Etorre diz que vai ao banheiro, estou pronta para dizer que também vou e tentar fugir dali, mas então seu celular toca e seu sorriso antes alegre some e de repente ele fica calado e nervoso. Não consigo entender sequer uma palavra, ele fala em italiano com quem quer que seja, mas desliga o celular e faz sinal para os seguranças.
- Temos que ir agora. - Etorre diz, se levanta com pressa, mal olha para mim.
- O que aconteceu? - Pergunto preocupada. A polícia está investigando algo? Isso me deixa ainda mais nervosa e enjoada, não consigo esconder minha preocupação.
- Não faça perguntas agora, temos que ir. - Etorre larga notas altas em cima da mesa e sai andando apressado, tento acompanhá-lo até o carro.
Não consigo arrancar nada de Etorre, ele faz algumas ligações durante o percurso de volta para a mansão de Morrone, mas não dirige sequer um olhar para mim. Estou a ponto de surtar, não sei o que fazer, não tenho como escapar e se conseguisse, para onde eu iria? Estou na Itália e não conheço nada daqui além da mansão.
Quando finalmente chegamos, Etorre pula para fora do carro apressado, fala em italiano com os seguranças, parece muito irritado. Desço para fora do carro, corro para dentro da casa e lá na entrada está Morrone, suas veias parecem prestes a explodir e ele está gritando ao telefone, quando seus olhos pairam sobre mim, ele para.
- Arrume as suas coisas. - Ele tem raiva na voz e nos olhos, isso me assusta. Ele descobriu que quero fugir? Como?
Não faço perguntas, corro para o meu quarto e pego minhas coisas, não há mensagens ou ligações perdidas no meu celular, ninguém para me salvar. Tento ligar para Phillip, mas está ocupado. Merda.
Em questão de segundos ouço barulho de carros, vozes, gritos e tiros. Eu tremo da cabeça aos pés, não consigo tirar meus pés do chão, até que percebo que tenho que fazer algo. Corro para o andar de baixo, apesar do medo, pode ser minha única chance de escapar daquela fortaleza. Há pessoas estranhas atirando do jardim e os seguranças de Morrone atirando de volta, uma arma cai no chão e eu a pego sem pensar duas vezes, faço a volta na casa pelo jardim dos fundos, tentando me esconder.
Escondida nos arbustos, avisto Morrone atirando contra três homens, um deles atira em seu braço, Morrone cambaleia para trás, mas consegue se recuperar e acerta um deles na cabeça, ele ainda está em desvantagem. Tremendo, me levanto e atiro, quase levo um tiro, mas consigo correr para perto de Morrone, nós dois tentamos combater os outros dois homens desconhecidos, acerto o que estava na minha mira e em um milésimo de segundo o outro atira na direção de Morrone, sem pensar duas vezes o empurro com toda minha força e atiro de volta enquanto corro, por sorte acerto o braço do homem e ele perde a arma.
Volto minha atenção para Morrone, ferido no chão, ele tenta manter a pose de sério, mas está sentindo dor. Ele levanta antes que eu chegue para ajudá-lo, me dá um olhar frio e tira a arma da minha mão.
- Eu acabei de salvar a sua vida! - Esbravejo com a adrenalina a mil.
- Isso tudo é culpa sua. - Morrone diz irritadiço, caminha o mais rápido que consegue para o jardim dos fundos.
- Minha culpa?! - Grito atrás dele, estou irritada e assustada. Porque ele não pode pelo menos agradecer?
Michele para abruptamente, vira lentamente para mim e diz entre dentes: - Foi você que chamou eles aqui. - Gesticula apontando a arma para mim, eu tremo, afundo meus pés no chão. Não, não. Eu não fiz isso.
- Eu chamei Phillip. - Tento me explicar, mas Morrone ri em desdém, está vermelho e com as veias a ponto de explodir.
- E você acha que esses caras vieram a mando de quem? - Eu engulo a seco, os olhos arregalados e as mãos suando. O que? Não!
- Phillip é só um empresário! - Eu sei que estou certa, conheço ele, Phillip sempre me ajudou, me apresentou muitos clientes com dinheiro.
- Phillip é a porra de um mafioso! - Morrone explode, meu estômago afunda até o chão. Eu não posso acreditar nisso, eu não quero acreditar nisso.
- N-não, ele sempre me ajudou, me arrumou clientes. - Eu gesticulo nervosa. - Me apresentou você.
- Ele não me apresentou a você, ele negociou você. - Eu paraliso, paro de respirar e meu coração para de bater por alguns segundos. - Ele te ofereceu para mim e mais alguns homens ricos, disse que conhecia uma garota fácil, que faria qualquer coisa por dinheiro, e eu ofereci dois milhões por você.

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La Prostituta
RomanceQuando a prostituição era tudo que sempre conheceu, Angel recorreu a ela como sua profissão. Com anos de profissão, era muito profissional na sua área, sabia como lidar com cada um de seus clientes e até onde se envolver, até que Michele Morrone vir...