O que nasce do ódio?

19 Anos

Capítulo 50

Pov Autora

Dali a três dias seria o aniversário de Ferreiro e depois que falou com Zahir após entregar sua atividade, Macarena seguiu para casa sem conseguir disfarçar o quanto estava abalada. Sua mãe a observa entrar pela porta e se arrastar até o quarto se preocupando com a filha. Após algum tempo, ao perceber que a menina tinha acabado de sair do banho, Encarna bate na porta do quarto perguntando se havia almoçado na escola, o que faz com que Maca minta dizendo que sim. Não estava com fome, nem com vontade de fazer nada... E sua mãe, por estar atenta, percebe a mentira que Ferreiro acabara de contar, mas retorna para a sala onde uma amiga que tinha ido visitá-la a aguardava. As duas continuaram a conversar e Encarna pede desculpas por sua filha que ao chegar em casa sequer cumprimentou a outra moça.

Trancada no quarto e com a cabeça ainda fervilhando mesmo tendo tomado um banho com a intenção de relaxar, Macarena quase liga para Helena a fim de contar o ocorrido com Zahir, mas desiste sentando em sua escrivaninha e observando sua atividade amassada por ela mesma... Seus dedos sentiam a força que Zulema usou ao deslizar a caneta na correção, era possível notar o alto relevo que ficou no avesso daquelas folhas. A menina volta com isso a chorar, mas põe a mão na boca para abafar o som dos seus soluços... Não queria que Encarna escutasse e lhe bombardeasse de perguntas. Assim, quando se dá aquele tempo para ficar triste, a loira pega seu diário que já estava bastante preenchido com sua escrita mas ainda tinha espaço suficiente para que continuasse a utilizá-lo como válvula de escape. Ela pega a caneta e escreve até o entardecer só parando quando sente sua mão latejar de dor... E bem como Zahir fizera em sua correção, Ferreiro também escrevera com muita pressão.

Em seu celular pipocavam mensagens de Fábio perguntando como tinha se saído na avaliação. Ele de fato, como a professora percebeu, havia passado suas respostas para Macarena, mas não todas... Mesmo assim Zulema encontrou meios de ser mais rigorosa na correção que havia feito. Ela não se conteve, afinal, em tentar irritar a loira. Nesse momento, Maca resolve falar com Fábio só depois... Se deitando na cama e caindo no sono apertando um de seus travesseiros contra o peito e se sentindo totalmente perdida.

Pov Macarena

Meu aniversário havia enfim chegado e apesar de ainda estar bem mal pelo que vinha acontecendo na minha vida, tento me forçar a ficar contente pela pequena confraternização que minha mãe planejou fazer. Ela tinha me falado para trazer alguns amigos, e eu convidei tanto Helena quanto Fábio que chegaram pontualmente às 20h. Mamãe resolveu fazer um pequeno jantar com um bolo no final e agora todos já cantavam parabéns para mim. Eu esboçava um sorriso falso nos lábios que acredito que estava convincente, pois Helena que sempre percebia minhas emoções não havia reparado que eu não estava bem, não tinha feito nenhum comentário como sempre fazia ao me ver mal.

E ao olhar para as velas acesas em cima daquele bolo, com o número dezenove me olhando de volta, tudo que eu pensava girava em torno de algo do tipo: '19 anos de muita bosta.', '19 fazendo merda.', '19 anos querendo me enterrar e não sair de debaixo da terra.' Antes de assoprar ouço a voz de Helena baixinho perto do meu ouvido, dizendo:

- Faça um pedido.

Ela estava ao meu lado, do outro havia Fábio, e quem segurava o bolo na minha frente era minha mãe que não parava de sorrir feliz por ver que eu tinha chamado duas pessoas para essa pequena comemoração. A verdade é que ela sabia desde sempre que eu detestava meu aniversário, a data só fazia com que me sentisse pior, e por não ter amigos... Todos esses anos até então só éramos eu, ela e meu pai nos juntando para cortar o bolo que fazia questão de preparar mesmo quando eu dizia que não tinha para que. A diferença agora talvez não fosse somente duas pessoas na sala para dividir aquele bolo conosco, mas também... por alguns instantes, pensei em fazer um pedido. E mesmo me sentindo patética por não acreditar nessas coisas, o fiz.